Geraldo Magella de Menezes Neto

O 'FANTASMA' VAI À GUERRA CONTRA OS JAPONESES: DIÁLOGOS ENTRE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E ENSINO DE HISTÓRIA

Início de 1942. A Alemanha domina praticamente toda a Europa. A Inglaterra ainda opõe resistência ao domínio alemão após a derrota dos franceses. No Pacífico, o Japão avança tomando várias ilhas e invadindo a China. Os Estados Unidos acabam de entrar na guerra, após o ataque japonês à base norte-americana de Pearl Harbor em dezembro de 1941.

Além dos soldados, os EUA enviam para a batalha sua legião de super-heróis das histórias em quadrinhos (HQs). Super-homem e Capitão América, por exemplo, combatem os soldados do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e até mesmo enfrentam diretamente Adolf Hitler. Enquanto isso, outro herói combate na fictícia ilha de Bengala: o Fantasma.Ele organiza a resistência dos povos nativos de Bengala contra os invasores japoneses.As HQs que retratam as aventuras do Fantasma na Segunda Guerra foram publicadas nos jornais norte-americanos entre 02 de fevereiro de 1942 e 09 de janeiro de 1943, nas tiras intituladas Os Implacáveis (The Inexorables), e estão reunidos em O Fantasma vai à guerra, publicado em 2014.

Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a HQ de O Fantasma vai à guerra dialogando com o ensino de História,tendo algumas questões norteadoras: como os japoneses são representados no contexto da Segunda Guerra Mundial? Quais valores os quadrinhistas atribuem ao Fantasma e ao Ocidente em contraponto aos orientais?Quais quadrinhos de O Fantasma vai à guerra o professor pode utilizar nas aulas de História?

As histórias em quadrinhos e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
Durante a Segunda Guerra Mundial várias HQs foram publicadas nos Estados Unidos tendo como temática o conflito. Túlio Vilela chama atenção de que mesmo antes da entrada dos EUA na guerra, várias HQs já traziam uma simpatia pelos Aliados. Isso se deve a duas razões: primeiro “porque os nazistas davam ótimos vilões para as histórias”; segundo porque boa parte dos criadores das HQs era de judeus, preocupados com a perseguição de seu povo na Europa. Entre os roteiristas e desenhistas judeus estavam: Jerry Siegel e Joe Shuster, criadores do Super-Homem, Bob Kane, o criador de Batman, Jack Kirby, co-criador do Capitão América e de vários outros personagens,e Will Eisner, o criador do Spirit. (VILELA, 2012b, p. 284).

As HQs de super-heróis nesse contexto se tornaram bastante populares, sendo publicadas além de jornais, em revistas específicas. Para Victor Callari, o sucesso dos quadrinhos de super-heróis nas primeiras décadas do século XX “estava muito mais em seus atrativos visuais, na simplicidade de seus enredos e na identificação de seu público leitor com arquétipos ocidentais.” (CALLARI, 2016, p. 31).

Segundo Roberto Elísio dos Santos e Elydio dos Santos Neto, as HQs buscaram no humor gráfico elementos para estabelecer um diálogo com o leitor sustentado pela leveza da comicidade, presente nos desenhos hiperbólicos e não realistas e nos diálogos carregados de gírias e chistes. A crítica política e a difusão de valores e da propaganda ideológica são realizadas ora de forma ostensiva, ora de maneira sutil. (SANTOS; SANTOS NETO, 2015, pp. 17-18). Acerca das HQs publicadas no contexto da Segunda Guerra, os autores afirmam:

“Além de auferir lucro para as editoras, as revistas de quadrinhos de super-heróis tornaram-se veículos importantes para a disseminação da propaganda oficial durante a Segunda Guerra Mundial. Maniqueístas em sua essência, essas histórias apresentam personagens fortes vestidos com roupas coloridas, que podem realizar tarefas impossíveis para o ser humano comum e que lutam contra malfeitores.” (SANTOS; SANTOS NETO, 2015, p. 18). [grifo e expressão dos autores]

