Angélica da Cruz Bernardo e Vânia Maria Siqueira Alves

DA MISSÃO JESUÍTICA À SUA EXPULSÃO NO JAPÃO SOB A ÓTICA DO FILME SILÊNCIO (2017)

Este artigo analisa a resistência interposta pelos japoneses à missão jesuítica através da narrativa do filme Silêncio (2017). É alvo de investigação também como o filme constrói a narrativa permitindo uma significação do passado, bem como a crítica transmitida sobre o expansionismo europeu.

Apresentando o filme 
O filme Silêncio, título original Silence, foi lançado nos Estados Unidos da América em 23 dezembro de 2016 e no Brasil em março de 2017. O longa-metragem foi dirigido por Martin Scorsese e é uma adaptação do romance homônimo (1966) do japonês católico Shusaku Endo. Filmado em Taiwan, a maior parte do elenco é composta por atores orientais, mais precisamente japoneses, como: Issey Ogata, Yosuke Kubosuka, Shinya Tsukamoto, Tadanobu Asano etc. Já os personagens ocidentais são vividos pelos atores Andrew Garfield, Adam Driver, Liam Neeson e Ciarán Hinds de origem anglo americana, estadunidense, inglesa e irlandesa, respectivamente.

O filme apresenta em seu enredo um antagonismo protagonizado por ocidentais e orientais. O longa-metragem é ambientado no século XVII no Japão, e narra a história de dois padres jesuítas que viajam a esse país para encontrar informações sobre o paradeiro do padre Ferreira, que havia sido professor e confessor de ambos. O padre teria abjurado após uma sessão de tortura realizada por oficiais do governo japonês. No entanto, a ação dos oficiais extrapola a questão religiosa, atendendo a interesses políticos. Nessa época, houve perseguições, suplícios e martírios para aqueles que fossem cristãos, pois não havia mais tolerância para o cristianismo no Japão.

Expansão do cristianismo ao fracasso da missão
O filme inicia com cenas de tortura de quatro frades e um membro da Companhia de Jesus nas águas termais em Unzen, chamadas pelos japoneses de “infernos”, no ano de 1633. Nesse momento inicial aparece o padre Ferreira, ele e os missionários foram levados pelo governador de Nagasaki para Unzen, as torturas objetivavam a renegação ao evangelho. Os padres não apostataram, mas pediram para serem mais torturados, demonstrando as proporções de sua fé. Esses martírios eram percebidos como exemplo tanto para fiéis quanto para outros missionários, davam coragem aos que permanecessem vivos para que suportassem todo tipo de sofrimento. Significava defender até a morte a crença no Deus cristão. Logo após essa sequência, dá-se início a entrada dos padres Garupe e Rodrigues ao Japão em busca do padre Ferreira.

Para compreender esse contexto de perseguição aos cristãos no Japão é preciso considerar a introdução do cristianismo nesse país e seus embates entre os séculos XVI e XVII. A chegada dos portugueses na Terra do Sol Nascente ocorreu em 1543, em Tanegashima. O xogum que estava no poder nesta época era Oda Nobunaga, que abraçou o cristianismo, assim a nova religião obteve um florescimento durante esse xogunato. O budismo nessa época fora hostilizado pelo chefe militar por estar envolvido com revoltas populares, e o xintoísmo estava passando por um momento de crise. O imperador era considerado apenas uma figura simbólica e principal representante do xintoísmo.

O primeiro jesuíta a ter contato com o Japão foi Francisco Xavier (1506-1552), sendo responsável pela implantação da religião cristã nesse país. Os japoneses convertidos e batizados recebiam nomes ligados a figuras do cristianismo: Maria, Gracia, Madalena, Pedro etc. Um exemplo que podemos citar é do japonês Yajiro, um ex-monge budista, que ao conhecer Xavier converteu-se ao catolicismo recebendo o nome de Paulo da Santa Fé. Foi o primeiro japonês cristão, e, serviu de intérprete e guia de viagem para os portugueses [YAMASHIRO, 1989, p. 52].

Os europeus visavam inicialmente o intercâmbio comercial – como a espingarda, vidro, vinho, ouro, prata, cobre etc. – mas posteriormente o cristianismo foi introduzido sistematicamente no país. Dessa forma, os portugueses exerciam considerável influência religiosa, econômica, cultural e política dentro do território japonês até 1587. Toyotomi Hideyoshi (1536-1598), que ajudou na reunificação do país, teve simpatia pela religião num primeiro momento.

As resistências e hostilidades ao cristianismo iniciaram-se no governo de Hideyoshi, segundo xogum, quando este assumiu o comando da unificação do país, em 1582. Paralelamente, os jesuítas começam a perder o monopólio da missão com a chegada dos Franciscanos, e também sua influência sobre a atividade comercial. Apesar de, por algum tempo, haver prosperidade na atividade proselitista, logo o choque da nova religião com as tradições e religiões ancestrais se mostrou evidente.

Embora o filme atenha-se à intolerância religiosa dos japoneses em relação ao cristianismo, os europeus também não reconheceram os costumes e crenças religiosas presentes no país do sol nascente durante o processo de implantação e expansão do cristianismo. O desejo de cristianização desses povos não levou em conta o princípio da alteridade. A intolerância religiosa e cultural dos jesuítas causou choques culturais entre os próprios japoneses. Algumas divergências que podemos citar é a crença dos cristãos em um único ser supremo onipotente e onipresente, já o xintoísmo, religião nativa do Japão, apresenta vários deuses que compõem seu panteão sagrado: “os ocidentais de fato provocaram injúria ao destruir inúmeras imagens religiosas japonesas acusadas de pagãs” [SAKURAI, 2017, p. 108].

