Jessica Caroline de Oliveira

PERFIS FEMININOS E A INSERÇÃO SOCIAL DAS GUEIXAS NA ERA EDO (1603-1868) 

“O coração morre lentamente... perdendo as esperanças, como folhas. Até que, um dia, nada resta. Nenhuma esperança. Não resta nada. Ela se pinta para esconder o rosto. Seus olhos são águas profundas. Gueixas não têm desejos. Gueixas não têm sentimentos. A gueixa é uma artista de um mundo flutuante. Ela dança. Ela canta. Ela o entretém. Como você quiser. O resto é escuridão. O resto é segredo.” [Arthur Golden, 2005]

Durante sete século o Japão foi governando por uma classe hereditária de samurais, os quais faziam parte do xogunato japonês (bakufu), também conhecido como “governo dos generais”. Este sistema de organização política ainda contava com a figura de um Imperador que, isolado politicamente, exercia seu poder simbólico, visto que, o poder de fato era exercido pelo xogum, comandante do rígido modelo feudal que baseava-se na ordem patriarcal de Confúcio, conforme conta Katsurayama (2016).

Conhecido como Período Edo ou Tokugawa, o último xogunato manteve um poder forte e centralizado na cidade de Edo (antigo nome da cidade de Tóquio) por cerca de 264 anos. Deste modo, orquestrou uma ordem social hierarquizada, pautada na moralidade do pensamento filosófico confuciano, em que enfatizava a obediência às regras em nome da justiça, pressuposto fundamental dessa estrutura social. Azevedo (2010) explica que depois de disciplinar a população, fixando regras e traçando lugar de cada grupo, este momento contou com direitos e deveres que atravessaram a esfera pública e seguia no íntimo da vida privada, regulando maneiras de comer, beber e até sentir.

Além disso, o Japão se encontrava dividido em centenas de unidades políticas, todas sob o controle de senhores feudais que, contando com o título de daimiôs, eram responsáveis pela mobilização dos samurais. Em síntese, essa sociedade estava organizada em quatro classes sociais: a militar (samurais) no mais alto nível, os camponeses, em seguida os artesãos e, por fim, os comerciantes. Médicos e aristocratas não vinculavam-se a nenhuma dessas classes. Dentro desta ótica social, é importante ressaltar que não havia a possibilidade de casamentos entre uma classe e outra, nem mesmo a mudança de ocupações profissionais, o que denota bem o caráter rígido pelo qual esse período é apresentado pela autora. Além disso, Lima (2013) complementa que neste momento houve o fechamento dos portos japoneses e a proibição do comércio com estrangeiros, colocando o Japão sob o véu do isolamento e repúdio de qualquer tipo de influência externa (fato que durou dois séculos).

Apesar das tensões entre os daimiôs e camponeses insatisfeitos, o período é reconhecido como de paz. Inclusive, é dentro deste contexto que a música, o teatro, as xilogravuras, a poesia e a literatura se desenvolveram, abrindo margem para que novos sujeitos históricos se inserissem na sociedade e configurassem uma nova forma de se pensar e perceber as mulheres japonesas. Isso porque, se de um lado foi marcado pela austeridade política e delimitação das formas de atuar femininas, de outro, permitiu o florescimento das gueixas que, num conjunto sociocultural em que as pessoas sabiam os seus papeis, uma nova faceta foi criada, desenvolvida e estabelecida no Japão.

Pensando de forma mais específica sobre como eram organizadas as mulheres do período Edo, Lima (2013) descreve que entre as privações a elas destinadas, havia não recebimento de remuneração acerca dos trabalhos exercidos, pois só poderiam trabalhar enquanto auxiliares de agricultura e no comércio, caso seus maridos fossem os responsáveis. E, após 1629, foram proibidas de atuar em teatros, sendo esta prática considerada essencialmente masculina, inclusive, no tocante a interpretação de personagens femininas. 