Exemplo clássico é o Capitão América, cuja capa da primeira revista em 1940 mostra o herói desferindo um soco em Hitler, o ditador nazista. Além disso, o herói traja um uniforme com as cores da bandeira norte-americana, representando os valores patrióticos que geravam uma identificação por parte dos leitores e um estímulo aos soldados que estavam no campo de batalha. Assim, “as histórias publicadas nesse período não são apenas um importante documento referente à Segunda Guerra Mundial travada dentro dos Estados Unidos, mas compõem alguns dos mais importantes referenciais do imaginário da guerra.” (CALLARI, 2016, p. 42).

Mais um herói no campo de batalha: O Fantasma vai à guerra
O Fantasma foi criado por Lee Falk em fevereiro de 1936, sendo divulgado inicialmente em tiras publicadas em jornais norte-americanos. O Fantasma foi o primeiro aventureiro mascarado dos quadrinhos, trazendo em si vários dos elementos que depois consagrariam os super-heróis, como o uniforme colante. Para Hessel, a figura do vigilante que responde a um chamado primal deve muito ao Fantasma. (HESSEL, 2016).

Vilela assim explica a origem do Fantasma, cujo nome “civil” era Kit Walker:

“Essa dinastia surgiu na época das Grandes Navegações, quando o sobrevivente de um ataque de piratas chineses a um navio inglês naufragou em Bengala e foi socorrido pela tribo dos pigmeus Bandar. Após encontrar na praia o corpo do pirata que assassinou seu pai, o náufrago britânico jura sobre a caveira do assassino do pai combater a ‘pirataria sob todas as formas’. Nesse mesmo juramento, o náufrago também diz que seus descendentes seguiriam seus passos.” (VILELA, 2012b, pp. 273-274).

Diferente dos outros heróis, o Fantasma não tem superpoderes. Sua força está em suas habilidades de combate, suas pistolas e seus anéis - um na mão esquerda, para marcar as pessoas que ficam sob sua proteção, e outro com um emblema de caveira, na mão direita, que deixa uma cicatriz em quem recebe os socos do Fantasma. (HESSEL, 2016).Ele tem a companhia de um lobo chamado Capeto, e possui um romance com Diana Palmer, que futuramente seria a sua esposa.

O Fantasma vive na fictícia ilha de Bengala. Segundo Vilela, inicialmente estava localizada no golfo de Bengala, uma região da Índia, então sob domínio britânico.Depois,Falk escreveu que ela estava na Birmânia, no sudeste asiático. Já a partir dos anos 1960, Bengala passou a ser identificada como um país africano. (VILELA, 2012b, p. 277).

Callari identifica representações políticas nas histórias do Fantasma já na década de 1930. As histórias deste personagem, “ambientadas na África selvagem e em que o ímpeto colonizador, a ação do branco ocidental, valores higienistas e os estereótipos construídos sobre o africano são latentes.” (CALLARI, 2016, p. 30).

Acerca das contradições do Fantasma, e as críticas recebidas por Falk, Vilela comenta:

“Do ponto de vista político, o Fantasma é um herói bastante ambíguo. As tiras do herói já foram acusadas por seus críticos de reproduzirem o discurso neocolonialista. Afinal, o Fantasma era um homem branco, descendente de britânicos e que reinava sobre uma tribo de pigmeus. Seus antepassados se empenharam para lutar contra piratas chineses, mas nenhuma nação lucrou mais com a pirataria no passado que a Grã-Bretanha. Por outro lado, algumas aventuras mostram o herói como um defensor da soberania dos povos africanos e asiáticos. O Fantasma é colonialista ou anti-colonialista? A julgar por várias de suas histórias, ele consegue ser ambos ao mesmo tempo. Talvez, essa ambiguidade seja uma das características que tornam o Fantasma um personagem mais ‘humano’, pois com todo mero mortal, o herói também tem suas contradições.” (VILELA, 2012b, p. 275).

