Luciana Lamblet Pereira

ORIENTE EM QUADRINHOS: HQ COMO RECURSO DIDÁTICO NA DESCONSTRUÇÃO DE ESTERIÓTIPOS ORIENTALISTAS

Introdução
Em 1978, Edward Said apresentou ao mundo acadêmico o termo Orientalismo. Em seu livro homônimo, o intelectual de origem palestina afirma que o Oriente é uma invenção do Ocidente. Neste sentido, dado que tanto um quanto o outro não são termos ontológicos, cabia compreender como os ocidentais - a partir de obras de artistas, exploradores, viajantes, cientistas e professores - apresentaram e interpretaram os orientais.

Em resumo, o Orientalismo pode ser compreendido enquanto a forma como o Ocidente aborda, vê e compreende o Oriente a partir de suas experiências. O que nos leva a seguinte questão: o olhar e o conhecimento produzido no Ocidente relativos ao Oriente dizem mais sobre o primeiro que sobre o segundo.

Toda essa narrativa sobre o outro, de acordo com Said, gerou um discurso que direta ou indiretamente autorizava o domínio, a colonização e o governo sobre o Oriente. O Orientalismo fora, portanto, um empreendimento cultural que produziu um imaginário, uma tradição, um vocabulário, uma história do Oriente no e para o Ocidente.

Passados quarenta anos da publicação do livro de Edward Said ainda praticamos e acreditamos, quase que religiosamente, no discurso Orientalista. Nosso imaginário acerca do Oriente é permeado por estereótipos e construções que quase nada condizem com a dinâmica, a complexidade e a diversidade daquele espaço geopolítico.

Ao desenvolver pesquisas, aulas e palestras sobre o Islam e o Oriente Médio em Universidades e Unidades Escolares, pude testemunhar o quanto o Orientalismo ainda é uma força poderosa na criação do imaginário oriental e consequentemente na perpetuação de visões estereotipadas e preconceituosas acerca “deles”. Fato é que desconhecemos grande parte do mundo.

Este processo me levou a refletir sobre métodos e recursos didáticos que pudessem ser utilizados em salas de aula no Ensino Básico na tentativa de nos aproximar da História e da cultura dos povos orientais a partir da fala deles. Não é uma questão de “dar voz”. O Oriente sempre teve voz. Fora o Ocidente quem o silenciou. A questão é trabalharmos, junto aos alunos, a possibilidade de abrirmos a nossa escuta ao Oriente a partir da produção local. Acredito que as Histórias em Quadrinhos podem ser grandes aliadas nessa caminhada.  Um exercício para nos abrirmos ao conhecimento do “outro”, a partir do “outro”, exercitar nossa escuta, nossa empatia, desafiar nosso etnocentrismo, ampliar olhares e perspectivas. E com isso também nos conhecer melhor.

Uma disputa epistemológica
“(...) uma mulher Negra diz que ela é uma mulher Negra, uma mulher branca diz que é uma mulher, um homem branco diz que é uma pessoa.” (KILOMBA, 2017, p. 8)

Com esta anedota, Grada Kilomba (2017) critica o discurso universalizante construído a partir de uma perspectiva do homem branco ocidental, especialmente europeu. A fala e, portanto, o conhecimento deste sujeito é entendido como universal. Suas experiências e seu olhar são colocados como condição humana. O que nos leva a desvalorizar e subalternizar outros conhecimentos e outras falas.

Aqui no Brasil, nosso olhar sobre a ciência e os discursos que legitimamos enquanto científicos são, de forma geral, construídos a partir desse ideal universalizante. A bibliografia de nossos cursos universitários ainda resiste ao multiculturalismo, respaldada por um mercado editorial que reza a cartilha Orientalista. Portanto, precisamos refletir sobre nossos currículos e leituras, desnaturalizando-os e compreendendo-os como uma disputa em si mesmos: o que entendemos como conhecimento? O que legitimamos como autoridade científica? E o que desprezamos ao realizarmos essas escolhas?

