Diogo Matheus de Souza

A IMIGRAÇÃO JAPONESA VISTA PELO CINEMA BRASILEIRO:APONTAMENTOS SOBRE “GAIJIN, CAMINHOS DA LIBERDADE”, DE TIZUKA YAMASAKI (1980)

Em 1980, a cineasta nipo-brasileira TizukaYamazaki dirige seu primeiro longa-metragem, intitulado “Gaijin, Caminhos da Liberdade”. Produzido pelo Centro de Produção e Comunicação (produtora constituída por Yamasaki, Lael Rodrigues e Carlos Alberto Diniz) em parceria com a Embrafilme, a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa (Bunkyo) e a Igreja Messiânica do Brasil, “Gaijin’foi um filme aclamado pela crítica da época, recebendo o prêmio de melhor filme no Festival de Gramado e uma menção especial do Prêmio FIPRESCI no Festival de Cannes de 1980.

O presente trabalho foi escrito tendo como princípio duas motivações. A primeira delas é a mobilização de temas possíveis para o uso de filmes brasileiros nas aulas de história, algo que envolve o incentivo criado pela Lei 13.006, que determina a exibição de duas horas mensais de filmes de produção nacional nas escolas de educação básica do país (BRASIL, 2014). Articulado com essa proposta, temos a importância em tratar sobre a história da imigração japonesa no Brasil e a presença cultural japonesa dentro da própria cultura brasileira.

Por meio do filme “Gaijin, Caminhos da Liberdade”, de notícias de jornal que circularam no contexto de seu lançamento, de entrevista com a diretora TizukaYamazaki e da bibliografia existente, pretende-se compreender como o filme em análise mobiliza e produz memórias acerca da imigração japonesa, e quais os indícios que nos fornece sobre a construção de uma identidade japonesa no Brasil.

Fonte da Imagem:
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-44249/
Descrição: Cartaz de divulgação em francês de 
“Gaijin, Caminhos da Liberdade”.

No dia 8 de junho de 1908, aporta em Santos o navio Kasato Maru, trazendo 168 famílias do Japão, iniciando oficialmente a imigração japonesa no Brasil (KISHIMOTO; HIKIJI, 2008, p. 145). No início da imigração, na década de 1910, muitos japoneses foram enviados para o interior do estado de São Paulo para substituir a mão de obra escrava nas fazendas de café (MORALES, 2008, p. 17).

Sob o ponto de vista brasileiro, o interesse pela imigração japonesa era suprir a lavoura cafeeira com trabalhadores, em um período em que os países europeus estavam dificultando a vinda de mão de obra subsidiada para a cafeicultura de São Paulo. Havia também a pretensão de abrir diretamente o mercado japonês para o café brasileiro. “Portanto, da perspectiva do Brasil, as relações do governo paulista com o Japão iniciavam-se estreitamente atreladas aos interesses da cafeicultura” (BASSANEZI; TRUZZI, 2008, p. 75).

Sob o ponto de vista japonês, as reformas da Era Meiji durante a segunda metade do século XIX haviam impulsionado a abertura ao Ocidente, acompanhada da emigração de japoneses aos Estados Unidos, sobretudo à Califórnia e ao Havaí. Quando o volume crescente desse fluxo alertou as autoridades estadunidenses, estas convenceram o governo japonês a assinar um “acordo de cavalheiros” que impunha um regime de cotas à emigração, no ano de 1907. Tendo acabado de sair da Guerra Russo-Japonesa, o Japão passava por uma crise econômica que gerou tensões sociais, tensões essas agravadas com o crescimento populacional nas zonas rurais. O Brasil tornou-se, então, um destino de interesse para o governo japonês (BASSANEZI; TRUZZI, 2008, p. 75-76).

