Lucas Pereira Arruda

A ÍNDIA DE KIPLING: O ORIENTALISMO NO LIVRO “KIM”

Este breve artigo tem como objetivo discutir a representação do povo indiano no romance “Kim”, assim como do processo colonial inglês na Índia, segundo o método de pesquisa de Edward Said, proposto na introdução da obra “Orientalismo, o oriente como invenção do ocidente” aliado a discussão que o mesmo faz no livro “Cultura e imperialismo”, tentando traçar paralelos entre a produção cultural e intelectual britânica com a expansão imperial ultramarina inglesa.

No século XIX um poder sem precedentes estava concentrado na Grã-Bretanha e França, “e o poderio ocidental possibilitou aos centros metropolitanos imperiais a aquisição e acumulação de territórios e súditos a uma escala verdadeiramente assombrosa”. (SAID, 2011, p.40)
“Juntas Grã-Bretanha e a França controlavam territórios imensos: Canadá, Austrália, Nova Zelândia, as colônias na América do Norte e do Sul, o Caribe, grandes extensões na África, Oriente Médio, Extremo Oriente (a Grã-Bretanha ainda conservará Hong Kong como colônia até 1997) e a totalidade do subcontinente indiano”.(SAID, 2011, p.39)Em 1914 a Europa detinha um total aproximado de 85% do mundo, na forma de colônias, protetorados, dependências, domínios e commonwealths.

O principal argumento que aqui sustentamos é que a dominação imperial se fez em duas vias: uma material e outra simbólica. A busca por lucro através das “especiarias, açúcar, escravos, borracha, algodão, ópio, estranho, ouro e prata” (SAID, 2011,p.44) e principalmente pelo domínio da terra fez com que muitas pessoas ficassem extremamente ricas com o empreendimento imperial. Tal fonte de lucro não poderia ser simplesmente perdida de uma hora para a outra, portanto, era necessário justificar a continuidade e a expansão do império. Para isso as potências imperiais utilizaram de um extenso arcabouço de estruturas de atitudes e referencias que viessem a legitimar o processo imperial. Dentro desse complexo sistema de representação do real estariam as mais diversas formações culturais que exercem grande influência na vida cotidiana dos respectivos países imperialistas. A historiografia, a etnografia, as artes visuais, a música e a literatura são alguns desses exemplos.
O romance, segundo Said, teve um papel central no envolvimento entre cultura e imperialismo, isto porque estamos acostumados a ler os romances e outras produções culturais de forma acrítica, sem vinculá-los a seus momentos históricos nem com o propósito de sua realização.

O romance histórico realista é a forma literária

“mais recente, seu surgimento é o mais datável, sua ocorrência a mais ocidental, seu modelo normativo de autoridade social, o mais estruturado. [...] Dentro dele se encontram tanto um mecanismo altamente preciso de enredo quanto um sistema inteiro de referência social que depende das instituições existentes da sociedade burguesa, de sua autoridade e poder”. (SAID, 2011,p.129-130) 

Na década de 1840, o romance inglês havia alcançado seu predomínio como a forma estética por excelência e grande voz intelectual, por assim dizer, na sociedade inglesa. Ingleses e inglesas moldaram a ideia da Inglaterra de forma a lhe “conferir identidade, presença e formas de expressão reutilizáveis. A Inglaterra era então descrita, avaliada e exposta”.(SAID, 2011,p.131) Ser um romancista inglês nessa época significava dar forma ao processo imperial em uma narrativa. As distorções da realidade provocadas pelo imperialismo foram reescritas nos romances e criaram um consenso na sociedade inglesa sobre o que era o nativo, considerado como um exótico ou estranho.Um exemplo pode ser dado através da instigante obra “Kim” do prêmio Nobel Rudyard Kipling.