Ainda segundo, Grada Kilomba:

“O conceito de conhecimento não se resume a um simples estudo apolítico da verdade, mas é sim a reprodução de relações de poder raciais e de gênero, que definem não somente o que conta como verdadeiro, bem como em quem acreditar. Algo passível de se tornar conhecimento torna-se então toda epistemologia que reflete os interesses políticos específicos de uma sociedade branca colonial e patriarcal.” (KILOMBA,2017, p. 4)
Grada Kilomba nos lembra o que significa o termo epistemologia que, enquanto ciência do conhecimento, determina as temáticas que merecem atenção, as narrativas e interpretações legítimas para explicar algum fenômeno, assim direcionando qual perspectiva de conhecimento é válida e qual a metodologia deve ser utilizada na produção do conhecimento. Neste sentido, a epistemologia “define não somente como, mas também quem produz conhecimento verdadeiro e em quem acreditamos.” (KILOMBA, 2017, p.5)

Para contribuir coma reflexão proposta, torna-se mister discutirmos a perspectiva multiculturalista. Esta, para além de uma teoria, é também uma prática social, cujo papel da escola é fundamental neste processo. Grupos sociais foram historicamente silenciados por pertencerem a identidades distintas daquelas compreendidas como aceitáveis e corretas. O espaço escolar, seja no ensino básico ou no ensino superior, alimentou e reproduziu esse olhar determinando quem iria falar, e qual modo correto de se pensar e fazer ciência. 

O multiculturalismo também visa quebrar a perspectiva que associa a diferença à inferioridade. O “outro” – seja ele outro pela raça, etnia, gênero, crença ou nacionalidade – é visto a partir de uma relação desigual e estereotipada. E mais ainda como uma ameaça aos valores e padrões ocidentais. Tais padrões são obviamente construções sócio históricas, mas que obtiveram muito êxito até os dias de hoje, em que há uma naturalização da perspectiva euroamericana que nos faz achar tudo o que não é conhecido como feio, estranho, inferior, atrasado e temível.

Neste sentido, uma defesa do multiculturalismo em nossas escolas passa por

“evidenciar o sentido político cultural de se educar as atuais e as novas gerações a partir de uma visão multicultural crítica, que leve em conta, no processo formativo dos sujeitos, a necessidade e importância de se reconhecer, valorizar e acolher identidades plurais sem representar ameaças ou quaisquer formas de naturalização do preconceito e desrespeito à vida humana, independente de sexo, cor, gênero, credo, etnia, nacionalidade. Busca-se, com isso, superar mecanismos discriminatórios ou silenciadores da diversidade cultural, em nome de uma sociedade baseada na justiça social.”(BRANDIM e SILVA, 2008, p. 51)

O Brasil há décadas aponta em seus documentos oficiais, tais como os PCNs, a importância de uma educação que discuta o respeito à diversidade cultural. Porém, nossos currículos ainda são extremamente “colonizados”. Há uma tímida tentativa de mudança na adoção de livros paradidáticos escritos por negros e indígenas, mas nada tão substancial que revisite nossos olhares, que abra espaço para diferentes vozes, que incorpore de fato em nossos currículos o multiculturalismo. Este é mais do que aceitar a multiplicidade cultural, bem além da ideia de tolerar o outro. Mas é sim valorizar a diversidade, reconhecer a existência, conhecer a igualdade na diferença e democratizar o ensino.

Nesse sentido, levar em conta a pluralidade cultural no âmbito da educação implica pensar formas de reconhecer, valorizar e incorporar as identidades plurais em políticas e práticas curriculares. Significa, ainda, refletir sobre mecanismos“discriminatórios que tanto negam voz a diferentes identidades culturais, silenciando manifestações e conflitos culturais, bem como buscando homogeneíza-las numa perspectiva monocultural.” (BRANDIM  e SILVA, 2008, p. 56)

Como podemos observar, o papel do professor é fundamental para a perspectiva multiculturalista, em sua necessidade de questionar quem aponta o que é importante discutir em sala, quem seleciona as narrativas e os olhares que irão construir os saberes e as reflexões em nossas escolas.Estamos aqui corroborando com a ideia de incorporação desta perspectiva nos currículos escolares para além de projetos sazonais, mas como novas formas de pensar o saber e o ensino: de quais narrativas nos apropriamos e apresentamos para a reflexão em nossas salas de aula? O quanto não internalizamos e, portanto, legitimamos a colonização do olhar e da visão de mundo? E no caso aqui específico, o quanto ainda somos orientalistas e reinventamos o Oriente a partir do nosso pensamento colonizado?