Será nesse contexto da chegada dos imigrantes japoneses no Brasil que a narrativa do filme “Gaijin, Caminhos da Liberdade” de Tizuka Yamasaki irá se concentrar. O filme é narrado sob o ponto de vista da personagem Titoe (interpretada por Kyoko Tsukamoto), e que espelha as lembranças que a cineasta tem de uma de suas avós (homônima da personagem) (KISHIMOTO; HIKIJI, 2008, p. 152). A memória, aliás, é elemento constitutivo do filme, iniciando pela fala de Titoe na primeira cena, onde descreve a partida do Japão:

“Ano 41 da Era Meiji. Eu tinha 16 anos e meu irmão queria ir para o Brasil. Como se aceitavam famílias, resolveram me casar com uma pessoa que eu não conhecia. Eu chorei ao deixar a aldeia. Quantos anos já se passaram! Muitas coisas aconteceram, mas agora esse passado faz parte de minhas recordações” (GAIJIN, Caminhos da Liberdade, 1980).

A fala de Titoe aparece duas vezes ao longo do filme, na abertura e em seu fechamento, evidenciando a mediação da memória no processo de construção da narrativa. “Além do recurso à memória familiar, a elaboração do roteiro contou com um trabalho de pesquisa que incluiu a realização de entrevistas com imigrantes japoneses” (KISHIMOTO; HIKIJI, 2008, p. 152).

Sendo neta de imigrantes japoneses, pode-se inferir que na construção de sua narrativa, Yamasaki faz uso daquilo que Michael Pollack define como “memória herdada”:

“Quais são, portanto, os elementos constitutivos da memória, individual ou coletiva? Em primeiro lugar, são os acontecimentos vividos pessoalmente. Em segundo lugar, são os acontecimentos que eu chamaria de “vividos por tabela”, ou seja, acontecimentos vividos pelo grupo ou pela coletividade à qual a pessoa se sente pertencer. São acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, é quase impossível que ela consiga saber se participou ou não. Se formos mais longe, a esses acontecimentos vividos por tabela vêm se juntar todos os eventos que não se situam dentro do espaço-tempo de uma pessoa ou de um grupo. É perfeitamente possível que, por meio da socialização política, ou da socialização histórica, ocorra um fenômeno de projeção ou de identificação com determinado passado, tão forte que podemos falar numa memória quase que herdada” (POLLACK, 1992, p. 02).

Ainda sobre a herança da memória, Aleida Assmann e Linda Short (2012, p. 04) nos lembram de que as memórias individuais não são facilmente sobrescritas e as histórias familiares são muitas vezes preservadas através das gerações por meio da transmissão oral.

No contexto do lançamento de “Gaijin” no Festival de Cannes de 1980, o Jornal O Globo publicou uma matéria sobre o filme, intitulada “Gaijin, Caminhos da Liberdade: A imigração japonesa vista pelo cinema brasileiro” (ANDRIES, 1980, p. 32). No Caderno de Cultura do jornal, fala-se que Tizuka Yamazaki traz para as telas uma “problemática até então desconhecida pelo cinema brasileiro” (ANDRIES, 1980, p. 32). Tal informação pode ser revista, de acordo com Alexandre Kishimoto e Rose Satiko Gitirana Hikiji (2008), que em seu texto “Nikkeis no Brasil, Dekasseguis no Japão: identidade e memória em filmes sobre migrações”, apresentam uma série de produções cinematográfica nacionais que tratavam sobre a imigração japonesa anterior ao filme de Yamazaki. O Jornal O Globo entrevistou TizukaYamazaki, e em sua entrevista ela afirma:

“Minha ideia foi sempre a de falar do sentimento do homem no instante em que ele chega a este país, de sua sensação de se sentir estrangeiro. Tomei como referência o japonês, sem achar, em nenhum momento, que ele estava em posição diferente de outros trabalhadores imigrantes; tomei como referência a minha realidade mais próxima” (YAMAZAKI apud.ANDRIES, 1980, p. 32).