Durante a Segunda Guerra, Falk produziu as tiras Os Implacáveis, com desenhos de Ray Moore e Wilson McCoy. Daniel Stycer identifica nelas um Fantasma “ainda mais ‘sinistro’ que nas costumeiras aventuras.” (STYCER, 2014, p. 3).Nesta história, Bengala é invadida pelo exército japonês. As tribos de pigmeus inicialmente não se envolvem na guerra, pois acreditam que estão a salvo na floresta. Contudo, com o avanço dos japoneses com suas armas modernas, os pigmeus mudam de ideia. O Fantasma então se reúne com os líderes das tribos e os convence a se unirem para defender a ilha.

Enquanto isso, ao saber do ataque japonês a Bengala, o quartel general do Aliados envia Diana Palmer, acompanhada do capitão Byron, para dar instruções ao Fantasma, que deveria retardar ao máximo o avanço japonês até a chegada das tropas Aliadas. O principal rival do herói é o tenente japonês Kuraki, líder da unidade que faz Diana e Byron reféns. Após muitas reviravoltas, com o Fantasma também sendo feito refém e torturado, e depois capturando sozinho o general Kormura em meio a quinze mil soldados japoneses, no final o Fantasma consegue defender a ilha até a chegada das forças Aliadas.

Imagem 1: Capa de O Fantasma vai à guerra
 (FALK; MOORE; McCOY, 2014).

Entendemos que as tiras de O Fantasma vai à guerra são uma fonte histórica importante que podem ser utilizadas nas aulas de História, para problematizar, por exemplo, a propaganda norte-americana no período da Segunda Guerra Mundial e os estereótipos relacionados aos japoneses.

O Fantasma vai à guerra e o ensino de História
É comum no ensino de História o uso de fontes históricas para fins didáticos. Circe Bittencourt observa que os documentos escolhidos pelo professor “devem ser motivadores e não podem constituir em texto de leitura que produza mais dificuldades do que interesse e curiosidades.” O objetivo é “favorecer sua exploração pelos alunos de maneira prazerosa e inteligível, sem causar muitos obstáculos iniciais.” (BITTENCOURT, 2004, p. 330). Entendemos que as HQs são fontes que geram interesse por parte dos alunos até pelo fato de que vários já possuem a experiência de ler quadrinhos. Antes da escolha das HQs, o professor deve conhecer as particularidades deste tipo de fonte.

Paulo Ramos define as HQs como uma “linguagem autônoma”, que usa “mecanismos próprios para representar os elementos narrativos.” (RAMOS, 2012, p. 17). Santos e Santos Neto apontam uma dupla face dos quadrinhos: ao mesmo tempo em que são mercadorias, pois são “um produto criado como forma de entretenimento para ser consumido por uma grande quantidade de leitores”, os quadrinhos são também arte, “fruto da criatividade e do talento de artistas (roteiristas, desenhistas, coloristas, entre outros) – cujo conteúdo permite interpretações mais profundas e leituras mais sofisticadas.” (SANTOS; SANTOS NETO, 2015, pp. 19-20).

Paulo Ramos descreve a narrativa dos quadrinhos da seguinte forma:

“O espaço da ação é contido no interior de um quadrinho. O tempo da narrativa avança por meio da comparação entre o quadrinho anterior e o seguinte ou é condensado em uma única cena. O personagem pode ser visualizado e o que ele fala é lido em balões, que simulam o discurso direto.” (RAMOS, 2012, p. 18).

As HQs possuem diversos gêneros. A partir de Ramos, compreendemos, os quadrinhos de O Fantasma vai à guerra como tiras seriadas (ou de aventuras), que “estão centradas numa história narrada em partes.” Cada tira “traz um capítulo diário interligado a uma trama maior. Se as tiras forem acompanhadas em sequência, funcionam como uma história em quadrinhos mais longa.” (RAMOS, 2012, pp. 25-26).