De acordo com a mitologia japonesa, os primeiros imperadores japoneses são descendentes diretos da estirpe imperial de Amaterasu, que é a deusa do Sol, a mais importante do panteão xintoísta. Assim, o imperador é o representante máximo do xintoísmo na terra. Como o xintoísmo prega a crença em diversos deuses, e tem uma relação estrita com a natureza, essa característica será vista como cultura pagã pelos ocidentais. Assim, os ocidentais “tinham ideias estranhas acerca de um poder divino que transcendia quer os imperadores, quer os xoguns” [HENSHALL, 2017, p. 84].

A postura, muitas vezes intolerante, dos jesuítas com as crenças japonesas, as alianças de Hideyoshi com poderosos daimyos, a fim de suprimir sua oposição e promover a unificação do Japão, foram fatores que contribuíram para questionar a presença da Companhia de Jesus. Hichmeh [2013, p. 5] aponta a importância dada pelos jesuítas, especialmente o proeminente padre japonês Fabian Fukan ao cumprimento do primeiro mandamento cristão, “amar a Deus sob todas as coisas”, como fator instigador do ceticismo das autoridades japonesas em finais do século XVI e, principalmente, após a unificação do Japão em 1600. A lealdade exclusiva a Deus ameaçava o poder do Imperador, então era necessário extirpar esse mal do solo nipônico. Em 1587, o líder militar Hideyoshi promulgou o Édito de Hakata que tratou da expulsão dos missionários do território japonês, permitindo ainda a continuidade do comércio com os portugueses.

Esse édito demonstra que outros segmentos, exceto os padres, poderiam entrar no Japão, desde que não propagassem a fé cristã. Fica claro o interesse na manutenção do comércio com os europeus.
Posteriormente, foi descoberto por oficiais nipônicos que os portugueses estavam praticando o comércio de escravos japoneses. Isso era inadmissível aos olhos dos oficiais estatais. Com o passar do tempo, a atividade missionária atrelou-se a um possível desejo de colonização que ficou evidenciado no incidente de San Felipe.

“O incidente de San Felipe (1596) – em que o homônimo galeão espanhol franciscano, o qual fez a lucrativa viagem transpacífica entre Manila e Acapulco naufragou na costa japonesa -, a situação para os europeus e seus conversos deteriorou-se. Dentre outros itens, o navio carregava armas, aprofundando as suspeitas de Hideyoshi de que os frades representavam uma primeira onda de colonialismo ibérico” [WALKER, 2017, p. 125].

A partir de 1600, os cristãos vivenciaram uma violenta repressão com a expulsão de padres jesuítas, a exigência da renúncia à fé cristã por parte dos seus praticantes e, por fim, a morte daqueles que negassem a apostasia [HICHMEH, 2013, p. 9]. É nesse contexto que o filme se inicia, mostrando a tortura e os martírios cristãos em Unzen. Narrada por flashback, a próxima sequência traz o Padre Alexandre Valignano lendo a carta de Ferreira aos padres Garupe e Rodrigues. A partir daí, ocorre a entrada de Garupe e Rodrigues, protagonistas da história, dando mais dinamismo à mesma, conforme apontam os autores Imme e Bona: “o que deixa as histórias mais complexas é a influência dos personagens. São os personagens que dão credibilidade à história, conferindo-lhe um novo dimensionamento e conduzindo-a para novas direções” [SEGER, 2007, p. 177 apud IMME, BONA; 2014, p. 19].

A última carta do padre Ferreira teria chegado por meio de um comerciante holandês e junto à carta, a notícia de que ele teria renegado a fé cristã e estaria vivendo como um japonês. A partir dessa introdução, se desenrola a narrativa do filme com a ida dos dois padres para o Japão.

Apesar de ter pouca importância e destaque no filme, o padre Alessandro Valignano foi um dos principais responsáveis pela missão no Japão. Ao deixar o arquipélago em 1582, a situação da Companhia de Jesus era bastante promissora: Nagasaki estava sob administração da Companhia, o número de fiéis era significativo e inúmeras igrejas espalhadas por Kyushu e parte de Kanto. “Os jesuítas, à época, detinham respeito dentre diversas autoridades e entre as camadas mais baixas da sociedade japonesa” [HICHMEH, 2013, p. 4].

“Em julho de 1590, no entanto, ao retornar ao Japão, Valignano encontrou um contexto bastante diferente daquele que havia visto há quase dez anos: o daimyo Oda Nobunaga, que havia permitido a entrada e ação jesuítica, estava morto; Nagasaki não era mais uma colônia jesuíta” [ELISONAS, 2006: 132 apud HICHMEH, 2013, p. 5].

Como o filme constrói sua narrativa sobre a história do revertério da missão jesuítica
O longa-metragem apresenta um antagonismo de duas culturas, Japão e Portugal, baseando-se em acontecimentos verídicos – como as torturas, o cristianismo ilegal, perseguições etc. – para retratar o martírio dos jesuítas nesse período conturbado. Esses elementos – ficção e realidade – ajudam a tecer sua narrativa e a retratar o passado de uma forma genérica.

“Certamente não é a história no sentido em que geralmente usamos essa palavra, não é a história que tenta reproduzir com precisão um momento específico e documentável do passado. No entanto, podemos vê-la como um momento histórico genérico, um momento que afirma a sua verdade representando muitos momentos daquele tipo” [ROSENSTONE, 2010, p. 166].

Dessa forma, o filme conjuga situações e personagens reais ou fictícios, mas se localiza no contexto de perseguição aos jesuítas. Alguns indivíduos que compõem a trama realmente existiram, como Alexandre Valignano, Inoue Sama, Cristóvão Ferreira. Outros são fictícios, mas ambientados no contexto, bem como algumas datas também não correspondem aos momentos de atuação das personagens. Um episódio que ilustra melhor esse momento histórico genérico é quando o Padre Alexandre Valignano aparece no filme lendo a carta de Ferreira datada em 1633. Dessa forma, a data como o personagem são dados usados de forma genérica, para ilustrar e dar vida ao contexto geral daquela época, já que Valignano na verdade viveu entre 1539 a 1606. Outra construção genérica que podemos ver é quando Rodrigues chega ao povoado de Goto e pergunta a um aldeão se ele conhece padre Ferreira. O aldeão afirma que sim, e que este construiu um lugar para as crianças e os doentes. Embora não haja escritos que comprovem a realização dessas edificações pelo padre Ferreira, como consequência da atividade missionária houve a construção de igrejas, santas casas de Misericórdia, colégios e missionários.