De fato, é perceptível que a diretora do longa busca representar não apenas os imigrantes japoneses e suas dificuldades para se estabelecerem no Brasil, mas também as de imigrantes de outras nacionalidades e de outras regiões do Brasil, como por meio do personagem italiano Enrico (Gianfrancesco Guarnieri) e do alagoano Ceará (José Dumont). Nota-se o preconceito que existe da elite cafeicultora com os imigrantes, havendo situações de maus tratos semelhantes ao trabalho escravo. De acordo com Yamazaki:

“Mesmo nascida no Brasil, sou discriminada, passo a ser estrangeira, destacada pela atenção que dão à minha pele, minhas feições, meu jeito. Então, desenterrando minhas memórias, retornei às histórias contadas por minha avó” (YAMAZAKI apud. ANDRIES, 1980, p. 32).

Importante situar que o ideograma “Gaujin” pode ser traduzido como o homem do lado de fora, sendo caracterizado no filme como uma marca de todos os imigrantes que, por circunstâncias econômicas, políticas, sociais e culturais, tiveram de abandonar seus países ou estados de origem para tentar construir a vida em lugares desconhecidos e distantes (BARRETO, 2014).

A narrativa centra-se nos dois primeiros anos de trabalho de algumas famílias japonesas na fazenda Santa Rosa, de propriedade de um dos barões de café paulista. As gravações aconteceram durante um período de nove semanas, em algumas cidades que compõem a rota dos cafezais – Atibaia, Santos, Paranapiacaba, Campinas e São Paulo -, cidades com grande concentração de imigrantes (BARRETO, 2014).

No decorrer da história da personagem Titoe, Yamazaki apresenta o difícil processo de adaptação dos imigrantes japoneses, como a dificuldade de comunicação, de alimentação, a exploração de seu trabalho como mão-de-obra barata ou pelo endividamento das famílias e o sentimento de frustração das expectativas iniciais de enriquecimento e retorno ao Japão (KISHIMOTO; HIKIJI, 2008, p. 152).

Segundo Maria Silvia C. Beozzo Bassanezi e Oswaldo Mário Serra Truzzi (2008, p. 76), a primeira tentativa de imigração japonesa para o Estado de São Paulo frustrou as expectativas devido a uma série de fatores, vários deles reconhecidos pelas próprias autoridades da época, como: grande número de imigrantes não-agricultores, dificultando a adaptação; unidades familiares que agregavam pessoas não aparentadas entre si; impossibilidade de saldar a dívida relacionada às despesas de transporte em curto espaço de tempo; chegada em um momento em que a colheita já estava adiantada, o que tornou o trabalho pouco rentável.

“Além desses, outros obstáculos contribuíram para o relativo fracasso inicial do projeto de empregar japoneses na lavoura cafeeira: as diferenças de usos e costumes, língua e religião; a desinformação sobre a realidade brasileira (que provocou decepções) e as más condições de alimentação e moradia encontradas em muitas das fazendas” (BASSANEZI; TRUZZI, 2008, p. 77).

No filme, como destacam Alexandre Kishimoto e Rose Satiko Gitirana Hikiji (2008, p. 153), dois elementos relacionados a aspectos políticos da representação chamam a atenção. O primeiro é a centralidade da personagem feminina, Titoe, que após a morte do marido, lidera a fuga dos japoneses da fazenda e passa a criar sozinha sua filha em São Paulo, agora como operária fabril. E isso levando-se em conta o patriarcalismo japonês, presente na fala do marido após saber que teve uma filha e não um filho: “mulher não serve para nada” (GAIJIN, Caminhos da Liberdade, 1980).

O segundo elemento é que o filme descreve as várias formas de exploração do imigrante, enfatizando o controle e a repressão sobre as reivindicações dos trabalhadores, culminando no episódio da deportação da família do imigrante italiano Enrico.