Waldomiro Vergueiro aponta alguns motivos que levam as HQs a terem um bom desempenho nas escolas, tais como: os estudantes querem ler os quadrinhos; palavras e imagens, juntos, ensinam de forma mais eficiente; existe um alto nível de informação nos quadrinhos; as possibilidades de comunicação são enriquecidas pela familiaridade com as histórias em quadrinhos; os quadrinhos auxiliam no desenvolvimento do hábito de leitura; os quadrinhos enriquecem o vocabulário dos estudantes; o caráter elíptico da linguagem quadrinhística obriga o leitor a pensar e imaginar; os quadrinhos têm um caráter globalizador; os quadrinhos podem ser utilizados em qualquer nível escolar e com qualquer tema. (VERGUEIRO, 2012, pp. 21-25).

Vilela sugere que os quadrinhos podem ser utilizados no ensino de História de diversas maneiras. Para o caso específico de O Fantasma vai à guerra, adotaremos duas das sugestões de Vilela: os quadrinhos “para serem lidos e estudados como registros da época em que foram produzidas” (VILELA, 2012, p. 110), pois o Fantasma é produzido no contexto da Segunda Guerra, com um roteiro que se inspira nos acontecimentos do conflito mundial; e “para serem utilizados como ponto de partida de discussões de conceitos importantes para a História” (VILELA, 2012, p. 110), a exemplo do etnocentrismo, com a atribuição de valores negativos aos japoneses a partir da ótica ocidental norte americana, e da ideia de propaganda das virtudes dos EUA frente aos países do Eixo.

Dentro das tiras de O Fantasma vai à guerra, optamos por selecionar alguns quadrinhos que representam a forma como é abordado o inimigo do Eixo, o japonês, que é o vilão da história, e alguns quadrinhos que reforçam os valores ocidentais em contraponto aos inimigos. Callari observa que após os ataques a Pearl Harbor em 1941, “histórias repletas de sentimentos xenofóbicos foram escritas autorizando, ainda que apenas moralmente, a perseguição que asiáticos começariam a sofrer nos Estados Unidos.” (CALLARI, 2016, pp. 40-41). Segundo Vilela, nos gibis norte-americanos, os japoneses “costumavam ser quase sempre retratados como anões monstruosos, dentuços e com óculos fundo de garrafa”. (VILELA, 2012, p. 286).

Imagem 2: O soldado japonês agride o capitão Byron
(FALK; MOORE; McCOY, 2014, p. 24).

Imagem 3: O tenente Kuraki agride Diana Palmer
(FALK; MOORE; McCOY, 2014, p. 25).

Imagem 4: Os japoneses não respeitam as leis internacionais
(FALK; MOORE; McCOY, 2014, p. 28).

Nas tiras acima, Diana e Byron, ao aterrissarem em Bengala, são capturados pelos japoneses e feitos prisioneiros. Os japoneses são representados com a cor amarela, uma forma de diferenciá-los dos ocidentais, expressando assim um preconceito racial. Segundo Rodrigo Fonseca, “o inimigo aqui é asiático, ou ‘amarelo’, numa qualificação etnográfica politicamente incorreta (e desprezível), referente à herança de ódio advinda da violência deflagrada por conta do ataque de japoneses à base militar de Pearl Harbor, em 1941.” (FONSECA, 2014, p. 7). Cabe ressaltar que a associação entre os orientais como sendo da raça amarela é formulada, conforme Lilia Schwarcz, no século XIX, a exemplo de Ernest Renan (1823-1892), que apontava a existência de três grandes raças: branca, negra e amarela. Para Renan, as duas últimas “seriam povos inferiores não por serem incivilizados, mas por serem incivilizáveis, não perfectíveis e não suscetíveis ao progresso.” (RENAN apud SCHWARCZ, 1993, p. 82).

Dessa forma, estes quadrinhos representam os japoneses como seres desprovidos de humanidade, pois não respeitam as leis internacionais, só a “lei da faca”, agredindo até mesmo as mulheres, como Diana Palmer, algo considerado intolerável aos valores ocidentais. Os japoneses são associados também a sujeitos traiçoeiros, algo bastante difundido nos EUA após o ataque a Pearl Harbor, o que é expresso na fala de Kuraki: “Nós nos preparamos para isto... durante anos!”, ou seja, já tinham a intenção de atacar os EUA há muito tempo, apesar das negociações diplomáticas entre os dois países antes da guerra.