Em resumo, a perspectiva multiculturalista

“reflete sobre a necessidade de redefinir conceitos como cidadania e democracia, relacionando-os à afirmação e à representação política das identidades culturais subordinadas. Como corpo teórico questiona os conhecimentos produzidos e transmitidos pelas instituições escolares, evidenciando etnocentrismos e estereótipos criados pelos grupos sociais dominantes, silenciadores de outras visões de mundo. Busca, ainda, construir e conquistar espaços para que essas vozes se manifestem, recuperando histórias e desafiando a lógica dos discursos culturais hegemônicos. Os estudos sobre os fenômenos culturais partem da necessidade de compreensão dos mecanismos de poder que regulam e autorizam certos discursos e outros não, contribuindo para fortalecer certas identidades culturais em detrimento de outras.” (BRANDIM  e SILVA, 2008, p. 61)

Assim, podemos afirmar que estamos diante de uma disputa epistemológica. E tal disputa é extremamente revolucionária, segundo Linda Alcoff (2016). Para a filósofa panamenha, uma transformação precisa passar necessariamente por uma revolução do olhar sobre o conhecimento. A autora critica um ceticismo que apenas aponta para o caráter colonizador da construção epistemológica euroamericana sem de fato apresentar novas propostas e novas visões acerca do conhecimento. Neste sentido, seria importante subverter o que Alcoff chama de “geografia da razão”:

“O que nomeio como “obstáculo epistemológico” é, portanto, a recusa a se engajar no trabalho reconstrutivo da epistemologia para seguir além do ceticismo crítico e reconstruir a maneira de se fazer verdadeiras reivindicações responsáveis pela realidade política, assim como confiáveis e adequadas à complexidade da realidade. O projeto de “mudar a geografia da razão” requer este trabalho reconstrutivo, bem como reclama de nós o desvelamento e a reavaliação dos conhecimentos rejeitados e o esclarecimento dos fundamentos de nossas próprias demandas de adequação ou de progresso epistêmico.” (ALCOFF, 2016, p. 133)

Linda Alcoff chega ao ponto crucial da questão aqui levantada a partir da crítica de Edward Said ao Orientalismo, qual seja, a necessidade de compreendermos a diferença das experiências em espaços distintos. A questão, portanto, passa pela necessidade de decolonização epistemológica:

“O projeto de decolonização epistemológica (e a mudança da geografia da razão) requer que prestemos atenção à identidade social não simplesmente para mostrar como o colonialismo tem, em alguns casos, criado identidades, mas também para mostrar como têm sido silenciadas e desautorizadas epistemologicamente algumas formas de identidade enquanto outras têm sido fortalecidas. Assim, o projeto de decolonização epistemológica presume a importância epistêmica da identidade porque entende que experiências em diferentes localizações são distintas e que a localização importa para o conhecimento.” (ALCOFF, 2016, p. 136)

Acreditamos que um pequeno passo nessa perspectiva de crítica ao Orientalismo, defesa do multiculturalismo e de decolonização epistemológica pode ser dado em nossas salas de aula ao escolhermos criteriosamente o material didático a ser trabalhado com os alunos. A adoção de instrumentos produzidos pelos próprios sujeitos históricos pode contribuir para abrir a nossa escuta ao “outro” e minimizar a construção de estereótipos e preconceitos.

O Oriente em quadrinhos
“O futuro das graphic novels depende de autores que de fato acreditem que a aplicação da arte sequencial, com seu entrelaçamento de palavras e imagens, estabelece uma dimensão comunicativa que contribui – de maneira cada vez mais relevante – para o fazer literário que se ocupa de investigar a experiência humana.” (EISNER, 2010, p. 149)

Will Eisner foi um dos maiores cartunistas e, segundo algumas perspectivas, pioneiro na chamada graphic novels. Não à toa o principal prêmio para HQs leva seu nome. Eisner definiu a nona arte enquanto “(...) arte sequencial como veículo de expressão criativa, uma disciplina distinta, uma forma artística e literária que lida com a disposição de figuras ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma ideia.” (EISNER, 2010, p. IX)

Uma HQ trabalha acima de tudo com uma disposição de elementos (imagens, balões, palavras, quadros) que caracterizam uma linguagem em forma de narrativa gráfica. Esta linguagem está intrinsecamente ligada à experiência visual. Isto nos traz uma primeira motivação para instrumentalizarmos as HQs no processo de ensino-aprendizagem: nossa sociedade contemporânea é extremamente imagética. Nossas crianças e jovens são constantemente bombardeados com imagens em seus aplicativos e redes sociais.