De forma resumida o enredo de “Kim” se passa no meio de uma grande viagem onde Kim O’Hara e o lama Teshoo saem pela Índia a procura do Rio da Flecha, que segundo o monge, é um rio que liberta as pessoas da Roda da Vida, seguindo a antiga tradição budista. Kim é filho de um antigo sargento do exército indiano que cresceu como um nativo, vivendo livres pelas ruas e bazares de Lahore, e que após se encontrar com o lama se torna seu discípulo. Durante sua busca Kim encontra o antigo regimento de seu pai e é mandado pelos comandantes a uma escola inglesa na Índia, a São Xavier, que lhe proporcionaria uma verdadeira educação ocidental. Após três anos de estudo e de ser aprovado para o cargo de etnógrafo, Kim é finalmente liberto de suas obrigações e volta a viajar pela Índia com o lama. Contudo, enquanto peregrina, Kim está em outra missão, dessa vez a serviço do império britânico. Ele precisa investigar dois agentes do serviço russo que planejam insuflar uma insurreição ao norte da Índia com colaboração de um rajá das montanhas.

Esse resumo nos ajuda a colocar Kim dentro de um contexto, pois pretendemos aqui desnudar aspectos da representação da dominação inglesa através do romance. Algumas passagens são esclarecedoras quanto ao processo. Por exemplo, quando Kim está em companhia da viúva de Kuluum homem de sua escolta diz: “só os demônios e os ingleses caminham por aí sem rumo” (KIPLING, 2014, p.66); sim os ingleses andam por onde querem e fazem aquilo que bem entendem. Kipling fez do império o tema central de sua obra. Ele levou“para uma audiência doméstica, basicamente insular e provinciana, o colorido, o glamour e o romantismo do empreendimento ultramarino britânico”.(SAID, 2011,p.218-9) E é isto que recebemos da obra, pois o que vemos é uma Índia imperializada e subordinada aos interesses ingleses.

A Índia é apresentada como um misto de muitos povos, etnias e castas, assim diferentes concepções de mundo são apresentadas durante toda a obra. A escolha por personagens tão diferentes demonstra isso: Kim é um misto irlandês/indiano, o Lama Teshoo um budista do Tibete, Coronel Creighton o inglês racional, Mahbub Ali um afegão muçulmano da etnia patane, Babu é um bengali, assim como muitos outros personagens apresentados a obra tentam mostrar a diversidade de etnias e culturas de que a Índia é formada. Essa noção multicultural, porém, nunca coloca em xeque as relações de poder entre esses grupos. O poder inglês é visto como hegemônico e inquestionável, como se o domínio inglês fosse natural.

“Na Índia [...] na década de 1930, meros 4 mil funcionários públicos ingleses, assistidos por 60 mil soldados e 90 mil civis tinham se imposto a um país de 300 milhões de habitantes”. (SAID, 2011, p.45). Quando a Rainha Vitória foi proclamada imperatriz da Índia a história que se contou na Inglaterra foi a seguinte: ela “enviou seu vice-rei, lorde Lytton, em visita até lá, sendo aclamado e celebrado em festas e darbares tradicionais por todos o país, bem como numa grande Assembleia Imperial em Delhi”. (SAID, 2011,p.52) Como se sua coroação fosse uma demanda popular, parte de um costume tradicional e não uma imposição autoritária e unilateral do poder britânico.

“A Índia, no final do século XIX, havia se tornado a maior, mais durável e lucrativa dentre todas as possessões coloniais britânicas, e talvez até mesmo Europeias”. (SAID, 2011, p.219) Inúmeros políticos e intelectuais pensaram e escreveram sobre a Índia, como Burke, Mill e Macaulay. Kipling presenciou o debate sobre a colônia e mais, era parte dela. Ele reformulou de forma imaginativa e criativa tudo aquilo que se falava internamente sobre a Índia com sua vivência pessoal. Sua escrita parte de um ponto de vista dominante que vê a invasão da Índia como um produto natural da história. Os escritores do império se questionavam sobre a natureza do habitante e quase sempre os engendravam numa concepção depreciativa, inferiorizada.

