Edelson Geraldo Gonçalves

AS EPIDEMIAS E A MODERNIZAÇÃO DA MEDICINA JAPONESA NA ERA MEIJI (1868-1912)

Introdução
Este trabalho tem como objetivo refletir sobre a modernização da medicina japonesa em meio ao processo de modernização geral e as epidemias que se abateram sobre o Japão da Era Meiji (1868-1912).

A questão norteadora a ser respondida nesse texto é: Qual foi a relação das epidemias do período Meiji com os rumos de modernização da medicina japonesa?

Para tanto consultaremos fontes de natureza oficial e de testemunho, que são mais especificamente textos de relatórios oficiais de indivíduos que ocuparam cargos de responsabilidade no governo Meiji e escritos de testemunhas que viveram no Japão na época que compõe o recorte cronológico do presente trabalho.

Os relatórios oficiais fazem parte do livro de relatórios publicado em 1904 sob a organização do Conde Okuma Shigenobu (1838-1922), intitulado “Kaikoku Gojunen Shi”. Esse livro, compilado em comemoração aos cinquenta anos da abertura do Japão (que ocorreu em 1853) foi traduzido para o inglês sob a direção de Marcus B. Huish (1843-1921) (tradução publicada em 1909) com o título “Fifty Years of New Japan”.

Dentro dessa obra os textos que aqui nos interessam como fontes são três: 1º) “The Police of Japan”, de autoria do Barão Oura Kanetake 2º) “The Development of Medicine in Japan”, de autoria dos professores de medicina Aoyama Tanemichi e Fujikawa Ukabu 3º) “Medicine and Hygiene in Japan, and Their Indebtedness to England and America”, de autoria do professor de medicina Miyake Hiizu.

Esses três textos abordam aspectos do processo modernização da medicina japonesa, escritos por indivíduos que estiveram no comando das medidas desse processo.

As fontes de testemunho que privilegiaremos no presente trabalho serão os escritos de Basil Hall Chamberlain e Lafcadio Hearn, considerados dois dos mais qualificados intérpretes ocidentais do Japão no século XIX, e que em suas análises dessa sociedade se depararam com as epidemias e os aspectos da modernização médica. De Basil Hall Chamerlain recorreremos principalmente ao livro “Things Japanese” uma enciclopédia sobre temas japoneses, da qual nos serão especialmente úteis os verbetes que abordam as doenças e a medicina japonesa com considerações sobre o passado e o período em que tais verbetes foram escritos (1890). Da parte de Lafcadio Hearn daremos atenção principalmente aos livros “Glimpses of Unfamiliar Japan”e “Kokoro”. O primeiro contém um texto intitulado “Sayonara!”, no qual o autor relata sua despedida de seus alunos na cidade de Matsue em meio a uma epidemia de cólera que assolava a cidade em 1891. O segundo livro contém os textos “After the War” e “In Cholera-Time”, sendo que o primeiro relata o testemunho de Hearn em 1895 (na cidade de Kumamoto) do retorno dos soldados japoneses após a campanha vitoriosa na Guerra Sino-Japonesa, e da epidemia de cólera que se seguiu ao desembarque desses homens em solo pátrio; enquanto o segundo texto fala do cotidiano da epidemia em si, e como o povo das ruas lidava com ela e com as incursões médicas do governo.   

O Novo Japão
Em 1853, com a chegada dos navios comandados pelo Comodoro Matthew Perry (1794-1858) dos EUA, iniciou-se o processo de abertura e modernização do Japão.

Temendo um destino semelhante ao que se impunha sobre a China naquele momento (desagregação e colonização) os japoneses decidiram pela modernização do país, julgando-a como a única forma de salvaguardar a independência nacional.

Dessa forma o país logo (em 1868) teria um novo regime de governo, com a restauração do poder imperial, feita após a superação de uma breve guerra civil que pôs definitivamente termo ao Shogunato Tokugawa, um regime já em decadência na época da chegada dos navios americanos, e que ruiu definitivamente com a nova crise.