Seguindo as classificações de Rosenstone, o filme Silêncio pode ser considerado um drama histórico comercial devido aos diversos aspectos desse gênero que o longa-metragem apresenta em suas estruturas internas. A invenção é um elemento crucial nessas obras, além de ajudar a reforçar a carga emocional do filme, constitui um aspecto fundamental para o filme dramático segundo Rosenstone [2010]. Podemos destacar algumas invenções no filme como a cena inicial, em que está presente Padre Ferreira e um grupo de missionários que foram submetidos ao suplício de águas, sendo que na historiografia sobre as perseguições aos jesuítas no Japão eles foram submetidos ao suplício do poço; outra invenção é o personagem Garupe, apesar de ser um personagem coadjuvante, a cena em que morre tentando salvar japoneses convertidos é totalmente comovente; também podemos mencionar a experiência do personagem Rodrigues como personificação de Cristo – a pregação do evangelho, o ato de perdoar diversas vezes Kichijiro, a traição de Kichijiro vendendo o padre por 300 moedas de prata, o itinerário ao redor da cidade de Nagasaki com vários japoneses rindo de sua cara e lhe jogando objetos – e seu testemunho diante do sofrimento de vários cristãos convertidos. Ainda conforme Rosenstone essas alterações no registro histórico resultam das exigências de um filme dramático [ROSENSTONE, 2010, p. 70].

O que há de invenção e distorção no filme logo é “compensando por uma espécie de verdade dramática que consegue condensar dúvidas” [ROSENSTONE, 2010, p. 71], por exemplo, a vida de Padre Ferreira que foi à Terra do Sol Nascente com intuito de “enfrentar a morte” [YAMASHIRO, 1989, p. 84], com essa atitude desafiava as autoridades japonesas e também transgredia as leis que estavam em vigor naquele momento. No filme, Ferreira é submetido à tortura do poço, após sua captura em 1633, e desde que este apostatou, iniciou uma vida segundo costumes japoneses, adotando o budismo como religião principal, viveu maritalmente com uma japonesa e escreveu um livro que expunha os erros de sua antiga religião. De um modo geral isso é o que acontecia com a maioria dos missionários que apostatavam, além de se inserirem socialmente como membros de um mundo reverso às ordens do cristianismo, ajudavam a perseguir cristãos e no processo de abjuração dos mesmos.

Portanto, as alterações que o filme sofreu não atrapalham o significado e o sentido histórico do filme, a reconstituição histórica dos fatos e carga dramática que o filme exige são elementos indissociáveis e que ajudam a enriquecer seu enredo.

“Para o diretor de um filme dramático que precisa criar – é necessário enfatizar essa questão – um passado que satisfaça as demandas, práticas e tradições tanto das mídias visuais quanto da forma dramática, isso significaria ir além da “constituição” dos fatos a partir de vestígios de evidências encontrados em livros ou arquivos e começar a inventar alguns desses fatos” [ROSENSTONE, 2010, p. 64].

Outro elemento que compõe uma narrativa dramática é o “conflito de vontades” que se caracteriza no ato do personagem em resolver alguma situação ou mesmo completar uma missão e há um antagonista que assume a tarefa de impedir que o outro concretize seu desejo. Podemos visualizar como protagonista principal Sebastião Rodrigues, que tem como primeira meta encontrar padre Ferreira, uma missão secundária é apresentada no desenrolar do filme, que consiste em continuar a pregação missionária no Japão: “Ele é mais bem definido como sendo personagem que tem algo para fazer ou alguma meta para alcançar, e o desenvolvimento da história foca a trajetória deste até alguma resolução, seja o sucesso ou fracasso” [IMME, BONA; 2014, p. 19].

E o personagem antagonista do filme, representado por Inoue Sama, não deve ser enxergado como um vilão, mas aquele que dificulta e impossibilita Rodrigues a concluir sua missão. Esse conflito se torna mais tenso quando Rodrigues insiste na ideia do cristianismo florescer no Japão outra vez, enquanto Inoue tenta erradicar essa religião indesejada no país. Tal estudo pode ajudar a não ter uma visão maniqueísta de Rodrigues como representação do lado bom e Inoue como o lado mal da história.

“Serger [2007, p. 193] afirma que o ‘conflito é a base para o drama, pois o drama é essencialmente feito de conflito’. A partir da afirmação de Seger, deve ser atento o fato de que não é possível criar um drama no qual nada está errado. Algo deve estar errado, alguém deve ter vontade para resolver tal situação e algo ou alguém também deve criar obstáculos para isso” [IMME; BONA, 2014, p. 22].

Para a construção dessa narrativa, houve um cuidado ao mostrar a cultura opressora, mas também ao exibir uma crítica quanto às intervenções dos países da Europa. O diretor, além de ter afinidades com temas religiosos, nos ajuda a entender como alguns cristãos conseguiram manter sua religiosidade no cristianismo, um credo que é diferente da cultura nativa; e, também, atenta também para a importância de uma cultura e sua preservação.