“Os japoneses são representados como alheios à mobilização coletiva, confirmando a imagem que deles tem o fazendeiro: em relação aos italianos e espanhóis eles seriam mais disciplinados e trabalhadores” (KISHIMOTO; HIKIJI, 2008, p. 153). Ao ser questionada pelo repórter do Jornal O Globo se possui “complexo” em relação aos outros brasileiros, “fisicamente tão diferentes de você”, a cineasta Tizuka Yamazaki responde:

“É claro que muitas vezes senti o problema de perto. A começar pela minha carteira de identidade que diz que sou brasileira de cor amarela. Na realidade, os outros é que produzem em nós um sentimento de complexo pelo que somos. Os outros, quero dizer, são certas pessoas que antes de nos ver como brasileiros e seres humanos, nos qualificam pela cor e grupo social” [...] “No Brasil, as minorias formam a maioria e a partir da consciência disto poderemos nos libertar desses falsos conceitos colonialistas” (YAMAZAKI apud. ANDRIES, 1980, p. 32).

Tizuka conclui afirmando que não vê o cinema como um “instrumento útil para traçar um tratado sociológico sobre o problema dos imigrantes no Brasil” e “muito menos para apenas expor os meus problemas existenciais”. Ela resume: “O que eu queria desde o início era prestar uma homenagem ao povo imigrante. Era preciso fazer um filme que tivesse mil caras, inclusive a sua. Acho que Gaijin conseguiu isso” (YAMAZAKI apud. ANDRIES, 1980, p. 32).

Considerações Finais
“Gaijin, Caminhos da Liberdade” de Tizuka Yamazaki representa não só uma homenagem ao povo imigrante por parte de sua diretora descendente de imigrantes japoneses, mas também uma forma de produzir, enquadrar e divulgar uma memória e uma identidade da imigração japonesa no Brasil. Por meio dos relatos de Yamazaki, percebemos que ela possui uma memória herdada de sua avó acerca da vida de imigrante, o que lhe serve como referência para a construção da narrativa fílmica.

A história da personagem Titoe ao longo do filme mostra uma série de dificuldades que os imigrantes, não só japoneses, mas de outras nacionalidades, enfrentaram na sua vinda para o Brasil. Entre essas dificuldades podem-se elencar as más condições de estadia, o endividamento, as precárias condições de trabalho, a exploração de sua mão de obra, entre outras.

“Gaijin” serve como um exemplo de filmes brasileiros que podem ser utilizados nas aulas de história para a discussão acerca da imigração japonesa no Brasil. Com a sanção da Lei 13.006/2014, é importante que existam trabalhos e reflexões que se voltem para o cinema brasileiro e suas possibilidades de interseccionar diferentes temáticas em sala de aula, inclusive sobre a presença da cultura japonesa no Brasil.

Referências
Diogo Matheus de Souza é graduado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da mesma universidade, com bolsa CAPES. Integra o Grupo de Pesquisa “Patrimônio, Memória e Educação” (PAMEDUC), vinculado ao CNPq. E-mail: diogo.m.souza@posgrad.ufsc.br

Fontes:
ANDRIES, André. "Gaijin, Caminhos da Liberdade": A imigração japonesa vista pelo cinema brasileiro. O Globo. Rio de Janeiro, 29 fev. 1980. p. 32-32. Disponível em: <http://midiacidada.org/uma-nipo-brasileira-no-cinema-um-olhar-sobre-a-imigracao-japonesa-no-brasil/>. Acesso em: 15 ago. 2018.
GAIJIN, Caminhos da Liberdade. Direção de TizukaYamazaki. São Paulo: Embrafilme, 1980. (100 min.), son., color.