Durante seu processo de abertura, em 1854, o Japão foi obrigado a aceitar uma série de tratados desiguais pelas potências ocidentais, e dessa forma a revisão desses tratados passou a ser o objetivo primário do novo regime, o governo Meiji [Gluck, 2015, p. 570].

O método escolhido para conseguir a revisão dos tratados foi o esforço de rápida modernização, guiada pelo lema “país rico, exército forte”, e um passo importante para isso foi o envio da Missão Iwakura ao exterior [Gordon, 2003, p. 73].

Essa missão, liderada pelo embaixador Iwakura Tomomi (1825-1883) que levando políticos e acadêmicos por uma viagem de dezoito meses (iniciada em dezembro de 1871), buscava estudar as instituições principalmente da América e da Europa em busca de modelos de inspiração para a modernização japonesa [Gordon, 2003, p. 73]. Além disso essa missão também teve um papel propagandístico; mostrar ao mundo que o Japão estava sinceramente comprometido em tornar-se um país civilizado [Nish, 2000, p. 83]. Através das observações dessa missão os japoneses tiveram a compreensão da importância central dos setores da economia e da educação para uma modernização bem-sucedida [Gordon, 2003, p. 73].

Em seu primeiro impulso modernizador o governo Meiji se concentrou na modernização técnica e também dos hábitos populares, o que nesse caso significava o encorajamento à adoção de costumes ocidentais, ou como foi chamada a “abolição dos maus e velhos hábitos” [Sansom, 1951, p. 378] buscando com isso direcionar o Japão totalmente ao status de nação moderna e civilizada, e com isso conquistar o respeito do Ocidente.

Entre os membros da Missão Iwakura estava Nagayo Sensai (1838-1902), um ex-samurai do Domínio de Omura que se tornou diretor do Departamento Sanitário do Ministério do Interior, o órgão responsável por lançar as bases para a modernização da medicina japonesa [Suzuki, Suzuki, 2009, p. 184].

Nas observações que fez na Europa e nos EUA, Nagayo chegou à conclusão de que o melhor caminho para um moderno sistema de saúde japonês seria sua direção pelo Estado, que deveria zelar pela saúde do povo, planejando e executando políticas baseadas na ciência. Para Nagayo esse seria o caminho que daria ao Japão uma medicina digna de um país moderno [Suzuki, Suzuki, 2009, p. 184].

As Epidemias da Ásia
Á medida que a nova nação moderna se abria para a recepção de pessoas e ideias de terras estrangeiras, também tornou seus portos vulneráveis a entrada de outros elementos; as doenças que assolavam a Ásia em escala epidêmica, das quais o Japão em seu isolamento comercial e político de mais de dois séculos durante o período Tokugawa esteve majoritariamente a salvo até então.

Entre essas doenças podemos destacar o tifo, a febre tifoide, difteria, varíola e principalmente a cólera, que atingiu o Japão com especial força e insistência, sendo a principal adversária da moderna medicina japonesa na segunda metade do século XIX e início do século XX[Hane, 1982, p. 44].

Segundo Kohn [2008, p.14] a pandemia de cólera asiática no século XIX iniciou-se na cidade indiana de Jessore em 1817, sendo atribuída ao consumo de arroz contaminado. A doença teria então sido espalhada por soldados afegãos e nepaleses, que combatiam as tropas britânicas nas fronteiras do norte da Índia, tendo atingido Myanmar e o Sião em 1820, Sumatra e Java em 1821 e as Filipinas e o Japão em 1822.

Esse primeiro surto de cólera que atingiu o Japão, no entanto, teve curto alcance. Chegou por Nagasaki, o único porto aberto ao comércio exterior naquele período, e teve um alcance geograficamente limitado [Suzuki, Suzuki, 2009, p. 186], certamente em função da proibição dos comerciantes estrangeiros adentrarem o interior do Império livremente.