Dentro dessa estrutura, a diretriz que orientava essa sociedade japonesa estava atrelada aos ensinamentos de Confúcio, o qual possuía enquanto valores,a posição de inferioridade das mulheres a partir da perspectiva da subordinação, implícita nas atividades cotidianas. Nesta acepção, é pertinente dizer que a posição social e econômica das mulheres no contexto supracitado estava vinculada à Doutrina das Três Obediências de Confúcio, em que tinha-se como um dos princípios a não independência de suas vidas. Ou seja, enquanto jovens, obedeciam aos pais; após o casamento, a obediência era anunciada aos maridos; e, ao se tornarem viúvas, obedeciam aos seus filhos. Face a estes pressupostos, Katsurayama (2016) comenta que circulavam diversos textos que difundiam estas regras à vida diária das mulheres, buscando assegurar seus papeis na sociedade e, sobretudo, o regime patriarcal.

À guisa de explicação, para pensar a assertiva da autora em relação ao patriarcalismo, pode-se tomar como exemplo o fato de que aos homens era garantido o direito de matar a esposa e o outro homem em caso de traição, ou ainda, a prática de divórcio como elemento restrito aos maridos, mesmo que sem justificativas para a decisão. No tocante ao seio familiar, argumenta-se que pelo viés patriarcal, os homens eram chefes absolutos da família, considerando o filho mais velho de cada geração como herdeiro responsável pela perpetuação da mesma.

Este sistema de núcleo familiar, segundo Katsurayama (2016), era conhecido como ie,quealém dos caracteres anteriormente citados, contava com os casamentos arranjados pelos pais, desconsiderando assim, qualquer direito de escolha dos seus filhos e de suas filhas. As mulheres aqui eram representadas como boas esposas e mães sábias, contando com um impecável senso moral e de autodisciplina. Cabia a elas  os afazeres domésticos, artesanato e ofícios na agricultura, ainda que houvessem aquelas que destoassem desta ordem social. Isso porque haviam também espaços destinados ao prazer e ao divertimento, não é à toa que os bordeis foram oficializados e disseminados na Era Edo. Para tal, muitas meninas eram vendidas para a prostituição por suas famílias, sobretudo, em períodos de pobreza intensa, como foi o caso das crises de 1732 e 1783.

De início, as yujôs, prostitutas, atendiam os clientes em bordeis, sendo tratadas enquanto escravas e vivendo sob reclusão. Conforme coloca Perufo et al (2010), estas mulheres buscavam agradar aos homens, para isso, seu conhecimento de ervas e plantas afrodisíacas permitiam sensações e um clímax que era desejado pelos seus clientes. Estes aspectos fomentavam um culto às yujôs, as quais passaram a se vestir elegantemente e a ter seus gestos e dons artísticos valorizados, tornando-se assim um ícone para a diversão sexual. Importante destacar que, estas personagens, sob o prisma da representação bijinga, estilo de ilustração de livros e gravuras contemporâneo a sua época que buscava representar mulheres belas, desenhou e coloriu uma identidade feminina nova e urbana ao período Edo. Nas palavras de Katsurayama (2016, p. 15) “a criatividade dos artistas transformou mulheres que viviam nos distritos licenciados de prostituição em emblemas de feminilidade”. E, mais do que isso, o panorama gestado pelos artistas e intelectuais das cidades, delineavam um jeito novo de viver, enfatizando os prazeres momentâneos da vida, visto que, para além dos bordeis, haviam casas de chá, teatros e restaurantes em Edo.

Dialogando estas informações com Lima (2013), ao retomar a ideia de que atuar no teatro (kanuki) na Era Edo era uma prática restrita aos homens, fato mencionado mais ao início do texto e que toma como ponto de partida a proibição das mulheres em participar enquanto atrizes e, por assim dizer, subordinar-se há um dos espaços a elas fomentados: casa ou distrito do prazer, o autor faz um interessante esclarecimento em relação ao surgimento das gueixas neste contexto, descrevendo que:

“Assim, as primeiras gueixas não foram mulheres, mas homens. Os otoko-geisha (artistas masculinos) eram especializados em entreter pequenas plateias em festas, dançando, cantando contando histórias e piadas. Como os palcos estavam proibidos às mulheres, as festas privadas tornaram-se os únicos lugares onde as mulheres podiam tocar música, dançar e cantar, e assim surgiram as onna-geisha (artistas femininas).” (LIMA apud SATO, 2006, p. 10). 