“Cada um desses seres subalternos era classificado e situado num esquema geral dos povos cientificamente garantido por sábios e estudiosos, como George Cuvier, Charles Darwin e Robert Know. A divisão entre brancos e não brancos, na Índia e em outros lugares, era de caráter absoluto. [...] Kipling nunca questionaria essa diferença e o direito de domínio do europeu branco”. (SAID, 2011,p.222)

Kipling personifica os nativos como inertes, passivos e frequentemente como admiradores do Império Britânico. Temos como exemplo Babu, um etnógrafo bengali, ferrenho admirador de Spencer, que sonha integrar a Real Sociedade Britânica através da entrega de relatórios etnográficos sobre quem eram os povos viventes na Índia ao serviço secreto inglês. Seu trabalho, diz ele é “coletar relatos folclóricos para a Real Sociedade”. (KIPLING, 2014, p.149)Integrar tão honrado serviço, diz ele
“Era uma honraria que sabia poder ser obtida apenas por meio da engenhosidade e de amigos bem-relacionados, mas, até onde sabia, nada além do trabalho, os papéis que representavam uma vida de empenho, permitia a entrada de um homem no Serviço Topográfico que ele bombardeara por anos com relatórios sobre cultos estranhos e costumes asiáticos desconhecidos”. (KIPLING, 2014, p.144)
Quando Babu e Kim viajam para encontrar os dois agentes russos, o bengali com medo dos agentes diz – “eles não são pessoas nativas, com as quais fazemos o que queremos. São russos, e muito inescrupulosos”.(KIPLING, 2014, p.183) E – “É só que, veja bem, Sr. O’Hara, infelizmente sou asiático, o que é um grave problema em alguns aspectos. E, além de tudo, sou bengali, um homem medroso”.(KIPLING, 2014, p.183) Babu é um nativo que aceitou a classificação racial dos britânicos. Ele realmente acredita que os indianos são passivos e submissos. Além disso, ele se auto inferioriza, acreditando que é medroso por culpa de sua ascendência. Quando Babu se integra ao grupo dos agentes russos e explica sua etnia, eles o caracterizam da seguinte forma: -“Ele é a representação da pequena Índia em transição, do hibridismo monstruoso entre Oriente e Ocidente [...] Se alguém pode lidar com esses orientais, somos nós!”(KIPLING, 2014, p.196)

A criação de uma “raça” indiana e asiática é fundamental para a própria criação do conceito de “raça” britânica, pois a composição do tipo ideal inglês se faz na contraposição e negação dos outros povos. Britânicos agem de um jeito, asiáticos de outro, portanto; somos britânicos porque não somos asiáticos. O livro trabalha na construção de uma essência oriental que coloca o nativo como alguém dotado de um temporalidade diferente “mesmo um oriental, com seus conceitos orientais acerca do valor do tempo” (KIPLING, 2014, p.20) -“Todas as 24 horas do dia eram parecidas para os orientais, e o tráfego de passageiros era ditado por essa visão (KIPLING, 2014, p.24), -“minutos vagarosos e incontáveis do Oriente transcorreram” (KIPLING, 2014, p.155) atestam isso.

Eles também são taxados como mentirosos -“sabia mentir como um oriental” (KIPLING, 2014, p.21) -“os asiáticos nem piscam quando enganam um inimigo” (KIPLING, 2014, p.22); como pessoas primitivas e não modernas; moradores de um lugar ainda não civilizado –“A Índia é uma terra selvagem para ostementes a Deus”. (KIPLING, 2014, p.81) -“Deve ser difícil, muito difícil, para um animal selvagem” (KIPLING, 2014, p.87), -“Kim adentrou a alegre desordem asiática”.(KIPLING, 2014, p.55), “a mente oriental é incompreensível” (KIPLING, 2014, p.74) “Estavam acostumados a percorrer, sozinhos, 160 quilômetros de selva, onde sempre havia a maravilhosa chance de se atrasarem por causa dos tigres” (KIPLING, 2014, p.103), “Nem uma vida inteira como nativo apaga o horror do homem branco diante das serpentes” (KIPLING, 2014, p.38); pechinchadores “Oito! — disse Kim, seguindo, sem pensar, o instinto oriental de pechinchar”. Seres indiferentes -“o menino possuía a indiferença oriental a ruídos, e o som nem mesmo reverberou em seu sono profundo e sem sonhos”.(KIPLING, 2014, p.116)