Contudo, com a posterior abertura do país e a livre circulação de pessoas o Japão foi fortemente afetado pela epidemia seguinte, a de 1858 que também chegou pelo porto de Nagasaki, vinda da China em um navio americano, mas desta vez atingiu o interior do país, matando centenas de milhares ou mesmo milhões de pessoas [Hane, 1982, p. 44; Kohn, 2008, p. 207].

A partir de então, até a primeira metade do século XX a ameaça da cólera seria uma constante no Japão, e passou a receber especial atenção do governo.

Em testemunhos do cotidiano posterior a esse período podemos ver registros de situações geradas por essa epidemia, como crenças populares de que a culpa por ela seria dos estrangeiros. Um exemplo disso foi dado em testemunho por Erwin Balz (1849-1913), pesquisador e médico da família imperial japonesa, ao filólogo e professor da Universidade Imperial de Tóquio, Basil Hall Chambelain (1850-1935).

Segundo Balz, em 1879, enquanto viajava pelo interior do Japão,em uma das vilas em que ele e seus assistentes  tentaram parar para descansar, acabaram sendo acusados pelas autoridades locais de “trazerem o demônio da cólera” com eles. Segundo Chamberlain [2014, p. 91], mais do que acusações aos estrangeiros, nessa época “cada cidade, cada vila [...] sempre proclamava a si mesma imaculada, enquanto ruidosamente acusava todos os vizinhos de estarem abrigando o contágio”.Naquela noite Balz e seus assistentes tiveram que se submeter a um exorcismo feito por dois clérigos xintoístas, e só depois foram admitidos na vila [Chamberlain, 2014, p. 91].

A cólera também aparece nos escritos de outro escritor japonologista do final do século XIX, Lafcadio Hearn (1850-1904), que em seu livro de 1894, “Glimpses of Unfamiliar Japan”, comenta em um relato de viagem:

“Eu estava esperando ver o Bon-Odori em Hamamura, mas fiquei desapontado. Em todas as vilas a polícia havia proibido a dança. O medo da cólera resultou em estritas regulações sanitárias. Em Hamamura foi ordenado ao povo não usar água para beber, ou lavar, com exceção da água fervente de suas próprias fontes vulcânicas [Hearn, 1894, p. 512].”

Ainda no mesmo livro, quando comenta sua despedida de seus alunos da cidade de Matsue, no final de 1894, Hearn testemunha que isso se deu em meio a uma epidemia de cólera que assolava a cidade, escrevendo a seguinte passagem:

“Duas noites atrás, a cólera asiática, supostamente trazida ao Japão por navios chineses, atingiu diferentes partes da cidade, e entre outros lugares, a Escola Normal. Vários estudantes e professores morreram pouco depois de serem atacados, outros estão agora entre a vida e a morte. O resto marchou para a pequena e saudável vila de Tamatsukuri, famosa por suas fontes termais. Mas lá a cólera novamente se manifestou, e foi decidido dispersar os sobreviventes de volta a suas casas. Não houve pânico. A disciplina militar permaneceu inquebrável. Estudantes e professores permaneceram em seus postos. O grande prédio do colégio foi ocupado por autoridades médicas, e o trabalho de desinfecção e sanitização ainda segue [Hearn, 1894, p. 689].”

Dois anos depois Hearn [1910, p. 257] ainda dá o seguinte testemunho sobre a cólera ao comentar o final da Guerra Sino-Japonesa (1894-1895):

“O principal aliado da China na última guerra, sendo cego e surdo, não sabia de nada e continua sem nada saber de tratados ou da paz. Ele seguiu os exércitos que retornaram ao Japão, invadiu o império vitorioso e matou cerca de três mil pessoas durante o verão. Ele ainda está matando; e as piras funerárias queimam continuamente.”