O autor comenta que, inicialmente, as onna-gueishas e as yujou acabavam frequentando os mesmos locais em que estas festas aconteciam, tendo como objetivo entreter a partir da encenação, dança e canto. Diante disso, donos de pousadas e casas de chá ofereciam suas serviçais, por vezes de maneiras forçada, para que à noite exercessem o trabalho de prostituição, utilizando-se do nome “serviço de travesseiro”. Isto é, mulheres vinculadas ao kabuki eram utilizadas para os prazeres não só da contemplação, mas sexuais. A situação permaneceu nebulosa até o século XVIII, momento em que medidas oficiais do governo regulamentaram a prostituição, separando as atividades e os locais em que poderiam ocorrer. A partir de então, haviam espaços destinados aos prazeres sexuais e outros para a presença específica das gueixas, se tornando rígida a diferenciação entre gueixas e prostitutas.

“Em 1779, a gueixa foi reconhecida como praticante de uma profissão distinta da prostituição e foi criado uma espécie de cartório específico para registrá-las, chamado kenban. Algumas regras que as gueixas passaram a ter que seguir eram parecidas com as das prostitutas, como a obrigatoriedade de viver em casas, redutos, chamados okiya (casas de gueixas), mas o sexo não fazia parte das habilidades que conotam a gueixa. Sato (2006) também faz questão de salientar que as prostitutas tinham prioridade em relação às gueixas na sociedade japonesa da época, pois a função e a situação delas já estavam definidas há tempos. Já as gueixas tinham regras impostas pelos kenban.  Como artista, a gueixa precisava saber preceitos da música, dança, canto, literatura, recitar poemas e entreter. Até então, apenas as prostitutas eram as únicas que se sentavam ao lado dos homens à mesa, mas, com o tempo, as gueixas passaram a ser convidadas para conversar. Logo, o público delas foi se definindo: homens casados que participavam de festas, mas não estavam necessariamente interessados em sexo após comer. Por serem cultas, as conversas eram longas e agradavam a eles, que viam na gueixa uma relação diferente da que tinha em casa ou mesmo com a prostituta.” (LIMA, 2013, p. 35)

Neste caleidoscópio de perfis femininos, haviam distinções entre as mulheres que serviam aos prazeres, cujo valor variava entre um baixo nível (yujo) até o mais alto grau (age-joro), este último inacessível para a maioria do público masculino. As gueixas, por sua vez, eram contratadas para dançar, cantar e distrair a clientela nas mais famosas casas de chás e, diferente das prostitutas, não vendiam seu corpo, mas sim, seu talento na arte e no entretenimento. Uma sútil, mas marcante diferença entre elas se dava pela forma como usavam o seu obi (espécie de cinto para arramar o kimono), pois as gueixas o usavam para frente e as prostituas amarravam-no para trás.

Interessante pensar que os espaços conferidos aos dois perfis não coabitavam, nem mesmo eram próximos, pois, pautando no que fala Silva (2011), a rigidez social desse período (re)alocava os grupos em locais específicos. Deste modo, o autor explicita estas assertivas quando expõe que:

“A fim de preservar a estrutura do sistema ie e do próprio regime político, foram editados, durante na década de 1640 uma série de leis que visavam limitar as influências das cortesãs e geisha sobre o alto oficialato xogunal. Visando restringir os contatos, foram criados bairros murados especialmente para abrigar as geisha, cortesãs e prostitutas. Somente nesses distritos era permitido que elas morassem e desempenhassem seus ofícios. Os distritos para as geisha eram chamados hanamachi (aldeia das flores) e para as cortesãs/prostitutas de kuruwa (quarteirão da alegria). O acesso a tais distritos era controlado; em frente dos portões de acesso havia postos de vigilância onde guardas e notários fiscalizavam a entrada/saída e anotavam os nomes dos frequentadores. (SILVA, 2001, p. 97) 