Todas essas composições essencialistas são expostas durante a obra como pertencentes a uma raça inferior, e que, portanto, Kim, como um meio indiano meio inglês deveria extirpar de seu caráter o lado asiático, naturalmente corrompido, e se tornar por completo um inglês. Trechos como “bem, não diga uma palavra, direta ou indiretamente, sobre o lado asiático do menino [...] mais tarde hei de expulsá-las do garoto”.(KIPLING, 2014, p.95); “Eles farão de você um homem na São Xavier, O’Hara. Um homem branco e, espero, um bom homem” (KIPLING, 2014, p.98) mostram que só uma educação branca e ocidental pode livrá-lo de seu lado “inferior”.Não se ocidentalizar significa falar, se expressar e ser apenas como “anglo-indianos conseguem, sobre favoritismo e corrupção”. (KIPLING, 2014, p.145) O sangue asiático é corrompido, mentiroso e fraco, enquanto o sangue branco é forte e visto como mantenedor da sanidade. Quando Kim passa por uma sessão mítica que tinha como obtivo protegê-lo pela estrada, Mahbub Ali e a sacerdotisa Huneefa usam remédios para deixar Kim desacordado. Ele, porém, consegue resistir até desmaiar. Mahbub Ali diz “Por Alá, como ele lutou! Nunca conseguiríamos sem remédios. Acho quefoi seu sangue branco”.(KIPLING, 2014, p.148)

É também possível ver a modernização da Índia no sentido industrial com suas grandes cidades, fábricas e o trem. Somos apresentados a ingleses que abrem poços “o poço do sahib Mackerson era novidade em Peshawar” (KIPLING, 2014, p.121), com construções de grandes empreendimentos que mostram as “mil chaminés das fábricas de algodão que rodeiam Bombaim”.(KIPLING, 2014, p.136)

A modernização da Índia também passa pela criação de uma nova elite que se instala no governo e cria formas de perpetuar sua posição com a implementação de escolas inglesas em território britânico. Um exemplo é a escola de São Xavier, onde Kim vai estudar. Lá ele encontra os filhos da elite colonial inglesa estudando para exercerem seu papel como chefes. Um professor da escola diz em aula que os alunos “eram sahibs e que algum dia, passados os exames, liderariam os nativos”. (KIPLING, 2014, p.104) Lá, diz Kim

“Havia filhos de funcionários subalternos da ferrovia, dos telégrafos e dos canais; de oficiais de justiça, às vezes aposentados e às vezes atuando como comandantes em chefe de algum exército feudal do rajá; de capitães da Marinha da Índia; de aposentados, agricultores, comerciantes do distrito e missionários”. (KIPLING, 2014, p.102)

É possível ver também muitos nativos que trabalham com o serviço secreto britânico: Mahbub Ali, Babu, e o próprio Kim. Cada um deles recebia um nome codificado e faziam diferentes serviços. Por exemplo, Mahbub Ali era um comerciante de cavalos que viajava por toda a Índia, e que dava informações sobre principados indianos que tramavam contra o Império. Suas informações mexiam com interesses de muitas pessoas, e por isso precisava passar de informações da forma mais impessoal possível sempre estando alerta a possíveis ataques. Um de seus relatórios, enviados ao serviço secreto por Kim, “traía, de modo escandaloso, os cinco reis confederados, a Benevolente Potência do Norte, um banqueiro hindu em Peshawar, uma fábrica de armas na Bélgica e um importante soberano muçulmano semi-independente do Sul”. (KIPLING, 2014, p.20) Mesmo Kim se entrega ao fetiche de colaborar com o serviço secreto e nutre o sentimento de ser um investigador como Mahbub Ali. Ele “investigaria metade da Índia, seguiria reis e ministros, como seguira por Lahore, nos velhos tempos, advogados e olheiros de clientes para advogados, a serviço de Mahbub Ali”. (KIPLING, 2014, p.134)