Bibliografia:
ASSMANN, Aleida. SHORTT, Linda. Memory and PoliticalChange. USA: Palgrave Macmillan, 2012.
BARRETO, Gustavo. Uma nipo-brasileira no cinema: um olhar sobre a imigração japonesa no Brasil. 2014. Disponível em: <http://midiacidada.org/uma-nipo-brasileira-no-cinema-um-olhar-sobre-a-imigracao-japonesa-no-brasil/>. Acesso em: 12 jul. 2018.
BASSANEZI, Maria Silvia C. Beozzo; TRUZZI, Oswaldo Mário Serra. Plantadores do futuro: japoneses em São Paulo na primeira metade do Século XX. In: IBGE. Resistência e Integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. p. 72-89.
BRASIL. Lei nº 13.006, de 26 de junho de 2014. Acrescenta § 8o ao art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para obrigar a exibição de filmes de produção nacional nas escolas de educação básica. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2014/lei-13006-26-junho-2014-778954-publicacaooriginal-144445-pl.html>. Acesso em 09 ago. 2018.
KISHIMOTO, Alexandre; HIKIJI, Rose Satiko Gitirana. Nikkeis no Brasil, Dekasseguis no Japão: identidade e memória em filmes sobre migrações. Revista Usp, São Paulo, v. 79, n. 01, set-nov. 2008. p.144-164, Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/revusp/issue/view/1080>. Acesso em: 08 ago. 2018.
MORALES, Leiko Matsubara. Cem anos de imigração japonesa no Brasil: o japonês como língua estrangeira. Tese de Doutorado. São Paulo: USP, 2008.
POLLACK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 05, n. 10, 1992, p.200-212. Disponível em:
<http://www.pgedf.ufpr.br/memoria%20e%20identidadesocial%20A%20capraro%202.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2018.

26 comentários:

  1. Você concorda com a afirmação de Tizuka Yamasaki quando ela diz que não vê o cinema como um instrumento útil para traçar um tratado sociológico sobre o problema dos imigrantes no Brasil?
    Ronaldo Sobreira de Lima Júnior

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    2. Olá, Ronaldo! Essa é uma ótima pergunta, e confesso que quando li essa declaração da Yamasaki me causou certa estranheza. Embora eu tenha pensado o filme muito mais como uma construção de narrativa e de identidade, e representação de uma memória da imigração japonesa, eu te responderia que não, não concordo com a Yamasaki, até pela forma como ela acaba relegando o cinema a uma posição inferior ao estatuto da teoria escrita, porque se nessa situação em especial ela não pretendia construir um tratado sociológico, eu penso que nem só de textos escritos a produção de teoria precisa viver. As imagens, para mim, tem o mesmo valor e importância. Mas, tudo depende do material, tudo depende da intenção, tudo depende da empiria que existe para se construir um audiovisual (ficção ou documentário). Como eu coloco no texto, a Yamasaki chega a entrevistar imigrantes para a construção do roteiro, há um investimento da diretora em pesquisa para isso. Poderia dizer que, ao contrário da fala da Yamasaki, Gaijin é um tratato sociológico sobre a imigração japonesa no Brasil? Não sei, eu penso que precisaria de mais estudos para poder afirmar isso, e não foi a minha intenção de problema para esse artigo. Mas sobre a sua pergunta em especial, se eu concordo com ela que o cinema não é útil para traçar um tratado sociológico sobre o tema: eu não concordo. Estou aberto, contudo, a contra-argumentos. Obrigado mais uma vez pela leitura e excelente questão!
      Diogo Matheus De Souza

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  2. Boa Noite Diogo, você diz no final do texto que pode utilizar como material para trabalhar a ótica da imigração japonesa no Brasil, concordo e muito com isto, eu recentemente fiz um trabalho sobre a imigração japonesa pós segunda guerra, e como a imigração sobre a ótica da cultura com a vida dos animes no Brasil, foi importante para a dublagem brasileira, dito isto, gostaria de saber a opinião do autor, se usar tanto animes e filmes, seria importante para trazer essa tema para essa geração mais jovem, que é mais conectada com as redes e a internet em si, e como trabalhar a história japonesa no Brasil, pois falta estudiosos para o mesmo em virtude da língua, acha que uma importação do próprio Japão ajudaria?
    Leonardo Irene Pereira Guarino