Um segundo ponto atrativo das HQs é que ela ainda hoje é uma das portas de entradas das nossas crianças no mundo da leitura. Como sabemos, a leitura é uma atividade ampla e não se restringe apenas às palavras. Símbolos, mapas, diagramas, gráficos, circuitos, imagens e notas musicais também precisam ser lidos e contribuem fundamentalmente na ampliação da percepção de mundo do aluno. Os quadrinhos contribuem neste processo, pois exigem múltiplas leituras em cada quadro:

“As histórias em quadrinhos apresentam uma sobreposição de palavra e imagem, e, assim, é preciso que o leitor exerça as suas habilidades interpretativas visuais e verbais. As regências da arte (por exemplo, perspectiva, simetria, pincelada) e as regências da literatura (por exemplo, gramática, enredo, sintaxe) superpõem-se mutuamente. A leitura da história em quadrinhos é um ato de percepção estética e de esforço intelectual.” (EISNER, 2010, p. 2)

Uma característica muito importante das narrativas gráficas é o timing, que está diretamente relacionado com a disposição do quadrinho. O timing é uma mensagem ou emoção transposta a partir da utilização dos elementos do tempo:

“É essa dimensão da compreensão humana que nos habilita a reconhecer e compartilhar emocionalmente a surpresa, o humor, o terror e todo o âmbito de experiência humana. É nesse teatro da nossa compreensão que o narrador gráfico exercita a sua arte. No cerne do uso sequencial de imagens com o intuito de expressar a passagem do tempo está o caráter compartilhado da sua percepção.” (EISNER, 2010, p. 24)

Neste sentido, a imagem contribui para a ideia de uma experiência comum, evocando a realidade. Isto, no caso do ensino de História, contribui para que a/o aluna/o se sinta mais próximo dos sujeitos históricos estudados. As emoções dos personagens dos quadrinhos, como medo, dor, angústia, amor, sonhos e desejos são expressos de forma que o leitor se identifique com essas emoções e sinta compartilhando delas com os personagens. As narrativas gráficas têm a tendência a nos aproximar do “outro”, pois, literalmente, enxergamos as suas dores e belezas.

O diálogo nos quadrinhos também possui a sua peculiaridade. Ele ultrapassa as letras e conjuga linguagem escrita e visual. Aqui a imagem diz tanto quanto as palavras e exige do leitor uma atenção a todos os signos presentes, conjugando-os e interpretando-os. Importante ressaltar que a imagem não está somente nos personagens e no cenário. Também lemos o formato do requadro, a inclinação do quadrinho e as formas do letramento. Tudo isto deve ser lido e percebido em seu conjunto. Afinal, em uma HQ os desenhos são mais do que ilustrações, eles são partes constituintes da narrativa, eles contam também a história.

Nos últimos anos estamos recebendo traduções de artistas consagrados em seus países de origem que nos permitem conhecer mais a sua história e as suas experiências. Esse é o caso de “Maus”, a obra premiada de Art Spiegelman que aborda o Holocausto e do mais recente “O árabe do futuro”, de Riad Sattouf que nos traz o cotidiano de uma família entre os costumes e as tradições do Ocidente e do mundo árabe-muçulmano. Ambas são baseadas em experiências pessoais e familiares que nos aproxima de realidades tão distintas das nossas e, portanto, contribuem para a reflexão sobre “o outro”.

Da mesma forma, a trilogia “Uma vida chinesa”, que apresentaremos agora mais detidamente. Com roteiro de P. Ôtiê e arte de Li Kunwu, a obra é o testemunho de Kunwu das suas experiências e lembranças da China de Mao Tsé-Tung até os dias de hoje.