Considerações Finais
O primeiro contato de povos da Europa com o Japão ocorreu no século XVI, pouco tempo depois se iniciou o processo de unificação do país. A unificação era de suma importância, pois com o território fragmentado, poderia haver uma chance maior de se submeter a um processo de dominação por outros povos. Com a inserção do cristianismo, os preceitos da nova religião se chocaram com a cultura japonesa. O cristianismo representou uma ameaça à figura divina do imperador e à própria cultura japonesa. Sua erradicação do território japonês pode ser entendida como um ato político, e uma forma de preservação a essa cultura diversificada.

O filme não narra a trajetória dos jesuítas desde seu começo, nem como foi o estopim da deflagração de conflitos, mas começa a narrativa a partir de 1633, momento no qual já havia iniciado a perseguição e erradicação do cristianismo. Silêncio coloca o público em contato com uma cultura repressiva e opressiva e faz com que espectador desfrute das angústias que os missionários e convertidos passaram naquela terra. Mas também lança uma reflexão sobre a maneira como o ocidente tenta se sobrepujar ao oriente.

O longa-metragem não deve ser apenas visto como um instrumento de entretenimento, mas aquele que traz uma narrativa peculiar sobre o passado. Ao utilizar ficção e realidade, podemos concluir que o filme constrói o passado de acordo com seus próprios recursos. É a sua linguagem diversificada e específica que ajuda a reconstruir e representar o passado de uma forma diferente, contribuindo para a propagação do conhecimento histórico. Silêncio é uma obra histórica que, ao mesmo tempo, representa o passado de perseguição aos jesuítas, desvenda os mecanismos utilizados para a preservação da cultura japonesa e propõe uma narrativa crítica sobre o expansionismo europeu.

Referências
Angélica da Cruz Bernardo é graduada em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais.
Email: angel.angelicacruz@hotmail.com

Vânia Maria Alves Siqueira doutora em Museologia e Patrimônio do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio - PPG-MUS (UNIRIO/MAST), possui mestrado em História Social pela Universidade Severino Sombra e historiadora.
Email: vaniamaria_siq@yahoo.com.br

Agradecimento ao professor doutor Wallace Andrioli Guedes que muito contribuiu para o desenvolvimento da pesquisa e resultado final da mesma.

IMME, Tiago André; BONA, Rafael Jose. Narrativa de cinema: uma análise dos conflitos que sustentam a história do filme Taxi Driver. Temática, Paraíba, v.10, n. 8, Agosto2014, p.16-31. Disponível em:<http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/tematica/article/view/20287/11220>Acesso: 12 jun. 2018.
HENSHALL, Kenneth G. História do Japão. 2ª Ed. Tradução de Victor Silva.  Lisboa: Portugal; EDIÇÕES 70, 2017.
HICHMEH, Y. S. S. O cristianismo no Japão: Do proselitismo jesuíta à expulsão da Igreja. In: XXVII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA: Conhecimento histórico e diálogo social. ANPUH. Natal: RN, Jul. 2013.
ROSENSTONE, Robert A. A história nos filmes, os filmes na história. Tradução de Marcello Lino. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
SAKURAI, Célia. Os japoneses. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2018.
SILÊNCIO. Direção: Martin Scorsese. Produção: Martin Scorsese, Gaston Pavlovich, Vittorio Cecchi Gori, Barbara De Fina, Randall Emmett, Emma Tillinger Koskoff, Irwin Winkler. CATCH PLAY; IM GLOBAL, 2016. 1 DVD (160 min), son., color., leg.
WALKER, Brett L. História concisa do Japão. Tradução: Daniel Moreira Miranda. São Paulo: EDIPRO, 2017.
YAMASHIRO, José. Choque luso no Japão dos séculos XVI e XVII. São Paulo: IBRASA, 1989.

28 comentários:

  1. Com a promulgação do Édito de Hakata por Hideyoshi, como ficou a sua relação com o imperador, visto que o papel deste era meramente simbólico durante o longo período dos shogunatos? Houve alguma troca de favores entre as partes ou a ameaça à figura do imperador foi meramente usada por Hideyoshi como justificativa para reforçar a saída dos missionários do Japão?
    Ronaldo Sobreira de Lima Júnior

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    1. Bom dia Ronaldo, tudo bem? O xogum detinha consigo o poder político e militar no Japão, em outras palavras era ele de fato quem governava, assim ele poderia realizar este tipo de ação. Já o Imperador além de deter o papel meramente simbólico, era o principal representante do xintoísmo na terra, já que era considerado uma figura divina na mentalidade japonesa. O mandamento “Amar a Deus sobre todas as coisas” põem em dúvida a obediência dos japoneses convertidos ao Estado nipônico (representado pelo Imperador e Xogum). Partindo dessa premissa, não era apenas somente uma ameaça ao Imperador mas também a figura do Xogum, tanto em termos de poder e de autoridade. Há outros motivos também que levaram a promulgação do Édito: Destruição de santuários xintoístas e templos budistas; a questão que o Japão ter vários deuses, visto aos olhos de ocidentais como cultura pagã.
      Angélica da Cruz Bernardo.

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    2. Mas como ficou a relação pessoal entre as partes (imperador e shogun) após o Édito? Livradas as ameaças às duas figuras com a promulgação, os dois estreitaram laços ou a distância simbólica representativa se manteve?
      Ronaldo Sobreira de Lima Júnior

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  2. Oi, Angélica. Bom dia.
    Tenho três perguntas:

    Apesar do filme não mostrar, como foi que os jesuítas conseguiram propagar a religião cristã no princípio da missão: fazendo caridade e ajudando os nativos, através do convencimento, ou através da força?

    Houve algum momento em que os missionários cristãos foram totalmente expulsos do país?

    Hoje em dia o cristianismo tem alguma força dentro do Japão?