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    1. Olá, Leonardo! Obrigado pela pergunta, e achei interessantíssima a ideia do seu trabalho! Acredito que animes, filmes, quadrinhos, e todos os tipos de produção cultural podem ser utilizados na pesquisa e em sala de aula para ajudar o/a pesquisador/a e professor/a de História. Em se tratando da história do Japão, tanto do próprio país, como da presença da sua cultura e de seu povo no Brasil, penso que a utilização de materiais como os animes é riquíssima. Muitas crianças e adolescentes tem grande simpatia pela cultura japonesa justamente devido a sua produção cultural. Conheço casos de pessoas que aprenderam a língua japonesa instigadas pelo consumo de animes, jogos e literatura desse país. Recentemente perguntei para uma colega de faculdade que conhece bastante sobre a língua japonesa, “como você se interessou em aprender sobre essa língua?” e ela respondeu que “desde adolescente eu gostava muito de assistir animes, então eu queria saber mais sobre as coisas que assistia, e nada melhor pra você aprender uma língua do que ter um real interesse em conhecer coisas sobre o país no qual a língua é falada”. E sobre uma importação de pessoas do Japão que estudam história japonesa para o Brasil, eu acredito que todo o tipo de intercâmbio é muito bem vindo, tanto de japoneses vindo para o Brasil, como de brasileiras/os indo para o Japão estudar, por meio de incentivos como bolsas de estudos, etc. Grande abraço!
      Diogo Matheus De Souza

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  3. Oi Diogo. Parabéns pelo texto. Coincidentemente nos encontramos novamente num debate, novamente de forma virtual. A pergunta que aqui tenho a oportunidade de lhe fazer é: quais são as maiores problemas/resistências no cumprimento da lei 13.006? Obrigado! Abraço!

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    1. Olá, Maicon! Eu também fiquei curiosa quanto a opinião do autor do artigo. Na minha opinião, primeiramente, são a escassez de material (filmes) de boa qualidade que podemos utilizar em sala de aula, principalmente no cinema atual; em segundo lugar, a dificuldade de encontrarmos os filmes de história, que em sua maioria são mais "antigos", etc... E a sua opinião? Obrigada! Gislaine Vieira

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    2. Olá, Maicon! Que ótimo esse nosso reencontro virtual, fico feliz pela sua atenção e leitura dos meus textos. Agradeço também à Gislaine pelo complemento e pela leitura. Sobre a Lei 13.006, os seus problemas já começam no texto do projeto elaborado pelo Senador Cristovam Buarque. No texto, Buarque enfatiza muito as necessidades da indústria nacional para conquistar um público que consuma seus filmes, mas dá pouco espaço para a escola dentro desse debate. Penso que, ao utilizarmos filmes em sala de aula, a intenção vai MUITO além de simplesmente formar um público consumidor. A ideia não é fazer propaganda, mas justamente contribuir para que as crianças e adolescentes sejam críticos, que conheçam nossas produções culturais e saibam encontrá-las, que se sensibilizem diante da arte, mas que não sejam meros consumidores passivos. Atualmente, nossa indústria cinematográfica tem graves problemas de distribuição. O que normalmente chega nas salas de cinema (que não é exatamente um lugar de inclusão, uma vez que é pago) é uma pequena parte da produção fílmica nacional, e normalmente essa pequena parte ainda é composta basicamente por filmes de comédia popular da Globo Filmes (sem fazer juízos de valor, mas criticando o monopólio no mercado cinematográfico). Essa normalmente é uma resistência à Lei 13.006, quando converso com professoras e professores. Defendo, contudo, que a produção fílmica nacional, de uma forma geral, é muito rica, com muitas possibilidades de uso em sala de aula. Isso infelizmente não circula e tende a ter exibição em contextos muito restritos, como festivais de cinema locais. A Lei 13.006, se for pensada, discutida, debatida, pode ser justamente uma forma de fazer circular essas produções alternativas, independentes, esquecidas dentro da nossa filmografia. É uma longa discussão, e tentei pontuar brevemente alguns pontos aqui para respondê-los. Agradeço mais uma vez pelo interesse. Abraços.
      Diogo Matheus de Souza

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    3. Oi Gislaine e Diogo. Concordo com os argumentos de vocês. Talvez, penso, uma alternativa é o Estado disponibilizar através de um portal digital ou através de DVDs essas obras, selecionadas em concurso por um grupo de professores especializados nas temáticas. Isso permitiria que produções fora de monopólio global tivessem a oportunidade de serem vistas e valorizadas, contribuindo com uma mudança de paradigma e perspectiva perante a produção nacional. O que pensam?