É interessante ver ainda como a cólera aparece em uma canção de fábrica, cantada por operárias da virada do século XIX para o XX:

“Como eu queria que o dormitório fosse varrido para longe,
Que a fábrica queimasse,
E que o porteiro morresse de cólera,
Às seis da manhã estou com uma cara de diabo,
Às seis da tarde estou com um sorriso no rosto,
Eu queria asas para escapar daqui,
Voar para praias distantes [Gordon, 2003, p. 103].”

Uma vez compreendido o contexto de epidemias, passaremos a abordar agora o processo de modernização da medicina japonesa.

A Modernização da Medicina Japonesa
A medicina tradicionalmente praticada no Japão era a medicina chinesa, e a partir do século XVI somou-se a medicina europeia, principalmente a holandesa.

Com a prolongada constatação dos bons resultados dos métodos da medicina europeia aprendida por intermédio da língua holandesa, o Shogunato começou também a investir no início do século XIX em estudos de língua inglesa, e por intermédio desses também no estudo da medicina inglesa. E com isso, como comentam Aoyama e Fujikawa [1909, p. 292]: “Consequentemente, em cerca do meio do último século [XIX] os japoneses se tornaram mais ou menos familiarizados com as linhas gerais da medicina europeia”.

Com a chegada dos navios americanos em 1853 o Shogunato foi impulsionado a medidas modernizadoras, visando a defesa do país, entre as quais a modernização da medicina [Aoyama; Fujikawa, 1909, p. 294], e com a guerra civil que antecedeu a Restauração Meiji criou-se a demanda pela moderna cirurgia militar, que teve como seu principal introdutor no Japão o inglês William Willis (1837-1894).

Posteriormente o governo Meiji passou a investir na contratação de médicos alemães tanto para o trabalho médico direto quanto para instruir os estudantes japoneses, e com isso os primeiros cursos de medicina foram estabelecidos em Tóquio, Kyoto e Fukuoka. Além disso o governo Meiji também enviou estudantes japoneses para serem instruídos na Alemanha [Aoyama; Fujikawa, 1909, p. 295].

Também se investiu em pesquisa, com laboratórios; sendo que no início do século XX o mais notório entre eles era o Instituto Bacteriológico, dirigido pelo Dr. Barão Kitasato Shibasaburo (1853-1931), e a publicação de revistas do campo de pesquisas médicas, sendo publicadas em japonês, inglês e alemão [Miyake, 1909, p. 305].

A Cólera e a Moderna Medicina Japonesa
Quando retornou da Missão Iwakura, Nagayo Sensai tinha planos que o Departamento Sanitário se concentrasse em medidas como o saneamento de água e esgoto, cuidados com o lixo, higiene industrial, regulamentações quanto aos alimentos, a sanitização de vagões de trem e outros meios de transporte, etc.

O estudo da medicina holandesa já havia deixado claro anteriormente a necessidade de tais medidas, mas elas haviam sido postergadas, e segundo Miyake (1909, p. 303) a epidemia de cólera que se abatia sobre o Japão no momento do retorno da Missão Iwakura acabou sendo uma “bênção inesperada” pois “poupou a inauguração de novas medidas [sanitárias] das dificuldades e obstáculos que teriam surgido em outros momentos”.

Tendo a cólera como seu principal alvo, a nova medicina japonesa também levou a cabo outras abordagens além das medidas sanitárias, e para o tratamento dos infectados pela cólera o Departamento Sanitário lançou mão de medidas de internação hospitalar compulsória, método que gerou muitas revoltas entre a população.

As principais razões da revolta popular em relação às internações populares eram duas: primeiramente o fato da internação hospitalar ser um conceito predominantemente estranho a população japonesa do final do século XIX, sendo o hábito usual manter o paciente recebendo cuidados médicos na própria casa. A segunda razão, era a forma autoritária como as internações eram feitas, através de intervenção policial [Suzuki, Suzuki, 2009, p. 188].