    Lucas Pereira Arruda

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    1. Boa noite Lucas, tudo bem?
      PRIMEIRA PERGUNTA:
      Num primeiro momento, ao introduzir sistematicamente o cristianismo no Japão Francisco Xavier precisou da ajuda de Yajiro, um ex monge budista, para traduzir o evangelho aos nipônicos. Para traduzir a palavra “Todo-Poderoso” foi utilizado a palavra “Dainichi” que é a versão japonesa do buda Vairocana. Devido a essa barreira linguística e dificuldade de tradução de alguns termos portugueses para o japonês, nos primeiros 30 anos de missão os padres optaram em pregar o evangelho através de imagens sagradas, símbolos cristãos e rituais. Os missionários também se utilizaram de alguns templos budistas abandonados para realizarem as missas. Os próprios padres logo foram se familiarizando com idioma japonês e promoveram grandes pregações em público. Logo foi utilizado o estratagema de conversão das altas camadas da sociedade: os daimyos, quando estes eram convertidos a fé cristã, todos aqueles que estavam sob seu domínio também se convertiam. O interesse dos daimyos em receber a nova doutrina estava estritamente ligado ao comércio, se convertendo ficaria mais fácil a ter acesso às novas tecnologias vindas da Europa. Outro fator que ajudou no “sucesso” da nova doutrina foi o próprio Xogum Oda Nobunaga ter se simpatizado com a religião cristã. Não houve uso da força por parte dos jesuítas na conversão de japoneses.
      SEGUNDA PERGUNTA:
      Houve sim, em 1639 conhecido como Sakoku os japoneses decretam a expulsão de todos os padres jesuítas e portugueses.
      Tem um momento no filme que há um diálogo entre Inoue-Sama (inquisidor) e Rodrigues que chego a analisar, porém não coube nesse ensaio:
      “O daimyo de Hirado tinha concubinas. Todas eram lindas. As concubinas do daimyo era ciumentas e as quatros brigavam o tempo todo. Então o daimyo as expulsou do castelo e a paz voltou a reinar [...] Significa que você entende que o daimyo é como o Japão. E suas concubinas são como a Espanha, Portugal, Holanda e Inglaterra. Cada uma tentando tirar vantagem uma da outra e destruindo a casa no processo.”
      Essa é uma crítica que o filme exibe a esse expansionismo europeu, todos esses países de certa forma tecem suas intrigas comerciais ou religiosas dentro do Japão. A expulsão à qual Inoue se refere é o Sakoku (que alguns pesquisadores apontam como a política de isolamento do país) que na verdade é reconfiguração das suas relações internacionais. O Bakufu Tokugawa promulga um novo édito em 1639 proibindo padres jesuítas e também portugueses e conseqüentemente o culto cristão em solo japonês. Assim começa uma nova fase do cristianismo : Kakure Kirishitan (cristianismo escondido). Os japoneses convertidos cultuavam o cristianismo de forma ilegal no país. A única atividade que foi permitida com a Europa foi um restrito comércio com a Holanda nos portos de Deshima e Nagasaki.
      TERCEIRA PERGUNTA: Atualmente a força do cristianismo no Japão é mínima, cerca de 2% da população é cristã.

      Angélica da Cruz Bernardo.

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  3. Vânia Maria Siqueira Alves2 de outubro de 2018 às 16:27

    Embora o texto não atenha a esse fato, quando chegaram ao Japão, os jesuítas enfrentaram algumas dificuldades relacionadas a questão da língua. É para superar essa dificuldades, além de recorrer aos interpretes nipônicos recorreram também a criação de um corpo de cristãos autóctones aptos a assumirem as funções de auxiliares, de intérpretes e de tradutores.

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  4. Olá Angélica, boa noite.

    Primeiramente gostaria de lhe parabenizar pela excelente análise da produção audiovisual, estou cursando nesse semestre uma disciplina sobre o Império Asiático Português, na UFRRJ, e seu texto foi de grande valia para compreensão das particularidades.
    Minha questão tem caráter antropológico, como ocorreu a questão da fixação cristã no cotidiano da localidade vigente no texto? É possível dizer que seguiu a linha de assimilações culturais, por exemplo, em pinturas, como foi o caso da representação dos indivíduos indianos mas com sutis traços europeus? Ou ainda enxergar na estrutura religiosa vigente, maneiras de assimilar o cristianismo?

    Desde já grata!
    Nathalia Alcantara Camargo Pereira
    nathaliacamargo14@gmail

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    1. Bom dia Natália, agradeço o comentário.
      Devemos ter em mente que a difusão do cristianismo no Japão não foi homogênea, houve províncias que alguns Daimyos repudiaram a religião, não aceitaram o estabelecimento dela em seus domínios. O filme começa com as cenas de tortura em Unzem, depois a história perpassa no povoado de Goto, em seguida temos também cenas em Nagasaki que por um bom tempo foi o maior reduto cristão no Japão. Não irei focar nessas localidades, mas lhe falarei sobre a adesão do cristianismo de uma forma geral. Primeiramente os missionários utilizaram interpretes locais para repassar o evangelho, no entanto houve erros de tradução. Francisco Xavier precisou da ajuda de Yajiro, um ex monge budista, para traduzir o evangelho aos nipônicos. Para traduzir a palavra “Todo-Poderoso” foi utilizado a palavra “Dainichi” que é a versão japonesa do buda Vairocana. Então os japoneses logo pensaram que fosse uma outra vertente de budismo, os missionários ocuparam templos budistas abandonados o que acabava reforçando essa ideia. Outro método utilizado pelos missionários foi a pregação do evangelho através de imagens sagradas, rituais etc. Logo os missionários aprenderam a língua japonesa e promoveram grandes pregações em público.
      Agora quanto ao caso indiano, de representar indianos com traços europeus, sinceramente não sei dizer se isso ocorreu no Japão. Pelo menos nas leituras que fiz não mencionaram nada semelhante. Porém posso discorrer um pouco sobre a arte Nabam ou Nabam-ji. No Japão se desenvolveu a arte de pintar em biombos, logo após o encontro cultural entre as duas nações as representações nesses biombos estava relacionada aos portugueses: chegadas de suas naus (Kurofone), as tripulações, indumentária; também temas atinentes à arte sacra e evangelização.
      Espero ter sanado sua dúvida, qualquer coisa estou a disposição.