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    4. Acho ótima essa ideia, Maicon! Acredito que a criação de uma plataforma digital de conteúdo audiovisual para estudantes e professoras/es deveria ser uma pauta a ser considerada pelo MEC e pela ANCINE, como um desdobramento da Lei 13.006. Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos/as professores/as é no acesso aos materiais audiovisuais. O salário do professor já é ruim, se ele ainda tiver que tirar do próprio bolso para comprar ou locar filmes para usar em sala de aula, a situação fica ainda mais difícil.
      Diogo Matheus De Souza

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  4. Parabéns pelo texto! Gostaria de saber quais os assuntos ou temas que poderiam ser trabalhados utilizando-se do filme "Gaijin"? para alem da temática "imigração" ou "memória".

    VICTOR LIMA CORRÊA

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    2. Olá, Victor. Obrigado pela questão! Acredito que a imigração japonesa seja o tema chave dentro do filme, e o grande foco da narrativa. Um tema para além disso (mas que ainda deve se inserir no contexto imigratório), em potencial, pode ser as relações de gênero dentro da cultura japonesa, principalmente focando em uma análise da personagem Titoe.
      Diogo Matheus de Souza

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  5. O texto está muito bom, possui muitas informações, a sociedade japonesa muito contribui para o desenvolvimento do Brasil; este modelo social deve ser mostrado e estudado com profundidade pela sociedade brasileira. O cinema eh um forte aliado neste desenvolvimento cultural.Poque não se trabalhar mais o imigrante, sua história e compromisso social com o Brasil?

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    1. Olá, Maurício. Muito Obrigado pelas considerações! Acredito que existem muitos estudos sobre imigração, pelo menos na História. Mas o que percebo é que esses estudos se concentram mais na imigração europeia, principalmente italiana e alemã. Esses estudos são importantíssimos, mas penso que devemos olhar também para a presença de outras culturas dentro do Brasil, incluindo a japonesa, e outras culturas orientais. Curioso que no contexto do centenário da imigração japonesa no Brasil muitos trabalhos surgiram, inclusive boa parte das minhas referências são deste contexto, mas depois disso voltamos a ter uma estagnação no número de pesquisas sobre a imigração japonesa. O ideal seria que essas culturas fossem discutidas e valorizadas sempre, e não apenas em contextos específicos, em situações especiais. Abraços!
      Diogo Matheus De Souza

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  6. Excelente texto! Gostaria de saber se até hoje não existem resquícios dos abusos e sofrimentos vividos pelos japoneses aqui no Brasil?

    João Victor Rodrigues Darriba Fernandes Alonso

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    1. Olá, João! Acredito que esse contexto de abusos e de violência é algo bastante restrito à imigração. Mas, como comenta Yamazaki, ainda existe o intuito de muitas pessoas em diferenciar o outro pela sua cor, raça ou origem. Preconceitos certamente ainda existem. Não sou um grande estudioso da cultura japonesa, esse trabalho foi um exercício da minha parte em tentar compreender um pouco mais sobre esse tema, mas acredito que os japoneses/as se deram muito bem no Brasil ao longo do tempo. Hoje, por exemplo, a gastronomia japonesa é uma das mais apreciadas no país, o mercado brasileiro se abriu muito para a culinária do Japão. É comum também percebermos uma admiração pela inteligência do povo do Extremo Oriente, sua capacidade de disciplina e concentração nos estudos. São estereótipos que se criaram ao longo do tempo, bastante distintos daqueles que existiram ao longo da história da imigração. Abraços!
      Diogo Matheus De Souza

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  7. Excelente texto, só gostaria de saber o porquê, dessas constantes imigração japonesa, o país estava em algum tipo de crise, ou algo assim ?!