O fato é: uma prostituta poderia entreter os homens pelos seus dons artísticos? Sim, isso aumentava o seu prestígio como tal. Uma gueixa poderia entreter um homem com prazeres sexuais? Não, pois essa função cabia as prostitutas e a ela, enquanto gueixa, cabia outras formas de entretenimento. Dialogando com estes dados, é importante ressaltar que:

“Não era problema o sexo, mas, sim, o de deixar-se dominar pelo amor. O ponto de tensão entre os valores morais e a sexualidade estava na colisão entre o giri/gimu e o ninjô (sentimentos humanos).227 Não era reprovado o homem que tivesse uma amante ou frequentasse bordéis e okiya. A censura social somente ocorreria se aquele homem abandonasse seus deveres para com a família em favor do romance extraconjugal. Fosse ele casado ou solteiro, era seu dever apartar os deveres familiares dos impulsos emocionais. Ou seja, a prostituição não era um pecado, e a prostituta não era estigmatizada pelo seu ofício, mas, sim, pelo uso de artimanhas para fazer os homens se apaixonarem por elas.” (SILVA, 2011, p. 97) 

Com efeito, as restrições do kenban passaram a moldar não só a aparência, mas toda a essência das gueixas. Por isso, para que pudessem ter a condição de artistas, elas dedicavam um bom tempo ao estudo e treinamento em artes, o que legou a valorização e remuneração das mesmas. Vivendo em okiyas, casa onde ficavam somente as gueixas, eram organizadas em um lugar em que recebiam treinamento desde meninas. Aos 5 anos, iniciavam a sua formação, filiadas às okiyas enquanto filhas adotivas (hangyoku) de gueixas já aposentadas, neste caso, enquanto adotivas, herdavam a profissão de gueixas. Neta (2015) revela que nos primeiros estágios de formação, havia o shikomi, no qual a menina deveria contribuir nas atividades domésticas na okiya, aprendendo também a cantar, dançar, a arte do chá e o domínio sobre os instrumentos musicais tradicionais, até tornar-se uma maiko (pequena dançarina). O treinamento contava com um segundo processo de formação, o minarai, que consistia ao fato de que uma gueixa já formada, assumia o papel de tutora e era chamada pela tutelada como onee-san (irmã mais velha), ao passo que a maiko era chamada de imouto-san (irmã mais nova) e, por meio dessa relação, incumbia-se a responsabilidade de ensinar a se comportar, criar laços de sociabilidade nas casas de chá, entre outros.

As gueixas em treinamento passavam por uma cerimônia chamada eriage, isto é, mudança de colarinho – em que começavam a usar um colarinho branco. Para tal, uma outra cerimônia era essencial na sua trajetória enquanto gueixa, amizuage, “elevar a água”, passagem da maiko para a sua maioridade. Neta (2015)descreve que durante essa cerimônia, um homem poderia pagar pelo direito de deflorá-la e assim marcar a sua entrada no mundo das gueixas. Após o ocorrido, a gueixa não mais teria relações sexuais com homens, caso contrário, deveria abandonar sua profissão e dedicar-se ao casamento, ou então, tornar-se uma prostituta. Quanto as gueixas, poderiam contar com a proteção de um danna, figura masculina que servia como um patrono e que a financiava-a com roupas, treinos, presentes caros e até criar laços afetivos. Os ganhos recebidos pelas gueixas iam para a okiya, devido aos gastos que a mesma teve com a educação, alimentação e demais despesas que a maiko somava. Depois que quitava sua dívida, poderia ficar com parte do que recebia pelos seus ofícios, visto que, a obrigação para com sua okiya permanecia.

No tocante a aparência, é importante destacar que haviam diferenças entre elas e as prostituas, visto que, enquanto estas últimas possuíam uma beleza mais rica, sedutora e sensual, as gueixas contavam com uma beleza mais discreta. Nesta acepção, Lima (2013, p. 39) escreve que “gueixa nada mais é do que a idealização da mulher perfeita na visão masculina: bonita, carismática, com vários talentos, capaz de entreter o homem das mais diversas formas”.