O artista nos apresenta sua relação com o pai, atravessada pela relação com o Partido e a revolução. É muito interessante acompanhar como Li Kunwu foi criado a partir do olhar revolucionário do pai e como slogans e palavras de ordens vão sendo introjetados em seu vocabulário e seu modo de olhar o mundo. A partir da perspectiva infantil, conhecemos a fome proporcionada pelo Grande Salto Adiante, o ensino extremamente doutrinário nas escolas chinesas e a Revolução Cultural. O quadrinho, assim, contribui para que nos aproximemos do cotidiano, do dia-a-dia de uma família que tem seus sonhos e desejos construídos a partir de uma concepção de revolução. A dialética filho-pai/Partido-Mao é narrada de forma a compreendermos como a história do país chega às casas e se conjuga com as relações pessoais.

A linguagem da revolução está presente o tempo todo na obra, não só nas palavras, mas no corpo de Kunwu e seus amigos: corpos que se preparam para o combate contra os inimigos, rostos infantis já tão sisudos, olhares ternos e amorosos diante das imagens do grande líder. A leitura visual aqui se torna fundamental para a compreensão do quadrinho, ao mesmo tempo em que contribui para a ambientação. A figura de Mao Tsé-Tung é constantemente exposta se sobrepondo, ultrapassando os limites de um requadro, nos trazendo a sensação de alguém poderoso, de um grande líder a ser seguido. A técnica utilizada aqui nos permite ver Mao tal como o pequeno Li Kunwu e seus colegas o viam.

A propaganda oficial incessante pode ser vista no quadrinho de forma sutil, compondo o cenário quando os personagens caminham pelas ruas chinesas, ou de forma mais agressiva, quando o próprio Li Kunwu se torna um artista propagandista do governo. A sua trajetória nos apresenta um olhar sobre a China e possibilita que nós leitores compartilhemos emoções com o “outro”, contribuindo para a construção de pontes que liguem nossas humanidades.

Em resumo, a partir da narrativa gráfica, os três volumes da obra nos possibilitam olhar para um contexto tão diverso do nosso sem estereótipos e orientalismos. Seus traços e diálogos nos apresentam e nos aproximam de um cotidiano chinês que pouco a pouco vai desconstruindo nosso estranhamento, possibilitando a compreensão do processo histórico e não seu julgamento. 

Referências
Luciana Lamblet é Professora de História Contemporânea da Universidade Castelo Branco e Unyleya, Doutora em História Social pela UFF.

ALCOFF, Linda Martin. Uma epistemologia para a próxima revolução. Revista Sociedade e Estado – Volume 31, nº 1, jan. abr. 2016.
BRANDIM, Maria Rejane Lima e SILVA, Maria José Albuquerque da. Multiculturalismo e educação: em defesa da diversidade cultural. Diversa. Ano 1 – nº 1, pp. 51-66, jan. jun. 2008.
EISNER, Will. Narrativas gráficas. São Paulo: Devir, 2013. 3 ed.
___________.  Quadrinhos e arte sequencial. São Paulo: editora WMF Martins Fontes, 2010.
KILOMBA, Grada. Descolonizando o conhecimento. Uma Palestra-Performance de Grada Kilomba. Disponível em: http://www.goethe.de/mmo/priv/15259710-STANDARD.pdf , último acesso em 20/08/2018.
KUNWU, Li. Uma vida chinesa. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017. 3 volumes.
SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

19 comentários:

  1. Boa tarde Luciana, parabéns pela excelente análise.
    Tendo em vista que a proposta não é "dar voz" ao Oriente, mas debruçar sobre o silenciamento provocado pelo Ocidente e promover uma visão não estereotipada acerca desses povos, acredito que a utilização didática de HQ partiria a principio da produção vinda desses países. Todavia, me questiono como trabalhar com esses HQs se tratando do contexto da escola pública. De que forma, nós enquanto professores poderíamos atuar na construção de HQs para que possamos atingir os objetivos tratados na reflexão?