    LUCAS DE LIMA FURINI

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    1. Olá, Lucas Furini! Obrigado pela questão! Bom, no início do século XX, o Japão passava por vários problemas internos, como a superpopulação e a questão da fome. Devido a isso, houve primeiramente na época o escoamento de japoneses para a Ásia com o objetivo de ocupar áreas colonizadas na Guerra Russo-Japonesa. Posteriormente esse fluxo se deu para o Ocidente, tendo como principais destinos os Estados Unidos e o Canadá. Em 1924, esses países anglo-saxônicos começaram a ter políticas migratórias restritivas, mais especificamente contra a imigração de asiáticos e de africanos. Naquele contexto, o Brasil foi um dos maiores receptores da população de imigrantes japoneses. Abraços!
      Diogo Matheus De Souza

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  8. Parabéns pelo excelente texto, questiono se o fato de a cineasta possuir uma “memória herdada” de sua avó, de alguma forma poderia ser prejudicial para o desenvolvimento do filme ou a divulgação da história?

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    1. Olá, Luiz! Eu penso que não. A “memória herdada” é um processo natural de transmissão da memória familiar e coletiva. Todos nós temos memórias herdadas, elas fazem parte da nossa constituição da identidade. Já acho difícil deixarmos totalmente de lado as nossas memórias quando vamos operar com pesquisas em âmbito acadêmico, em nome de uma suposta neutralidade. No cinema então nem há essa necessidade. A produção de um filme não costuma ser uma produção acadêmica. É uma obra de arte. A identidade das autoras e autores está ali presente, e isso só enriquece a obra, e consequentemente nos traz muitos elementos para a análise no âmbito acadêmico. Abraços, e muito obrigado pela ótima questão!
      Diogo Matheus De Souza

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  9. Boa noite, Diogo! Excelente texto, parabéns!
    O povo japonês é riquíssimo culturalmente, tem a melhor tecnologia do mundo, entre outros aspectos bastante relevantes. Mas porque em nosso país, esse povo e essa cultura não são tão valorizados quanto aos outros imigrantes como italianos e espanhóis, por exemplo, que recebem um maior destaque principalmente nos livros didáticos?

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    1. Olá, Iris! Pois é, infelizmente as nossas narrativas para com a história do Brasil são ainda muito eurocentradas. Acredito que esse seja um dos maiores entraves para essa ausência da história da imigração japonesa em nossas narrativas. Para você ver, foram necessárias leis que obrigassem o ensino de história indígena e da cultura afro-brasileira para que esses povos fossem lembrados em contextos educacionais. Ainda tende-se a valorizar muito a ideia de uma descendência europeia no Brasil, desconsiderando outros povos, outras culturas, que foram e são tão importantes quanto os europeus em nossa constituição enquanto nação. Abraços!
      Diogo Matheus De Souza

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  10. Olá, boa noite. No seu texto você cita as dificuldades que os imigrantes, não só os japoneses, mas de outras nacionalidades enfrentam quando chegam ao Brasil. Na sua concepção quais são essas dificuldades que os imigrantes sejam os japoneses ou outras nacionalidades enfrentam no Brasil ?

    Paulo Jorge da Silva Lobato

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  11. Ola, como poderia usar o filme em sala de aula? Quais temas poderiam ser trabalhados?

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  12. Boa noite, Diogo!
    Muito interessante seu trabalho. Como você coloca, o filme demonstra as dificuldades enfrentadas também por outros imigrantes. Naturalmente, ele é uma obra útil no estudo da imigração japonesa. Você considera que ele pode ser usado também para se trabalhar a conscientização sobre as migrações contemporâneas, uma vez que várias dificuldades se repetem nos dias de hoje?
    Obrigada,
    Yara Fernanda Chimite

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