Ideias de feminilidade e beleza dão luz a um cenário que abrange papeis múltiplos às mulheres que, em duas principais vertentes, passaram a ser entendidas como esposas e não-esposas. Noutras palavras, ainda que os perfis tivessem seus espaços bem delimitados por essa sociedade, o principal elemento que distinguia uma das outras era a responsabilidade de manutenção do seio familiar. Nesta perspectiva, Katsurayama (2016) explica que

“Para esta finalidade, os atributos esperados para a esposa exemplar eram sensibilidade, habilidade para dar assistência às crianças, frugalidade e obediência. Todos os aspectos românticos da feminilidade recaiam as mulheres de Yoshiwara, que era o quarteirão dos prazeres, um lugar que despertava a fantasia e o desejo masculino. Beleza, inteligência, habilidades artísticas, sofisticação sexual e refinamento faziam parte deste ideal feminino.” (KATSURAYAMA, 2016, p. 17)

Outro ponto interessante para se mencionar, é o fato de que a beleza das mulheres no Japão estava arraigada as flores e demais símbolos da natureza, por isso, era comum que seus perfumes fossem comparados ao das flores na primavera, ou então, a solidão percebida nos galhos secos de outono. As metáforas, segundo Katsurayama (2016), faziam parte de um vocabulário utilizado por artistas que acabavam por definir representações inspiradas e sincronizadas ao padrão de feminilidade do seu contexto cultural.  Deste modo, estereótipos acerca das mulheres japonesas eram criados e difundidos, sobretudo, devido ao gênero bijinga que as delineava a partir alegorias que utilizavam flores ou imagens erotizadas, ainda que em ambos os casos fossem idealizadas por uma sociedade patriarcal. Portanto, se utilizando de atributos como ternura, gentileza e submissão.

Com o fim do xogunato e a abertura dos portos, houve um processo de ocidentalização e modernização na seara cultural japonesa, o que legou a dissolução de diversos costumes tradicionais, entre eles, a poligamia. Entre os perfis femininos, as gueixas tornaram-se um símbolo invejável de independência e de representações que circularam pelo imaginário estrangeiros ao Japão. Por sua beleza e elegância, eram consideradas ícones, sendo seus acessórios almejado. Afinal, diferente dos japoneses que adotaram a indumentária ocidental com maior rapidez, foram responsáveis por perdurar o hábito de utilizar os kimonos. Inclusive, Lima (2013) destaca que as gueixas impuseram uma resistência as práticas tradicionais, desprezando estilos de moda vindos de qualquer parte do mundo.

Por fim, este ensaio teve como intuito pensar os perfis de mulheres que haviam na sociedade da Era Edo, a qual contou com a faceta mais tradicionais daquelas que serviam enquanto esposas e boas mães, associadas aos afazeres domésticos e ao auxílio de seus maridos. Contando ainda, com aquelas mulheres que satisfaziam os desejos e prazeres masculinos, inicialmente, dotadas de saberes artísticos e que, por vezes, viam-se obrigadas a servir como prostitutas. Desse segundo perfil, um novo grupo surge para o entretenimento específicos nas artes, ensinadas desde meninas à arte da conversação, marcadas por cerimônias que a preparavam para a sua maioridade. Conhecidas como gueixas, se trataram de mulheres que não eram nem esposas e nem prostitutas, mas que ainda assim, eram procuradas pelos seus dons, sua beleza e sabedoria, sendo elas, o objeto de interesse desse texto.

Referências
Jessica Caroline de Oliveira. Licenciada em História pela Universidade Estadual do Paraná, campus União da Vitória; Pós-Graduada em História da África e da Cultura Afrobrasileira pela Universidade Candido Mendes; Mestra em História, Cultura e Identidade pela Universidade Estadual de Ponta Grossa; e Doutoranda em História, Poder e Práticas Sociais pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Professora de História, em Porto União – SC.