    Att,
    Leide Rodrigues dos Santos

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    1. Olá, Leide. Muito obrigada pela sua questão. Já trabalhei em escolas públicas e conheço essa dificuldade. Como solicitar aos alunos enquanto material paradidático é inviável, há algumas alternativas:
      1) pequenas rodas de leitura com o exemplar dx professorx;
      2) alguns quadrinistas disponibilizam sua arte online gratuitamente (o problema aqui seria da língua materna)
      3) eu reproduzia algumas tiras em power point mesmo
      4) por vezes, em conjunto com a professora de artes, os próprios alunos elaboravam seus quadrinhos inspirados no autor e no conteúdo
      Att,
      Luciana Lamblet

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  2. Oi Luciana. Parabéns pelo texto. As HQs são excelentes instrumentos didáticos para dialogar sobre quaisquer temáticas dentro da sala de aula, seja utilizando como fonte para a análise historiográfica - como nos exemplos de obras que trouxestes, mas também, pessoalmente considero mais frutífero, como objeto elaborado pelo próprio corpo estudantil na formação dos saberes sobre as temáticas. Nesse sentido, charges e tirinhas também se apresentam como alternativas para análise temática. Com base na sua narrativa, as HQs podem contribuir na ruptura dos estereótipos que se formam sobre o "outro", aqui o asiático. Como sistematizar a produção e análise das HQs acerca de temáticas com os quais os (as) estudantes tem pouco acesso ou até mesmo estereotipados dentro do livro didático com o qual os (as) mesmos (as) tem acesso? Obrigado! Abraço!

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    1. Olá, Maicon. Muito obrigada pela sua contribuição à reflexão. Eu costumo trabalhar os esteriótipos justamente a partir deles mesmos. Então se encontro no livro uma visão estereotipada de algo, começo a aula com aquela imagem, ajudando na desconstrução e pensando com os alunos como aquele imagem poderia ser substituída.
      Já também trabalhei em conjunto com a professora de artes com os alunos produzindo suas próprias tirinhas.
      Quando é um local onde os alunos não tem acesso aos livros e HQs, geralmente levo para a sala ou reproduzo algumas imagens em power point.
      Forte abraço!

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  3. Boa tarde, Luciana!
    Em primeiro lugar, parabéns pelo tema tratado em seu texto. O Oriente é mesmo visto através de um véu (muitos véus?) de estereótipo aqui no Ocidente, e por isso é de extrema necessidade que este tema seja tratado na sala de aula. Trata-se de uma espécie de descolonização do olhar. E as HQs são um caminho fantástico, por serem um gênero literário bastante atrativo a diversas faixas etárias. Importantíssimas as colocações que você fez a respeito não só do conteúdo das HQs, mas também de seu formato. É um gênero muito específico e que tem grandes vantagens em sala de aula.
    Eu gostaria de saber de que forma você recomenda que seja abordada a história da China – ou, mais especificamente, do momento da China em que se passa o texto – em sala de aula, em conjunto com a HQ apresentada (“Uma vida chinesa”). Uma ou algumas aulas expositivas funcionariam? Ou existe alguma outra fonte (filme, música, texto literário) que você considere fundamental para abordar o período dessa história em quadrinhos? Alguma indicação sobre Mao Tsé-Tung me parece muito pertinente.
    Você escolheu belas referências e citações, e seu texto é de leitura muito agradável. Parabéns novamente!
    Abraço!
    Natasha Ribeiro Hennemann

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    1. Olá, Natasha. Muito obrigada pelas suas colocações. Contribuem muito para a reflexão.
      Acredito que antes da análise da HQ, uma aula expositiva seria importante. É um processo histórico muito distante dos nossos alunos.
      Uma dica seria o trabalho em parceria com a professora de literatura com o livro "Balzac e a costureirinha chinesa" (tem filme também). É excelente. E pega justamente o período da Revolução Cultural, além de falar do poder apaixonante e mobilizador da literatura.
      Sobre o Mao, eu só conheço livros muito acadêmicos. Não saberia indicar algo para ser trabalhado com os alunos.
      Mas quando discuto regimes autoritários, costumo utilizar as imagens dos cartazes. Eles foram muito importantes até a década de 1950.
      Espero ter contribuído.
      Grande abraço!