De fato, em um relato de Lafcadio Hearn, o autor menciona a ação policial para conter a cólera em Hamamura, e isso se dá justamente por ser uma das atribuições da polícia japonesa durante o período imperial, existindo a Polícia Sanitária, ligada ao Departamento Sanitário do Ministério do Interior, e que tinha entre suas atribuições zelar “pela prevenção de epidemias” e “garantir os regulamentos de quarentena” [Oura, 1909, p. 291].

Em um de seus textos Hearn [1910, p. 257-258] dá seu testemunho de uma internação forçada:

“Eu tenho visto pacientes e cólera carregados para o hospital, –o último (nessa manhã), [foi] meu vizinho do outro lado da rua, que tem uma loja de porcelanas. Ele foi removido a força, apesar das lágrimas e gritos de seus familiares. A lei sanitária proíbe o tratamento da cólera em residências privadas; ainda assim o povo tenta esconder seus doentes, apesar das multas e outras penas; em razão dos hospitais públicos para cólera estarem lotados e mal administrados, e os pacientes serem inteiramente separados de todos que amam.”

Dessa forma podemos ver que o controle de doenças (e principalmente da cólera)era uma prioridade para o governo Meiji, sendo o primeiro grande desafio da moderna medicina japonesa; e para superar esse desafio métodos drásticos foram empregados, causando atritos com a população. Ainda assim esse foi um desafio que não foi vencido pelo governo Meiji, ou mesmo pelo governo imperial, sendo essa doença controlada apenas após a Segunda Guerra Mundial.

Conclusão
A modernização da medicina japonesa foi como a realizada em outros campos (educação, indústria, exército, etc.), parte do esforço japonês em mostrar que o país havia se tornado “civilizado” segundo os padrões ocidentais. Esse impulso visava não apenas salvaguardar a independência do país, como também reverter os tratados desiguais impostos juntamente com a abertura do Japão, e que afligiam o senso de dignidade de seu governo e sua população. Dessa forma as epidemias, juntamente com as guerras e a necessidade do Japão se afirmar frente a opinião pública internacional como uma nação moderna serviu justamente para dar um tom de urgência ao aperfeiçoamento da moderna medicina japonesa, fazendo com que esse campo desfrutasse de amplos investimentos logo no início do processo de modernização do país.

Referências
Edelson Geraldo Gonçalves é doutor em História Social das Relações Políticas pela UFES.
Mail: edelsongeraldo@yahoo.com.br

AOYAMA, Tanemichi; FUJIKAWA, Ukabu. The Development of Medicine in Japan. in. OKUMA, Shigenobu (org). Fifty Years of a New Japan: Volume 2. p. 285-297.  Toronto: University of Toronto Library, 1909.
CHAMBERLAIN, Basil Hall. Things Japanese: Notes on Various Subjects Connected With Japan. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.
HANE, Mikiso. Peasants, Rebels, Women and Outcasts. Maryland: Rowman & Lettlefild, 1982.
HEARN, Lafcadio. Glimpses of Unfamiliar Japan Volume 1. Boston e Nova York: Houghton Mifflin Company, 1894.
______. Glimpses of Unfamiliar Japan Volume 2. Boston e Nova York: Houghton Mifflin Company, 1894.
______. Kokoro: Hints and Echoes of Japanese Inner Life. Londres: Gay and Hancock, 1910.
MIYAKE, Hiizu. Medicine and Hygiene in Japan, and Their Indebtedness to England and America. in. OKUMA, Shigenobu (org). Fifty Years of a New Japan: Volume 2. p. 298-306.  Toronto: University of Toronto Library, 1909.
GLUCK, Carol. Japan’s Modernities. in: EMBREE, Ainslie. T; _______. Asia in Western and World History, p. 561-593. Nova York: ME Sharpe, 2015.
GORDON, Andrew. A Modern History of Japan: From Tokugawa Times to the Present. Oxford: Oxford University Press, 2003.
KOHN, George Childs. Encyclopedia of Plague and Pestilence: From Ancient Times to the Present. Nova York: Facts on File, 2008.
NISH, Ian. Nationalism in Japan. in. LEIFER, Michael (org). Asian Nationalism. p. 82-90.  Londres e Nova York: Routledge, 2000.
OURA, Kanetake. The Police of Japan. in. OKUMA, Shigenobu (org). Fifty Years of a New Japan: Volume 1. p. 281-295.  Toronto: University of Toronto Library, 1909.
SANSOM, George. The Western World and Japan: A Study in the Interaction of European and Asiatic Cultures. Nova York: Alfred A. Knopf, 1951.
SUZUKI, Akihiko; SUZUKI, Mika. Cholera, Consumer and Citizenship: Modernizations of Medicine in Japan. in. EBRAHIMNEJAD, Hormoz (org). The Development of Modern Medicine in Non-Western Countries: Historical Perspectives, p. 184-203. Londres: Routledge, 2009.