A composição de um retrato da Índia Britânica como um local quase sem conflitos entre ingleses e nativos vem da própria maneira de Kipling ver a situação: ele não via conflito nenhum. “Para Kipling, o melhor destino da Índia era ser governada pela Inglaterra”. (SAID, 2011,p.238) Sua visão apresenta um contraste irremediável entre ocidente e oriente. Para Kipling essa distinção é tão clara que os próprios nativos entendem sua condição subalterna e de subserviência a um povo e civilização melhores que eles. “O oriente, com seu misticismo e sensualidade, seus extremos de santidade e patifaria, e os ingleses, com sua organização superior, sua confiança nos métodos modernos, seu instinto em varrer os mitos e crenças nativas” (WILSON apud SAID, 2011, p.237) compõe uma organização coesa em suas diferenças substanciais, onde um tem o direito de dominar e o outro o direito de ser dominado. Podemos ver a sistematização desse pensamento na passagem em que Kim e o Lama encontram um ex-soldado “que tinha servido ao Governo os tempos da Revolta” A revolta ao qual o soldado se refere foi um dos episódios mais sangrentos da história anglo-indiana, que ficou conhecida como a Grande Revolta de 1857. Ela significou uma resposta dos indianos aos mandos e desmandos da Companhia das Índias Orientais e ao domínio de uma potência branca e cristã num território diversamente ocupado. Mesmo com a tomada de Delhi os britânicos esmagaram brutalmente o levante e a Companhia das Índias Orientais foi substituída pelo Governo da Índia.

Esse episódio serviu para unificar os povos indianos contra a dominação inglesa, e serviu para os britânicos legitimarem sua posição dominante, pois com o levante os indianos haviam encarnado o papel de selvagens que lhes havia sido atribuído. Apenas uma minoria de nativos não se sentia solidarizado pela luta de seus conterrâneos. Ainda assim a visão do ex-soldado está totalmente carregada da visão inglesa dos fatos. Ele diz – “uma loucura corroeu todo o Exército, e eles se viraram contra seus oficiais [...] decidiriam matar as mulheres e os filhos do sahib. Então vieram os sahibs do outro lado do mar e os chamaram para um rigoroso acerto de contas”. (KIPLING, 2014, p.45) Um levante nacional é chamado de loucura e a ação que foi cristalizada para ser transmitida foi a do assassinato das mulheres e crianças inglesas. Isso dá uma clara visão de que sim, os ingleses tinham um direito moral de se vingarem dos indianos, representado na fala por “um rigoroso acerto de contas.” O nativo é retratado como um “delinquente, e o branco, um tutor e juiz severo, mas moral”. (SAID, 2011, p.241)

“Foi criada uma Índia imaginaria que não cotinha nenhum elemento de transformação social ou ameaça política. A orientalização foi o resultado desse trabalho de conceber a sociedade indiana esvaziada de elementos contrários a perpetuação do domínio britânico, pois foi na base pretensa índia que os orientalizadores tentaram edificar um domínio permanente”. (HUTCHINS apud SAID, p.243)

O problema dessa visão estritamente europeia dos fatos é que ela não leva em consideração que a Índia existia antes da chegada dos europeus, e que a dominação efetiva desses povos levou a uma resistência armada e violenta que mais tarde resultou a independência da Índia. Devemos ler Kim “como um grande documento de seu momento histórico e, também, como marco estético o caminho que conduziu à meia-noite de 14 para 15 de agosto de 1947” (SAID, 2011,p.261) quando a Índia finalmente alcançou sua independência.

Referências
Lucas Arruda é graduando em Ciências Sociais na Universidade Estadual de Maringá (UEM)
E-mail: lucas_p_arruda@hotmail.com

RUDYARD, Kipling. Kim. Rio de Janeiro: Editora Record, 2014.
SAID, Edward W. Cultura e Imperialismo. São Paulo, Editora Companhia das Letras, 2011.
SAID, Edward. Orientalismo, o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

7 comentários:

  1. Pesquisador Arruda. Boa Tarde.

    Na obra, quais os aparelhos estatais possuem maior alcance na formulação/consolidação da narrativa orientalista?