      Angélica da Cruz Bernardo

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    2. Muito obrigada pelo retorno, a dúvida foi perfeitamente sanada. Mais uma vez parabéns pelo trabalho!

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  5. Prezadas Angélica e Vânia, parabéns pelo texto. Só achei que vocês podiam usar referências bibliográficas mais atualizadas para lidar com o tema, ainda que tenha ficado feliz por vocês terem incluído o trabalho do Yuri Hichmeh. Yamashiro não era especialista da área, e o trabalho dele está muito datado. Se quiserem, posso recomendar obras mais atualizadas, incluindo a minha própria tese de doutorado, onde eu falo alongadamente sobre o édito de expulsão dos jesuítas. O texto está disponível neste link: https://www.academia.edu/36957684/Jesuits_and_the_Problem_of_Slavery_in_Early_Modern_Japan_Doctoral_Thesis_
    Abraço, Rômulo.

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    1. Olá Rômulo, fiquei muito feliz e satisfeita com seu comentário. Agradeço sua orientação sobre o uso do Yamashiro no trabalho, e pretendo enveredar pesquisas sobre a cultura japonesa, mais precisamente a presença jesuítica no Japão. Ano passado tive o prazer de ter lido sua pesquisa publicada aqui nesse Simpósio: Toyotomi Hideyoshi e a proibição do tráfico de escravos no Japão, 1587. Agradeço se recomendar mais obras sobre essa temática, se quiser pode enviar por email, fazendo favor. Lerei atenciosamente tese de doutorado, obrigada novamente.

      Angélica da Cruz Bernardo.

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  6. Boa Boite Angélica. Primeiramente, parabéns seu trabalho é muito interessante.
    Gostaria de lhe fazer 2 perguntas.
    1- No seu trabalho você diz que: "os jesuítas começam a perder o monopólio da missão com a chegada dos Franciscanos, e também sua influência sobre a atividade comercial". Na região Amazônica, sabemos que além dos Jesuítas, outras ordens religiosas também desempenharam um papel missionário significativo. Entretanto, mesmo pertencendo a mesma instituição, ou seja, a Igreja Católica, houve diversas disputas acirrada sobre o direito de administrar os indígenas. Neste sentido, gostaria de saber se além dos Franciscanos e Jesuítas, outras ordens religiosas desenvolveram um papel missionário no Japão, e como se dava essa relação.

    2- Ao longo do filme, percebemos que um dos principais objetivos era fazer com que os Padres Jesuítas apostatassem, para que a nova fé não se propagasse pelo Japão, neste sentido, muitos jesuítas acabaram "renegando" a fé católica. Contudo, no final do filme, percebemos que o protagonista morreu com um crucifixo na mão, demostrando que de certo modo a fé em Cristo não era abandonada totalmente. Assim, gostaria de saber, se durante suas pesquisas, você conseguiu perceber relatos de padres que apostataram, mas que continuavam exercendo a sua função como padre, mesmo as escondidas. E, nesse contexto houve algum tipo de sincretismo, ou seja, os padres continuavam a praticar a fé em Cristo a partir de objetos da fé e cultura nipônica?

    Leonardo Neves Barbosa Thaly

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    1. Boa noite Leonardo, obrigada pelo comentário.
      PRIMEIRA PERGUNTA:
      Sim, além de jesuítas e franciscanos, houve outras ordens que também disputavam o papel missionário no Japão, como por exemplo, agostinianos e dominicanos. Os primeiros protagonistas desse palco de hostilidades religiosas em solo nipônico foram os jesuítas e os bonzos (sacerdotes budistas), houve também um desconforto de líderes religiosos xintoístas em relação aos pregadores portugueses. Os jesuítas conseguiram o monopólio da missão graças a uma bula papal emitida pelo papa Gregório XIII. Essa exclusividade foi mal vista pelas outras ordens. A relação entre essas 4 ordens foi conflituosa, pois o território japonês virou um palco de intrigas tecidas entre elas. Segundo Boxer (1981) as maiores rivalidades envolviam os jesuítas, dominicanos e franciscanos. Além dessa hostilidade religiosa entres as ordens se desenvolveu também disputas pelo monopólio comercial entre Holanda, Portugal, Inglaterra e Espanha. O Japão virou uma extensão de interesses hegemônicos dos europeus.
      SEGUNDA PERGUNTA:
      Para se pensar o contexto das renegações ao evangelho, temos que ter em mente que eram apostasias forçadas. Essas apostasias eram acompanhadas torturas físicas, psicológicas e até morais. Eram verdadeiros espetáculos públicos, para servirem de exemplo aos demais; podemos destacar também outras humilhações como pisar no fumi-e, cuspir na cruz etc. Nas pesquisas que fiz não li nada sobre relatos de padres que apostataram e exerciam a função sacerdotal clandestinamente. Como eram obrigados a viver segundo costumes japoneses, isso incluía viver maritalmente com uma japonesa. Há uma ruptura com o celibato, os padres tiveram filhos com suas esposas.
      Houve o Kakure Kirishitan (Cristianismo Escondido), que segundo Hichmeh, é filho do sincretismo da religião cristã com as práticas tradicionais do Japão. Nele predomina uma prática voltada ao culto dos antepassados (os mártires japoneses) e divindades cristãs. Os objetos que estes antepassados usaram durante vida, ou até mesmo suas ossadas eram cultuados. Como não havia padres para celebrar as missas e cumprir as funções do sacerdócio, os próprios japoneses faziam sua interpretação das escrituras e imagens sagradas.

      Angélica da Cruz Bernardo.