17 comentários:

  1. Percebe-se que a medicina de forma geral toma corpo no final do XIX e início do XX, com leis, decretos, códigos e intercâmbio acadêmico com médicos europeus, assim, um país moderno e civilizado, deveria ter na saúde da população seu espelho. Neste contexto, qual a ligação podemos fazer entre a medicina modernizante deste período no Japão e a medicina implantada no Brasil?

    Lidiane Álvares Mendes
    Mestra em história social/UFAM

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    1. Olá Lidiane, obrigado por ler o texto.

      Certamente o processo de modernização da medicina no Japão e no Brasil compartilham do mesmo contexto, tanto pela preocupação higienista quanto pelas medidas autoritárias para o combate de doenças entre a população. A preocupação de ambos os governos realmente é semelhante, tanto que ao longo de minhas pesquisas para esse texto não pude deixar de me lembrar do cenário relatado por José Murilo de Carvalho no livro "Os Bestializados".

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  2. Excelente texto Professor Edelson,
    A eclosão da epidemia de cólera serviu como catalizador da necessidade de modernização da medicina em bases ocidentais, dada a experiência européia com a Grande epidemia de 1829-51, que na Europa, segundo Michel Foucault, ajudou a definir as bases legais e administrativas de um anteprojeto estatal de 'saúde pública',ou coletiva, substituindo as práticas da medicina individual, e lançando bases da medicina moderna na Europa. É possível identificar uma tendência higienista na iniciativa do Império Japonês, ou esse é um movimento eminentemente europeu do início do século XX?

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    1. Olá Pamella. Obrigado pelo comentário.

      Sobre sua pergunta a resposta é sim. Políticas higienistas foram aplicadas pelo governo japonês em solo pátrio ainda no século XIX, e estas políticas foram exportadas para as possessões do império japonês (sobretudo na Coreia, Manchúria, Taiwan) na primeira metade do século XX. Uma análise desse processo é feita no livro "Hygienic Modernity" de Ruth Rogaski.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  3. Boa noite,

    Pode-se se afirmar que a importação inicial da medicina privilegiou a medicina humoral?

    Eduardo de Moraes Faria
    Graduando em História na Universidade Estadual de Maringá

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    1. Olá Eduardo. Obrigado pela pergunta.

      A teoria humoral foi sim conhecida pelos japoneses na primeira fase de importação da medicina europeia, mas segundo o artigo "Western Medicine and Pharmaceutics in 17th Century Japan" de Wolfgang Michel esta percepção foi minoritária e os japoneses em geral davam prioridade à interpretações chinesas do funcionamento do corpo humano mesmo quando aplicavam procedimentos de origem ocidental. E isso assim permaneceu até a Era Meiji.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  4. Olá, eu não compreendi a ideia de um Japão civilizado. Seria um Japão com a educação ocidental. Um japão levando o título de moderno. Nessa ideia da busca por um Japão civilizado, citado no O Novo Japão, qual o significado do termo civilizado?