Outra forma de reforçar os japoneses como vilões terríveis em O Fantasma vai à guerra, é que eles são retratados como aqueles que conhecem vários métodos de tortura e de assassinatos, uma forma de obter as informações de seus prisioneiros. Na cena abaixo, por exemplo, o Fantasma é amarrado a um fio que liga ao pino de uma granada, o que é chamado na história de “método Kuraki”, o que expressa mais uma vez a imagem do japonês como um ser desprovido de humanidade.

Imagem 5: Métodos de assassinato e tortura dos japoneses 
(FALK; MOORE; McCOY, 2014, p. 40).

Lee Falk também enfatiza uma diferença entre os ocidentais e os japoneses, que é a questão da liberdade. Nas tiras abaixo, o Fantasma é resgatado por Diana, Byron e os pigmeus de Bengala. Durante o confronto ele consegue derrubar Kuraki, o líder da tropa.

Imagem 6: Os japoneses não são homens livres
 (FALK; MOORE; McCOY, 2014, p. 56).

A queda de Kuraki, conforme a história, provoca uma desorganização nas tropas japonesas, pois eles não sabem agir sem ordens, ou seja, são sujeitos que não tem iniciativa e pensamento próprio, se limitando a olhar “pateticamente uns para os outros”. O Fantasma justifica que eles “foram treinados para obedecer sem pensar”, o que demonstra a “diferença entre homens livres e robôs.” Essas frases expressam uma visão ocidental que demonstra a crença na superioridade de sua sociedade que preza pela liberdade de seus indivíduos, o que é o oposto da sociedade da chamada raça amarela.

Os ocidentais são apresentados na HQ como tendo valores nobres e modernos, ou seja, de justiça. Em relação ao tratamentodos prisioneiros de guerra, o Fantasma não é violento como os japoneses, nem “selvagem” como os pigmeus de Bengala, que matavam e devoravam os inimigos. O Fantasma ensina então as “regras da guerra moderna”, que respeita as leis internacionais, tratando os inimigos com humanidade.

Imagem 7: Como os ocidentais tratam os prisioneiros de guerra
(FALK; MOORE; McCOY, 2014, p. 20).

Uma forma de Lee Falk realçar o perigo dos inimigos do Eixo é numa cena em que o Fantasma doa todo o seu tesouro para que os pigmeus possam se fortalecer na defesa de Bengala. O tesouro acumulado durante vários séculos é utilizado porque os “bandidos do Eixo” são considerados como os “piratas mais gananciosos de todos os tempos” e “assassinos que não sabem o que é justiça”. Essa não deixa de ser uma mensagem de Falk aos leitores de sua HQ, que também deviam contribuir com o que pudessem no esforço de guerra para a vitória dos Aliados. Essa guerra era de todos para evitar a vitória dos valores antiocidentais.

Imagem 8: O Fantasma doa o seu tesouro para a luta contra os “bandidos do Eixo”
(FALK; MOORE; McCOY, 2014, p. 73).

As tiras selecionadas aqui são apenas um exemplo de fontes que o professor pode escolher em O Fantasma vai à guerra para trabalhar com alunos do Ensino Médio e do 9º ano no Ensino Fundamental, por exemplo. Os quadrinhos devem ser problematizados como um veículo de propaganda, que por meio de seus heróis constroem uma visão da Segunda Guerra a partir da ótica dos Aliados.

O chamado american way of life, a ideia de que o modo de vida norte-americano é o melhor, ainda é muito difundida nas mídias hoje, como o cinema, que são consumidas pelos alunos, o que torna necessária uma reflexão sobre os interesses envolvidos na continuidade dessas versões construídas sobre os eventos da Segunda Guerra.Utilizando os quadrinhos do Fantasma, o professor pode estimular o aluno para uma reflexão crítica sobre as diversas mídias que consome, além de estimular a leitura por meio das HQs.