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    2. Vânia Maria Siqueira Alves5 de outubro de 2018 às 15:24

      É importante lembrar que durante a expansão da fé cristã (diga-se a católica) várias ordens religiosas espalharam por diversas regiões do continente e todas cumpriram importante papel nesse propósito. No entanto, além da finalidade e momento - "Reforma Católica" - em que foi criada, a Companhia de Jesus teve suas ações "melhor documentada" - as cartas ânuas e formas registro - permitiram a essa maior visibilidade a esta. Estudos recentes tem apontado a importância de outras ordens, como a dos franciscanos.

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  7. Boa noite, seguindo a mentalidade nipônica de pluralidade de divindades, no filme, como se é apresentado a ideia de um deus único aos japoneses? E como esses novos devotos demonstram sua conversão a esse Deus?

    Ana Caroline Daloço

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    1. Boa tarde Ana, tudo bem?

      O Deus cristão é apresentado como aquele traria a dignidade, e que todos seriam iguais diante Dele, ou seja, seriam concebidos como Sua criação. Dessa forma era necessário acreditar que todo o sofrimento que passaram não seria em vão, mas que conduziriam a uma salvação, uma vida pós-morte ao lado Dele no paraíso. Podemos notar isso na cena de crucificação na água, quando 3 cristãos estão nesse suplício. Quando o Jiisama (espécie de líder espiritual) morre nesse suplício, Mokichi que estava ao seu lado suplicou a Deus: “Receba o espírito de Jiisama, o sofrimento dele acabou, receba-o Senhor.”
      Há vários momentos que o filme mostra como os japoneses demonstram a sua conversão a Deus e as proporções de sua fé. Irei delinear apenas algumas passagens. Quando os padres Garupe e Rodrigues chegam a Vila de Tomogi, Rodrigues pergunta ao Jiisama se Deus os escuta; a resposta foi: “Sim, Ele mandou vocês até nós”. O filme também mostra o Kakure Kirishitan nesse povoado de Tomogi, porém a condução do povoado para os atos de fé ficou a cargo de Jiisama, o único sacramento que ele poderia realizar é o batismo. Outra atitude que mostra sua conversão é o momento das torturas no qual os japoneses convertidos tinham que pisar no fummie, cuspir na cruz e até mesmo chamar a Virgem Maria de prostituta. Enquanto a maioria dos personagens só realiza o primeiro (pisar na imagem), o único que consegue realizar todos e escapar de ser martirizado é o japonês Kichijiro. Isso de certa forma prova sua fidelidade para com o Deus cristão.


      Angélica da Cruz Bernardo

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  8. O filme como "documento histórico" deve ser entendido e interpretado em uma análise histórica como um produto do seu tempo ou uma reconstrução da história, mesmo que parcial?

    MARIANNY CIRILO BORGES

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    1. Vânia Maria Siqueira Alves5 de outubro de 2018 às 15:12

      Oi Marianny, Sabemos que as mídias audiovisuais assumem um papel importante para a disseminação de temas históricos. A experiência cinematográfica é responsável por abordar diversos temas atinentes à história, ajudando na divulgação da histórica pública por meio de longa-metragem, curta-metragem e documentários.
      Napolitano (2014) disserta sobre três tipos de abordagens entre história e cinema: “o cinema na história; a história no cinema e a história do cinema”. A primeira possibilidade analisa o filme como fonte primária, ou seja, analisa a obra juntamente com o contexto em que ela fora produzido; a segunda abordagem é o cinema como produtor de “discurso histórico” ou “interprete do passado”, sendo analisada a representação da história no filme; e a terceira forma é a análise da história do cinema propriamente dito: linguagem cinematográfica, “avanços técnicos” etc.
      O filme histórico é uma das representações da história capaz de despertar vários sentidos nos espectadores, possibilitando que este conheça o passado através de imagens em movimento, sons, atos dos personagens representados nas unidades narrativas (plano e sequência). Assim, o espectador pode atribuir um sentido ao passado através dos filmes e documentários, ou mesmo questionar o que vê na tela. Todo filme é eivado de historicidade e apresenta uma ideologia e um discurso histórico característico e constitui uma forma de apresentar/representar a história. “O passado contado por imagens em movimentos não elimina as antigas formas da história – vem se juntar à linguagem que o passado pode usar para falar” (ROSENSTONE, 2010, p. 20). Dessa forma, o filme é um documento que apresenta uma versão de mundo, que pode ser fictícia ou não.

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  9. Olá, Angélica e Vânia.

    Parabéns pela análise e escolha do objeto de estudo. Esse filme é realmente muito interessante e possibilita várias leituras.

    A minha pergunta é a seguinte, pensando na questão da produção da obra fílmica, compartilho da ideia de que um filme, mesmo quando tratando de um período histórico, é um produto de seu tempo e de seu contexto de produção. Gostaria que vocês comentassem um pouco como essa obra se insere na filmografia de Martin Scorsese, que vocês mesmas afirmam "ter afinidades com temas religiosos" e como vocês identificam de que maneira essa trajetória do cineasta moldou as escolhas narrativas e históricas do filme.