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    1. Olá. Obrigado por ler o texto.

      Por civilizado neste ponto do texto entende-se justamente um país modernizado segundo os padrões ocidentais (na educação, na indústria, na política, etc.), seguindo as tendências presentes na Europa e nos EUA.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  5. Olá Edelson, parabéns pelo trabalho, muito bem elabora e de fácil compreensão. Gostaria de saber como foi a criação de faculdades ou universidades de medicina no Japão, como era o ingresso nessas instituições e se era permitida a admissão de mulheres.

    Grata
    Elizângela de Fátima Bortolin Gaioski

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  6. Olá Elizangela. Obrigado por ler o texto.

    As faculdades de medicina no Japão começaram a funcionar em 1869 sob direção e organização de médicos ocidentais contratados pelo governo Meiji, e além disso muitos estudantes também receberam bolsas para o estudo da medicina no Ocidente, principalmente na Alemanha. A forma de admissão nas faculdades japonesas era por vestibular e mulheres passaram a ser admitidas em 1885 após a estudante Ogino Ginko (1851-1913) conseguir a nota para sua admissão e ganhar na justiça o direito de ingressar no curso.

    Edelson Geraldo Gonçalves

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  7. Primeiramente parabéns pelo excelente texto. Você comenta em certa altura do trabalho os conflitos que a missão encontra referente a hábitos tradicionais das culturas locais, alguns desses seriam conflitantes com ideologias religiosas?

    Jorge Luis de Souza Barbosa

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    1. Olá Jorge. Obrigado por ler o texto.

      Embora os doentes pudessem ser submetidos a rituais religiosos para aplacar ou exorcizar os espíritos da doença, o motivo de resistência local era sobretudo pela resistência à internação, uma vez que o habitual era o costume difundido durante a Era Tokugawa, e ainda presente no início da Era Meiji, de se confiar os cuidados dos doentes a um médico da vizinhança (machi-i), que tratava os doentes em seus lares. Sob esse sistema mesmo os serviços de internação e tratamento dos doentes oferecidos pelos templos budistas acabavam tendo pouca procura. A reação portanto foi contra a intervenção autoritária do governo em um assunto que tradicionalmente era resolvido no local.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  8. Olá Edelson, seu texto é muito interessante.
    Tenho uma duvida: Houve algum movimento de médicos tradicionais contra a ciência médica importada do ocidente ?

    Tiago Tormes Souza

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    1. Olá Tiago.Obrigado por ler o texto.

      Sim, houve a partir de 1849 um movimento dos médicos tradicionalistas para dificultar a tradução de livros de medicina ocidentais. Isso foi feito através da pressão sobre o shogunato para que tais livros pudessem ser traduzidos apenas com permissão prévia do governo, uma permissão difícil de conseguir devido à burocracia. No entanto em 1854, cerca de um ano após a chegada dos navios americanos, a urgência para começar um processo de modernização fez com que esta lei fosse revogada.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  9. Olá, boa noite. Com a modernização da medicina japonesa, quais foram os métodos utilizado para erradicar as epidemias que assolavam o país ? e esses métodos ajudaram de que forma o japão a elaborar novos métodos de cura para as doenças nos dias atuais ?

    Paulo Jorge da Silva Lobato

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    1. Boa noite Paulo.Obrigado por ler o texto.

      Os métodos usados para controlar as epidemias foram principalmente as medidas higienistas, a vacinação e a quarentena, feita através de internação compulsória. De resto o Japão investiu e continua investindo em pesquisa e desenvolvimento no campo da medicina tendo inclusive 5 ganhadores do Prêmio Nobel neste campo, sendo o último o Dr. Tasuku Honjo há cinco dias atrás.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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