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  4. Bom dia, Luciana!
    Gostei muito do teu texto! Acho fundamental o historiador estar aberto para as novas fontes históricas. As Hqs são um caso de sucesso como fontes, pois elas dizem muito sobre a sociedade que a produziu. Quando pegamos os mangas japoneses, por exemplo conseguimos compreender melhor o imaginário e a teia de significados sociais, deste local. O oriental falando sobre ele mesmo, e não visto sobre concepções valorativas e estereotipadas do ocidente. Na tua opinião quais os principais aspectos da cultura oriental estão presentes na Hq?
    Abraços,
    Vitória Duarte Wingert

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    1. Vitória, eu não consigo abrir a caixa de respostas abaixo da sua questão. Então vou te responder por aqui, ok?
      Na HQ que trabalhei vejo uma preocupação maior em discutir os impactos e o legado da Revolução Chinesa, do que aspectos típicos da cultura oriental. Embora haja vários personagens, ela é uma autobiografia e aborda uma família que era ligada ao PCC. É uma criança criada dentro e fora de casa para ser uma boa comunista, para amar o Partido, a revolução e seu líder.
      O interessante ali é compreender esse mecanismo e como as pessoas vão internalizando ou resistindo ao autoritarismo.
      Mas do que podemos tirar dali em termos de visão oriental é o orgulho que eles têm de sua história, dos seus impérios e como a revolução esteve ligada a esse orgulho e a necessidade de se afirmar independente, fora do poderio Ocidental ou japonês.
      Tendemos a ver o Oriente como algo menor, inferior, subjugado, enquanto essa não é a visão dos chineses em relação a si mesmos.
      Obrigada pelas suas observações! Os mangás japoneses ainda são um mundo que preciso desvendar melhor. Sei muito pouco, mas acho que deve ser incrível.

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  6. Olá, professora Luciana!
    “Nossas crianças e jovens são constantemente bombardeados com imagens em seus aplicativos e redes sociais.”
    Com o avanço da tecnologia muda o perfil do professor e do aluno, portanto, nas salas de aula sente-se a “urgência” de propostas inovadoras para o ensino-aprendizagem. Me chamou também a atenção essas suas palavras:“A sua trajetória nos apresenta um olhar sobre a China e possibilita que nós leitores compartilhemos emoções com o “outro”, contribuindo para a construção de pontes que liguem nossas humanidades.” Diante dessa afirmação, pergunto: Como conseguir envolver os responsáveis pelo ensino-aprendizagem nesse processo de mudança, nessas novas linguagens de ensino?
    Obrigada e parabéns pelo texto.
    Celiana Maria da Silva.

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    1. Olá, Celiana! Muito obrigada pelas suas observações. Acho preocupante quando profissionais de ensino não estão abertos a mudanças. As sociedades mudam, as relações sociais de ressignificam, o aluno de hoje não é o mesmo que o de 30 anos atrás... então por que a escola e o professor devem permanecer os mesmos? Não faz sentido algum.
      Eu acredito que há uma insegurança e até mesmo um desconhecimento sobre novas práticas e metodologias. É fundamental que a escola trabalhe cursos, palestras e dinâmicas pedagógicas com os profissionais. A troca entre professores também é fundamental.
      Um exemplo: fazer um aulão interdisciplinar com professores de História, Artes e Literatura utilizando quadrinhos. Depois os próprios alunos criarem suas tirinhas.
      Nossos alunos hoje são muito imagéticos. Sabe-se que a HQ é uma das principais portas de entrada dos jovens no mundo da literatura. É importante trazer esses dados para os professores para que eles se estimulem também e compreensão a necessidade de repensar e ressignificar o espaço escolar.
      Forte abraço!

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  7. Primeiramente gostaria de parabeniza-lá pelo artigo, o qual trouxe mangás que relatam algum contexto considerado importante a historiografia.
    No ano de 2008 o FNDE, distribuiu a algumas escolas públicas o mangá "Na Prisão"de Kazuichi Hanawa, o qual relata detalhadamente o dia-a-dia de um prisoneiro em uma penitenciaria japonesa, descrevendo sua rotina de alimentação, trabalho e disciplina, está obra é interessante tendo em vista que o autor foi preso por alguns anos e após ele ter cumprido sua pena que o mesmo escreveu a obra. Por ser um one shot (volume único),torna-se mais fácil e acessivo de trabalha-lo em sala de aula, principalmente se trandando em uma questão social, podendo fazer um comprativo com o nosso sistema penitenciário.
    A Senhora autora do artigo, teria algum one shot, especifico que recomenda? ou que já trabalhou em sala de aula?
    Willian Augusto Lopes Sgrinholi