Referências
Geraldo Magella de Menezes Neto é Professor da graduação e da pós-graduação em História da Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA), e do ensino fundamental da Secretaria Municipal de Educação de Belém (SEMEC). Doutorando em História Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). E-mail: geraldoneto53@hotmail.com

Fonte
FALK, Lee; MOORE, Ray; McCOY, Wilson. O Fantasma vai à guerra. Rio de Janeiro: Ediouro, 2014.

Bibliografia
BITTENCOURT, Circe. Ensino de história: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
CALLARI, Victor. Guerra civil super-heróis: terrorismo e contraterrorismo nas histórias em quadrinhos. São Paulo: Criativo, 2016.
FONSECA, Rodrigo. Nem tudo é verdade... Mas parece um bocado. In: FALK, Lee; MOORE, Ray; McCOY, Wilson.O Fantasma vai à guerra. Rio de Janeiro: Ediouro, 2014.
HESSEL, Marcelo. Os 80 anos do Fantasma. Portal Omelete. 17 fev. 2016.Disponível em: https://www.omelete.com.br/quadrinhos/os-80-anos-do-fantasma. Acesso em: 29 ago. 2018.
RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2012.
SANTOS, Roberto Elísio dos; SANTOS NETO, Elydio dos. Narrativas gráficas como expressões do ser humano. In: SANTOS NETO, Elydiodos; SILVA, Marta Regina Paulo da. (Orgs.) Histórias em quadrinhos e práticas educativas, volume II: os gibis estão na escola, e agora? São Paulo: Criativo, 2015.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questões raciais no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
STYCER, Daniel. Um herói contra o eixo. In: In: FALK, Lee; MOORE, Ray; McCOY, Wilson. O Fantasma vai à guerra. Rio de Janeiro: Ediouro, 2014.
VERGUEIRO, Waldomiro. Uso das HQs no ensino. In: RAMA, Angela; VERGUEIRO, Waldomiro. (Orgs.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2012.
VILELA, Túlio. Os quadrinhos na aula de História. In: RAMA, Angela; VERGUEIRO, Waldomiro. (Orgs.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2012.
VILELA, Marco Túlio. A utilização dos quadrinhos no ensino de história: avanços, desafios e limites. 322 fl. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2012b.


19 comentários:

  1. Oi Geraldo. Parabéns pelo texto. Você possui dados quanto ao impacto específico do "Fantasma" em comparação aos demais heróis de HQs do período nos Estados? Ou seja, a vendagem das histórias, relatos de como essas obras efetivamente trouxeram consequências para o imaginário local. Obrigado! Abraço!

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    1. Prezado Maicon, obrigado pela pergunta.

      Em relação ao Fantasma, infelizmente, não tenho dados numéricos da vendagem. Mas o que posso supor é que o impacto dessas histórias foi grande, pois circularam originalmente nos jornais norte-americanos, em tiras que eram publicadas diariamente entre 1942 e 1943. Ou seja, o leitor que queria saber as últimas notícias da guerra por meio dos periódicos, também se deparava com os quadrinhos do Fantasma, em narrativas que, à semelhança dos folhetins, sempre deixavam para resolver os conflitos na próxima edição do jornal, o que gerava uma expectativa do leitor em querer saber a continuação e o término das aventuras do Fantasma contra os seus inimigos japoneses na ilha de Bengala.

      Abraços,

      Geraldo Magella de Menezes Neto.

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  2. Olá, Prof. Geraldo, excelente texto, parabéns! Sobre o emprego dos quadrinhos na sala de aula visando a assimilação de conceitos como o etnocentrismo, "selvagem" e civilização, o quadrinho tem a facilidade de estimular a imaginação do educando, inserindo-o mais facilmente no contexto estudado, quais seriam as mediações mais adequadas no sentido de auxílio ao mesmo na leitura e compreensão a serem tomadas pelo educador levando em consideração que muitas vezes os educandos não conhecem o personagem citado ? A utilização de vídeos com cenas do filme "O Fantasma" de 1996, por exemplo, como complementação, é uma ferramenta válida?