    Muito obrigada
    Caroline Liamare Magnaguagno Pereira

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    1. Vânia Maria Siqueira Alves5 de outubro de 2018 às 15:49

      Apesar do filme estar relacionado diretamente com um contexto histórico específico, ele ainda trabalha a problemática de um conflito espiritual, sobre o quanto as pessoas estão dispostas a sofrer em nome da fé. O que essa fé significa? Esse lado espiritual que aflora nos personagens do filme se relaciona diretamente com o problema central sintetizado por Scorcese “a essência da fé.” A própria história de Martin Scorcese cruza com a proposta do filme, quando era mais jovem o diretor viveu mergulhado nesse ambiente católico, não por influência dos pais, já que estes não eram muito religiosos, mas por que ali encontrava conforto, refúgio, e as ruas onde viva eram muito duras

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    2. Boa tarde Caroline agradeço o comentário e leitura do ensaio.
      O filme Silêncio de Martin estava em desenvolvimento desde 1990, por isso não é viável analisá-lo junto com o contexto em que foi produzido, enveredar por esse viéz pode nos conduzir a uma erro de análise. Devido a esse motivo nós analisamos a representação histórica do filme.
      Durante muito tempo o diretor viveu fascinado pela história dos jesuítas, quando era criança queria ser missionário. O filme é baseado no livro do japonês católico Shusako Endo e que foi dado de presente para Martin em 1988 pelo arcebispo Paul Moore. Ele explora de maneira inteligente o conflito religioso, a repressão, opressão, a essência da fé e também a crítica esse expansionismo europeu. Em entrevista ao American Magazine – The Jesuit Review ele revelou: “Tive a esperança que houvesse um lugar onde pudesse explorar esses pensamento s e contradições de modo inteligente, mas sempre dentro da fé cristã.” Quando lhe foi perguntado sobre como foi representar esse Japão repressivo ele argumentou que “Eles tem de proteger a sua cultura. Tem de proteger o seu modo de viver e de pensar. E assim que começa se deteriorar deixa de haver Japão.” Martin conseguiu representar muito bem a história de sofrimento para os cristãos em território nipônico, o que levou a essas pessoas ainda a continuar crendo no Deus cristão (a essência da fé, ou seja, os instrumentos que as pessoas escolhem para chegar a fé), mas também trabalhou com os motivos que esse credo já não era mais aceito. Por exemplo, tem um momento no filme que há um diálogo entre Inoue-Sama (inquisidor) e Rodrigues que chego a analisar, porém não coube nesse ensaio:
      “O daimyo de Hirado tinha concubinas. Todas eram lindas. As concubinas do daimyo era ciumentas e as quatros brigavam o tempo todo. Então o daimyo as expulsou do castelo e a paz voltou a reinar [...] Significa que você entende que o daimyo é como o Japão. E suas concubinas são como a Espanha, Portugal, Holanda e Inglaterra. Cada uma tentando tirar vantagem uma da outra e destruindo a casa no processo.”
      Essa é uma crítica que o filme exibe a esse expansionismo europeu, todos esses países de certa forma tecem suas intrigas comerciais ou religiosas dentro do Japão. A expulsão à qual Inoue se refere é o Sakoku (que alguns pesquisadores apontam como a política de isolamento do país) que na verdade é reconfiguração das suas relações internacionais.
      Há outros filme de cunho religioso no carreira do diretor, como por exemplo a Última Tentação de Cristo, que autor apresenta um caminho diferente após a crucificação de Cristo. Nesse viéz Cristo pregado na cruz pede para não morrer, logo seu anjo da guarda aparece e acata sua decisão. Assim Cristo vive como um homem normal se casa e tem uma família, e envelhece. Quando esta prestes a morrer ele se arrepende e avista seus apóstolos todos injuriados. Cristo descobre que a menina não era seu anjo da guarda, mas uma versão do diabo. Com seu arrependimento Cristo volta-se a cena de crucificação e aceita seu caminho que é morrer como mártir salvador.
      Outro filme que podemos citar é o Kundun, que se passa no Tibete e conta a história do líder espiritual décimo 14 Dalai Lama.

      Angélica da Cruz Bernardo.

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  10. Boa tarde

    Meus cumprimentos pelo relevante artigo!

    No Brasil, mesmo tendo havido embates entre a Companhia de Jesus e a Coroa Portuguesa, ainda assim parece inquestionável a importância da contribuição dos padres jesuítas para o êxito do projeto de colonização como um todo, à medida em que ensinou o idioma do colonizador, ensinou sua fé, levou à pessoas tão distantes do universo português, os indígenas, sua visão de mundo.

    No caso da presença jesuítica no Japão, pode-se falar em sua influência em qualquer outro aspecto, para além do projeto catequizador e salvacionista?

    Rita de Cassia Ramos Gomes

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    1. Boa noite Rita, agradeço o comentário e leitura do artigo. Complementando a resposta da Vânia: Sim, podemos! Primeiro que muitos jesuítas também eram mercadores, além de propagar a fé cristã estavam presentes no âmbito das relações comerciais. No auge das missões os jesuítas também ajudaram na construção de igrejas, santas casas de misericórdia, colégios e seminários. Essas construções se concretizaram graças as contribuições e doações dos fiéis.

      Angélica da Cruz Bernardo.

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  11. Vânia Maria Siqueira Alves5 de outubro de 2018 às 15:54

    Oi Rita1 obrigada pelo comentário. É muito destacar que os objetivos dos portugueses no Japão estavam além da propagação da fé, estendia também as atividades comerciais. Estas perderam impulso com as atividades dos holandeses.

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  12. Vânia Maria Siqueira Alves5 de outubro de 2018 às 15:56

    Agradeço aos questionamentos e contribuições e parabenizo Angélica, minha orientada pelo empenho e propriedade nas respostas.

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  13. Boa Tarde! Muito legal seu trabalho. Com relação as ordens religiosas, existe algum motivo da perda do monopólio das missões religiosas dos Jesuítas para os Franciscanos no Japão? Grato Marlon Barcelos Ferreira

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  14. No trecho que você cita"O budismo nessa época fora hostilizado pelo chefe militar por estar envolvido com revoltas populares, e o xintoísmo estava passando por um momento de crise" Neste trecho você cita duas religiões, as minhas dúvidas são: Os motivos que levaram a perseguição do budismo tem a ver somente com o envolvimento de revoltas ou tem a ver também com a introdução do cristianismo ? Em relação ao xintoísmo, a crise pela qual a religião passou tem a ver com a nova conjuntura religiosa da época ?

    Paulo Jorge da Silva Lobato

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