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    1. Olá, William
      Muito obrigada pela sua contribuição ao debate. Fiquei muito interessada nesse mangá que você mencionou. Não conheço. Obrigada pela indicação.
      Só uma correçãozinha: "Uma vida chinesa" não é um mangá, ok?
      Especificamente sobre a China, não conheço. Mas, em se tratando de Oriente, gosto muito do "O melhor que podíamos fazer" (Vietnã) e "O mundo de Aisha" (Iêmen)

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  8. Boa Noite.
    Adorei sua reflexão. Considero que o ensino da História Antiga Oriental nos traz importantes reflexões para trabalhar a história da atualidade e o multiculturalismo. Ao analisar escritos sobre e História Antiga, também se estará analisando a sociedade da época em comparação com a atual, sendo que no passado também existia a diversidade. É importante que os alunos entendam que a diversidade sempre existiu e que era respeitada pelas pessoas. Deste modo torna-se mais fácil realizar reflexões sobre as mudanças e as permanências. A história em quadrinhos é um método muito válido para trabalhar o tema, sendo que os alunos podem representar de maneira simplificada o seu entendimento sobre o tema e realizar comparações com a sociedade atual. Mas em sua opinião, quais são os principais aspectos da História Oriental que devem ser abordados em sala de aula, a partir de qual idade?

    Inês Valéria Antoczecen

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    1. Olá, Inês. Muito obrigada pelas suas observações.
      De certa forma, estamos amarrados ao calendário e ao currículo escolar. Mas eu entendo que seria interessante começar por discutir visões diferentes de mundo, como o confucionismo e o Islam, por exemplo. Apresentar que aquelas sociedades partem de outras perspectivas, de outros olhares e bases.
      Depois passaria para os conteúdos, focando especialmente em questões mais contemporâneas que impactam o nosso mundo atual, como a revolução iraniana, a questão Palestina, a formação socioeconômica da China.
      Acredito que a partir do oitavo ano já consigamos trabalhar com esses aspectos.
      Abraço!

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  9. Bom Dia Luciana.
    gostaria primeiramente de parabenizar pelo artigo, de fácil compreensão sobre um tema tão complexo, segundo, como trabalhar este conteúdo de maneira satisfatória dentro de uma carga horaria baixa? e também como competir com conteúdos mais disponíveis e mais conhecidos aos nossos alunos, dou exemplo os Simpsons, fazem esteriótipos e no cenário atual são um dos desenhos mais disseminados do mundo, exemplo: Apu Nahasapeemapetilon.


    Allan Miguel Da Costa Maciel

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    1. Olá, Allan. Muito obrigada pelas questões levantadas.
      Sobre o problema da carga horária baixa. Há uma saída: somar com as cargas dos professores de arte e literatura/português, talvez num "aulão" interdisciplinar ou num projeto da escola mesmo.
      Sobre competir com programas já consolidados para os nossos jovens e que alimentam esteriótipos: essa é uma questão complexa. Mas eu tento desconstruir os esteriótipos a partir deles mesmos. Geralmente o aluno não sabe que está alimentando uma visão preconceituosa ou simplista, porque é o que ele conhece. Por exemplo, quando eu dou aulas e palestras sobre Islam (meu tema atual de pesquisa), eu inicio com a seguinte questão: "Me digam rapidamente o que vem a cabeça de você quando eu digo Oriente Médio". É sempre a mesma resposta: guerra, burca, terrorismo. Aí eu ligo o power point e mostro imagens exatamente do que eles falaram e pergunto: "como eu acertei o que vocês iriam dizer?" E a partir daí vou desconstruindo essas concepções.
      Forte abraço!

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  10. Olá professora Luciana Lamblet Pereira,
    Ao ler o seu artigo despertou em mim a curiosidade sobre a construção do conceito Orientalismo, criado pelo autor Edward Said.
    A narrativa construída sobre o oriente, a partir da cosmovisão ocidental, é muito forte ainda hoje. Percebo que a construção desse estereótipo tem um caráter meramente político, para que se evidencie a superioridade ocidental.
    A minha pergunta parte exatamente dessa análise. Tendo em vista que a nossa educação está pautada num modelo ocidental de como se ensina a História, como posso utilizar os HQs, como ferramenta didática, para desconstruir uma visão ocidental sobre o oriente na sala de aula?
    Grato.
    Igor André Marques Monteiro

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