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    1. Prezado Maicon, obrigado pela pergunta.

      Antes do trabalho com os quadrinhos faz-se necessária uma introdução acerca do personagem Fantasma, que pode ser realizada, como você abordou, com cenas do filme de 1996. Além disso, é importante relacionar o Fantasma com outros heróis que surgiram na mesma época, nos anos 1930 e 1940, mas que são bem mais conhecidos hoje, como o Superman e o Capitão América, para que os alunos possam ter uma visão mais geral dos usos políticos e ideológicos que foram feitos desses personagens no período da Segunda Guerra Mundial. O procedimento metodológico a ser adotado pode ser variado, dependendo da turma com a qual o professor estiver trabalhando: questionários, elaboração de texto, elaboração de novos quadrinhos, encenação teatral, etc.

      Abraços,

      Geraldo Magella de Menezes Neto.

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  3. Muito bom texto professor, parabéns! Das questões trabalhadas no texto, como questões sobre o preconceito, propaganda, e principalmente como explorar essas questões em sala de aula minha pergunta se divide em duas. a) como trabalhar, por exemplo, quadrinhos produzidas durante a Segunda Guerra, mas que foram produzidos pelas potências do Eixo sem que se crie pensamentos simpáticos ao totalitarismo?
    b) Gostaria de saber como os heróis de HQ's, desenhos, filmes e etc. ao apresentar tamanho altruísmo e benevolência em sua ações perpetuaram discursos racistas, e como no próprio caso do Fantasma, neocolonialista?

    Welerson Fernando Giovanoni, UNESPAR - campus União da Vitória-PR

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  4. Olá professor Geraldo. Reflexão interessante sobre as HQs e História.

    Na sua opinião, e experiência na prática docente, o fato do Fantasma ser um herói menos conhecido do que os clássicos da Marvel e DC facilitam ou atrapalham a curiosidade dos alunos em conhecer suas histórias? Seria interessante também, utilizando a mesma metodologia, traçar um paralelo sobre as representações étnicas e raciais com autores asiáticos, como por exemplo Gen Pés Descalços?

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    1. Prezado Hezrom, obrigado pela pergunta.

      Acredito que o fato do Fantasma ser menos conhecido facilita, pois os alunos podem identificar algumas semelhanças e diferenças em relação aos super-heróis mais famosos. Realmente, uma análise comparativa com Gen Pés Descalços seria interessante, uma fonte com o olhar oriental sobre os horrores da bomba atômica. O professor poderia trabalhar as duas representações sobre a Segunda Guerra Mundial nos quadrinhos, estimulando o olhar crítico dos alunos.

      Abraços,

      Geraldo Magella de Menezes Neto.

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  5. Parabéns Professor, um excelente trabalho!!!
    E como primeira referencia bibliográfica a obra da Circe Bittencourt, o mesmo texto que trabalhou conosco, é bom perceber que um texto que o senhor possibilitou que pudéssemos conhecer, analisar, discutir e trabalhar lhe service para criar um trabalho tão bem estruturado e embasado teoricamente como esse. E reconhecer o quanto o seu trabalho é importante e possibilita trabalhar História não só da maneira tradicional, tanto quanto metodologicamente, quanto pensando história partindo de uma óptica não apenas europeia/americanizada.

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    1. Muito obrigado Evellyn!!!

      O livro da Circe Bittencourt é uma referência sobre o ensino de História e a utilização de fontes em sala de aula.

      Abraços,

      Geraldo Magella de Menezes Neto.

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  6. Olá Geraldo. Parabéns pelo texto! Sobre as representações dos japoneses, como podemos analisar a imagem do nipônico traidor, covarde, amarelo, dentuço, disciplinado etc. Em uma aula do 9º Ano, trabalhando não só a Segunda Guerra, mas outros temas a ela ligados? para além da propaganda de guerra e do esteriótipo sobre o japonês.