    Obrigado

    ---

    Daniel Nunes Ferreira Junior

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    1. Bom dia, historiador Daniel
      Do ponto de vista do Said, meu referencial teórico, é impossível dizer qual instância do poder possui maior capacidade de disseminar representações orientalistas. Esse artigo está vinculado a uma pesquisa maior que tenta demonstrar como a narrativa orientalista estava vinculada a um escopo gigantesco do discurso inglês no século XIX; estando presente em discursos políticos, jornais liberais e conservadores, professores acadêmicos das mais diversas áreas, a música, a historiografia e a literatura. Dentre todas essas esferas de análise escolhemos os romances por serem obras de maior repercussão dentro da cultura interna inglesa, mas poderíamos escolher qualquer outro centro referencial. Com isso tentamos demonstrar que existia grande vinculo entre o colonialismo e a mentalidade inglesa geral, passando das elites políticas, classe média a produtores de cultura interna. Existia sim uma hegemonia de pensamento quanto a necessidade da Inglaterra colonizar todas as partes do planeta e o unificar o mundo a sua imagem e semelhança.

      Lucas Pereira Arruda

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  2. Boa tarde, Arruda.
    No livro Kim, se os indianos são retratados, ainda que de forma sutil e complexa, como seres um tanto inferiores aos britânicos, há alguma menção significativa aos russos e à Rússia? Em caso positivo, é possível dizer que os russos são tratados de forma "orientalista", especialmente no contexto do "Grande Jogo", em que Londres e São Petersburgo competiam pela expansão de seus impérios no Oriente?
    Grande abraço,
    Felipe Alexandre Silva de Souza

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    1. Bom dia, Felipe
      Existem menções aos russos e a Rússia sim, mas não creio que possa ser considerada uma representação orientalista, tendo em vista o número reduzido de menções e a falta de homogeneidade nas falas. Uma das vezes em que são mencionados os russos são descritos como "inescrupulosos" e em outra, por povos das montanhas, como "mendigos". Já a Rússia tem apenas uma menção significativa a esse debate; ela é apresentada por um dos rajás aliado da Rússia e contra o Império Britânico como "a grande libertadora do norte". Portanto, podemos concluir que, nesse caso em específico, não houve tentativa de orientalização dos Russos, o que talvez pode nos levantar a hipótese de que o Império Britânico não considerava os Russos fortes ao ponto de fazer frente ao seu poderio.
      Obrigado pela pergunta
      Lucas Pereira Arruda

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  3. Arruda,Bom Dia
    Você tendo Said como seu referencial, pode me dizer como podemos combater o preconceito criado pelos ocidentais sobre a cultura oriental? tendo em vista que ele é disseminado até hoje .

    Allan Miguel Da Costa Maciel

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    1. Bom dia, Allan. Obrigado pela pergunta.
      Segundo Said a única forma de superarmos as representações depreciativas sobre os outros é entender logo de cara que não existem homogeneidades nas ações humanas. As classificações raciais, étnicas e de gênero são apenas generalizações, nenhuma delas consegue conceber e explicar quem realmente somos nós. Entendendo isso, precisamos conceder aos grupos segregados e sentenciados pela história um lugar de fala e de poder, e deixar com que eles mesmos se representem, para que não saíamos por aí reproduzindo falas e representações pejorativas, depreciativas e preconceituosas sobre o outro. É deixar claro que toda fala é parcial e parte de um ponto de vista, e que sem a pluralidade de representações sobre o real, nunca conseguiremos nos aproximar de um conhecimento minimamente verdadeiro.
      Lucas Pereira Arruda

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  4. Boa noite, Lucas

    Primeiramente parabéns pelo texto.

    Partindo do principio que a história ensinada nas escolas e até mesmo nas faculdades de historia são visões eurocêntricas. E conforme mencionado em seu texto esta visão acaba por se tornar preconceituosa. Como modificar este modo de estudar historia? E como mostrar a importância das outras nações e visões sobre a historia sobre outros pontos de vista?

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