AZEVEDO, Aluízio. O Japão. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2010.
KATSURAYAMA, M. A. C. A reconstrução midiática da imagem feminina no Japão Moderno. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2016.
LIMA, A. L. M. A indústria pop japonesa e as idols: a consonância e rompimentos na carreira de Hamasaki Ayumi. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Comunicação Social). Universidade Federal da Paraíba, 2013.
NETA, M. C. O. et al. “A flor e o mundo de salgueiro”: as gueixas na história. 25 anos da ANPUH de Pernanbuco – Diálogos entre pesquisa e ensino. 2 a 5 de dezembro de 2015, Recife-PE.
PERUFO, A. M. et al. A obra cinematográfica como formadora de sentidos: uma análise do filme Memórias de uma Gueixa. Revista Germinis, ano 1, 2010.
RIBEIRO, J. S. et al. Do quimono à casaca: transformações e marcas identitárias no indumentário japonês. Transverso: Revista de História, Rio de Janeiro, n. 9, abr. 2017.
SILVA, A. S. O “Massacre de Naking” e a violência de gênero contra as mulheres (1937-1938). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal do Espírito Santo, 2011.

18 comentários:

  1. Ivanize S. S. Nascimento
    Boa-noite,Jéssica!

    Descobri algo em comum com você. Fiz minha pós na Cândido Mendes,em Cultura Afro,pelo Pró Saber .Felicito por sua obra,muito prazerosa para ler e fazer um reconto das gueixas japonesas.Fiz enormes descobertas:antes das gueixas femininas,eram os homens que atuavam,mas foram nas festas privadas que elas tornaram-se artistas femininas.Até hoje,elas ainda são um grupo social pouco conhecido para muitos,porém,na verdade,muito atuantes e fascinantes!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. Olá, agradeço por realizar a leitura do meu ensaio e pela sua participação. Devo dizer que, ainda que a minha fascinação pelas gueixas e pela cultura japonesa seja de longa data, a elaboração deste texto também me surpreendeu em alguns pontos que eu também não conhecia. Sobre o fato de serem pouco conhecidas, sim, quando fui buscar por referenciais teóricos, senti a falta de produções sobre as mulheres japonesas e gueixas na área da História, o que nos convida a continuar produzindo reflexões sobre elas. No mais, obrigada novamente. Abraços.

      Excluir
  2. Boa noite Jessica,
    Gostei muito do teu texto, parabéns pela pesquisa.
    A título de curiosidade, quando você menciona que o treinamento das Gueixas começava aos 5 anos, há algum registro de que tipo de famílias é que elas vinham? Eram crianças que foram abandonadas, órfãs?
    Obrigada.
    Daniele Prozczinski

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grata pela pergunta e pela participação Daniele. Então, não tive ainda o conhecimento sobre a procedência das famílias. O que eu sei é que eram "compradas" pelas Okyas e, em caso de serem abandonadas, dependia muito do interesse da "mãe", visto que não era qualquer menina que era aceita. Inclusive, quando iam vender uma menina, caso nenhuma Okya quisesse comprá-la, a mesma era levada ao distrito do prazer, onde alguma casa poderia aceitá-la e pagar um preço bem menor que as casas de gueixa. Haviam casos de família que, em períodos de crise, vendiam suas filhas para dar alguma condição melhor a elas, mas o destino acabava se tornando incerto, pois dependia muito do interesse quem poderia comprá-las.

      Excluir
    2. Boa tarde Jessica. Obrigada pela resposta e muito sucesso na tua pesquisa.

      Excluir
  3. Prezada Jessica, parabéns pela iniciativa de trabalhar este tema. Mesmo no Japão, a questão das gueixas e outras mulheres que viviam neste mundo do entretenimento noturno é um tema que ainda tem muito a ser trabalhado. Fiquei curioso para saber se você pretende dar seguimento a este trabalho, usando fontes primárias. Abraço, Rômulo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, obrigada pela participação e leitura do texto. Então, a cultura japonesa é mais um interesse desvinculado das pesquisas de mestrado e doutorado. Estudo mais especificadamente cultura africana, afrobrasileira, indígena... Mas, essas "outras" culturas - japonesa, chinesa, indiana -, sempre me chamaram a atenção, sobretudo, a japonesa por questões de jogos e animes. Outro ponto, é a própria demanda que a sala de aula nos acomete, afinal, os livros didáticos nada trazem sobre essas especificidades culturais, em muitos casos, ainda pautados em datas e acontecimentos sucessivos. Portanto, tornar a aula interessante é ir fazer pesquisas, trazer elementos que chamem a atenção e possibilitem compreender o outro, a outra cultura e fazer comparações com a nossa. Sei que divaguei na resposta, contudo, para ser mais direta: possivelmente, o Japão será um objeto de estudo, mas dialogando com as premissas escolares, pois os pontos aqui delineados foram, por exemplo, trabalhados em sala de aula. Agora, pensar em uma pesquisa de fôlego, à guisa de doutorado, é difícil, só se fizesse outro. rsrsrsrs Abraços.