    VICTOR LIMA CORRÊA

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    1. Prezado Victor, obrigado pela pergunta.

      Creio que a questão do preconceito e a análise de estereótipos em relação ao outro são temas muito atuais, que podem ser trabalhados tomando como ponto de partida essas representações negativas relacionadas aos japoneses. A imagem, por exemplo, dos árabes, dos asiáticos e dos latino-americanos nos filmes de Hollywood ainda hoje estão repletos desses estereótipos. O professor pode fazer essa relação de continuidade, logicamente em outros contextos históricos, mas que também visam divulgar e fazer predominantes o american way of life.

      Abraços,

      Geraldo Magella de Menezes Neto.

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  7. Olá, professor parabéns pelo seu texto, bem embasado e com uma discussão temática realmente aplicável em sala de aulas.
    Ao discutirmos estes assuntos apresentados na HQ O Fantasma vai à Guerra com nossos alunos em conjunto com estudo direcionados sobre a guerra no pacífico, embora me pareça que a fictícia Bengala fique no continente Africano, Tirando esta polêmica questão geográfica,conseguimos expor aos nossos alunos o contexto vivenciado pela sociedade estadunidense e pelos aliados durante esta fase da II guerra. A história reforça as visões e ideais preconceituosos que existiam na época em relação aos inimigos e aos "povos" considerados inferiores que necessitavam da ajuda dos "mocinhos" aliados para vencer as forças "malignas" do eixo.
    Você saberia informar se estas HQs chegaram a ser reproduzidas aqui no Brasil durante a guerra, e se existe algum estudo sobre a repercussão deste tipo de propaganda de guerra(HQs) nas nossas terras. Abraços.
    Wander da Silva Mendes

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  8. MARIA JOSILDA FERREIRA DA SILVA

    Geraldo, adorei seu texto e as abordagens que vocês trás em torno da compreensão histórica para os estudantes através dos quadrinhos. Apesar deles serem criados em sua maioria como fonte econômica para quem as produz, os quadrinhos são ricas fontes de aprendizagem para os alunos. Parabéns pela bela produção!

    Maria Josilda Ferreira da Silva

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  9. Muito obrigado Maria!

    Com certeza, os alunos das diversas séries gostam e tem curiosidade sobre os quadrinhos, então já é um excelente ponto de partida para o professor.

    Abraços,

    Geraldo Magella de Menezes Neto.

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  10. Ótimo texto. Não quero nem perguntar nada, só elogiar mesmo.
    Ketlin Rodrigues

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  11. Boa tarde, professor!! Seu texto é muito interessante e de leitura agradável.
    Este tema abordado por ti é um dos preferidos dos alunos, não conhecia este personagem e fiquei tentada a utilizá-lo nas minhas futuras aulas sobre 2 Guerra.
    Acho que os super-heróis criados com a finalidade de fazer a propaganda ideológica dos países beligerantes, ajudam os nossos alunos a terem a dimensão de como funcionava uma propaganda ideológica e de como a mesma influenciava na motivação e moral de uma população. Gostaria de saber qual personagem criado pelas potências do Eixo para fins propagandísticos e se os mesmos também tiveram a mesma repercussão que teve "O fantasma", Capitão América, dentre outros?

    Parabéns e continue nos presenteando com textos tão instigantes como este.

    Lidiana Emidio Justo da Costa

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  12. Parabéns, Geraldo! Pelo texto, pela pesquisa e pelo compartilhamento! Vou organizar aulas a partir dessa leitura!

    Fica uma pergunta: nesse contexto, sabes se no Japão havia algum tipo de "propaganda" contra os ocidentais? (Penso nos mangás...)

    Abraço,
    Daniela Maria Weber

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  13. Ótimo texto! Obrigada por essa colaboração! Gostaria de saber se é e quais aproximações seriam possíveis desenvolver, a partir dessa discussão, com o cenário político atual, onde entra o Brasil, nesse caso.
    Nayara Brito Pereira

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  14. Este comentário foi removido pelo autor.

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