      Excluir
  4. Olá, professora Jessica de Oliveira. O seu texto é sublime, agradecida por me proporcionar tal leitura! Você fala que há um momento em que os espaços de sociabilidades que atuavam as gueixas e prostitutas passam a serem bem definidos, assim como o modo de viver e agir dessas duas categorias femininas. E a rigidez do não envolvimento das gueixas nos prazeres sexuais dos homens que as procuravam me instigou bastante. Por isso, apesar de o Kenban não considerar o sexo uma das habilidades das gueixas; em algum momento de sua pesquisa você constatou casos que denunciavam o não cumprimento dessa regra?Digo, de gueixas que se envolviam sexualmente, mas que continuavam em tal condição.


    Talita Almeida do Rosário. Graduanda de Licenciatura em História. UFPA- Campus Ananindeua.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Talita. Obrigada pela pergunta. Sem dúvida, é uma questão comum que o tema nos leva a refletir. Bem, tomando a obra "Memórias de uma gueixa" como exemplo, pode-se dizer que sim, haviam gueixas que tinham suas paixões e acabavam tendo relações sexuais com o homem a quem possuíam interesse afetivo. Essas mulheres, ainda que não se entregassem ao prazer com outros homens, mas um em específico, eram chamadas, ou comparadas, às cortesãs. Inclusive, haviam casos de rivalidade entre as gueixas, as quais inventavam que suas "concorrentes" dormiam com homens, buscando assim, desmoralizá-las. Deste modo, quando isso acontecia e se tornava público, elas acabavam não sendo mais convidadas pelas casas de chá, perdiam seus clientes e, deste modo, se tornavam um peso para as Okyas, podendo ser expulsas pela "mãe" a fim de não manchar a honra da casa, ou das demais gueixas que moravam lá. Além disso, penso que a disciplina em que eram inseridas desde de meninas, colocava a ideia de que elas eram artistas, nem esposas e nem cortesãs, e isso acabava se tornando o alicerce da sua função. Contudo, ressalto que isso são informações que a literatura e o referencial teórico traz, é difícil pensar que não haviam essas "escapadas". Possivelmente sim, mas havia um alto preço a se pagar se fossem descobertas. E acredito que elas sabiam que o preço nem sempre valia a pena, visto que seus clientes, em sua maioria, eram homens casados, os quais não deixariam suas esposas por elas e, se quisessem, tinham a liberdade de ir ao distrito do prazer e conseguir o que queriam. Em síntese: elas entediam sua função e a sociedade as reconhecia como tal, sabendo dos limites que ser uma gueixa impelia a uma mulher. E esse limite era valorizado. Enfim, é complexo. rsrsrs Mas, já pensei muito nesta questão!

      Excluir
  5. Olá, professora Jéssica.
    Muito enriquecedor o seu estudo a respeito dos diversos papéis sociais femininos, com maior ênfase as gueixas.
    A autora Liza Dalby em seu livro "Gueixa" relata um tipo de categoria conhecida como "duplo registro" (nimae kansatsu), algo que remeteria a uma concessão de atuação mista, permitindo uma mulher a promover atividades artísticas das gueixas em conjunto com a prostituição. Este tipo de atividade ainda é recorrente nos dias atuais?

    Obrigada.
    Renata Sayuri Sato Nakamine

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Renata. Desculpa a demora em respondê-la. Acredito que acabei não publicando minha resposta noutro momento, mas, cá estou. Agradeço pela participação e pela pergunta. Não tenho conhecimento acerca dessa atuação mista no sentido propriamente dito das gueixas, afinal, as relações sexuais descaracterizariam a essência do que é ser uma gueixa, isto é, uma artista, não uma prostituta; alguém que entretem pelo seu talento e não prazer físico. Pelo período que estudo, acabo me detendo a essa representação. Contudo, penso que era possível que uma cortesã se utilizasse do fetiche que os homens tinham pelas gueixas a seu favor, ou então, uma antiga gueixa se tornasse prostituta... Entretanto, a gueixa em si optar por essa atuação mista, não é algo que eu concordo, ou que tenha lido a respeito.

      Excluir
  6. Bom dia, professoras e colegas! Também cito Liza Dalby, "Gueixa". Esta autora nos conta que Midori, uma moça que sonha em ser maiko, ingressa numa casa para começar seu treinamento aos 16 anos. Como a pesquisa de Dalby se passou na década de 1970, seria correto afirmar que nos dias de hoje não há a obrigatoriedade de iniciar o treinamento aos 5 anos como seria na época de crescimento da "profissão" de gueixa. Nesta mesma passagem do texto de Dalby, ela conta que nem todas queriam se maikos; como se faz os estudos das diferenças entre gueixas e maikos? Correto dizer que as maikos não poderiam ter as mesmas relações afetivas com os homens?
    Parabéns pelo trabalho! Obrigada
    Juliana Havrechak

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa noite Juliana, grata pela participação e questionamento. Bem, o meu recorte temporal é bem anterior, enfatizando o período Edo e, a partir dele, buscar entender como surgiu no seio social a figura das gueixas na sociedade japonesa. Deste modo, acredito que algumas mudanças, permanências e reformulações acerca destas mulheres foram gestadas ao longo do tempo, buscando adequar-se as novas demandas que o contexto colocava. Logo, a mudança na idade, a não venda das meninas, entre outros aspectos, revelam que ainda que a ideia de ser uma gueixa se ancore na tradicionalidade, esta já não é a mesma do período Edo. No tocante as maikos, entendo que era um processo pelo qual as meninas passavam antes de se tornarem gueixas, visto que a maiko era uma aprendiz. Esta, ao deixar de ser virgem, passava para a maioridade e assim se tornava uma gueixa por meio da cerimônia do mizuage. Em síntese, para se tornar gueixa, passava-se pela fase de maiko. E, uma vez sendo gueixa, ainda que desenvolvesse relações ou laços afetivos, os mesmos não poderiam se tornar sexuais, já que a prática sexual e do prazer era algo das cortesãs. Não sei se respondi adequadamente sua questão, caso tenha ficado aberta, estou à disposição para novos diálogos e esclarecimentos. Abraços.

      Excluir
  7. Olá, o comportamento da população japonesa atualmente é uma permanência da mentalidade tecida no Japão no período do xogunato? A senhorita afirma que as regras desse período chegavam a atingir a esfera do privado, e posteriormente expõe que apos o fim do xogunato e a abertura dos portos as gueixas formavam o único grupo que permanecia nas tradições, demostrando uma ruptura a certos costumes após o fim desse período.
    Thais de Albuquerque Mathias

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa noite Thais, grata pela pergunta. A partir das leituras que possuo em relação à história do Japão, penso que mentalidade atual é fruto não só de fragmentos dessa tradicionalidade do período Edo, mas de mesclas e influências culturais externas. Exemplo disso é a moralidade advinda dos jesuítas no período em que buscavam catequizar e expandir a fé cristã no Japão. No mais, mudanças e permanências são perceptíveis em diversas sociedades, visto que o diálogo com outras culturas possibilita diferentes formas de reafirmação da própria identidade.

      Excluir
  8. As gueixas optavam pela abstinência sexual como forma de tentar uma diferenciação das prostitutas?
    Thais de Albuquerque Mathias

    ResponderExcluir
  9. Sim, Thais. Ou melhor, a abstinência não era uma opção, mas uma obrigação que as gueixas seguiam para não ser comparadas ou aproximadas das cortesãs.

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.