Daniele Prozczinski

REVOLTAS POPULARES E IMPERIALISMO NA CHINA NO SÉC. XIX

Introdução
A longa dinastia Qing (1644-1911) já não era capaz de responder aos anseios da população e o seu mandato celestial mostrava-se perto do fim. A nível interno, revoltas começaram a surgir em várias partes do império, colocando em causa a sua organização política e social. Diante dessas revoltas, a capital, Beijing (Pequim), quase foi tomada. A maioria dessas revoltas tinha cunho religioso, como é o caso da revolta de Taiping, que atingiu grandes proporções em um pequeno espaço de tempo. 
A nível externo, com a expansão do comércio e o crescente interesse por territórios coloniais, entre 1842 e 1933, foram assinados diversos tratados com potências imperialistas ocidentais altamente desvantajosos para a China, que se encontrava em uma posição fragilizada tanto internamente, como externamente. A Guerra do Ópio e o incidente com o navio Arrow tiveram um pesado custo para a China e causaram problemas que remontam à atualidade. Entre esses problemas, destacam-se o pagamento de reparações, a concessão de partes do território e a abertura de portos comercias sob o domínio dos impérios ocidentais.

Assim, o século foi marcado por uma série de revoltas e pela luta pela partilha da China entre as potências imperialistas ocidentais e japonesa, o que culminou com o fim da dinastia Qing.
Seguindo uma organização cronológica, este capítulo, além de direcionar o olhar para as principais revoltas na China durante o século XIX, discutirá o impacto do imperialismo das potências ocidentais e japonesa para o emergir das revoltas, para as mudanças na cultura e no modo de organização interno da China, e para o consequente fim do governo Qing e das dinastias. 

A China e o mundo no século XIX: A Guerra do Ópio e os tratados desiguais
A China foi impelida a uma maior abertura devido à Guerra do Ópio (1839-1842) e da insistência das potências ocidentais e japonesa em abrir os portos chineses ao comércio, nos termos deles, ignorando os costumes e cultura chinesa.

Os estrangeiros eram vistos como os ‘bárbaros do mar ocidental’, como o povo que prestava tributo ao imperador.  O conceito de imperialismo ainda não existia na língua chinesa, designando-os também como “Diabos Estrangeiros”. Logo, para além de um conflito cultural, havia um conflito de leis entre os modos orientais e ocidentais.  Essas eram muito distintas e acabaram por chocar os britânicos, como é o caso das punições seguidas pelo governo Qing. Em 1774, um incidente aconteceu quando um navio britânico disparou flechas saudando a sua chegada ao porto chinês, e, acidentalmente, matou dois chineses. Os chineses exigiram a entrega do responsável a sua autoridade e este foi enforcado. Dado a morte do cidadão britânico, com o decorrer dos anos houve, cada vez mais, uma resistência às leis locais e os britânicos procuraram responder as leis britânicas na China, algo que conseguiram anos mais tarde. Referente à esta questão, Lin Zexu, oficial nomeado para resolver a situação do Ópio na China, escreveu uma carta a Rainha Vitória onde indagava-se: “Supondo que um homem de outro país vá à Inglaterra para comerciar, ele mesmo assim deve obedecer às leis inglesas; em que medida não deve também obedecer na China às leis da Dinastia Celestial?” (KISSINGER, 2011, p. 62).

Um dos principais produtos contrabandeados para a China era o ópio, sendo o único produto estrangeiro, na época, a ter uma procura acentuada, com um consumo expressivo e em expansão. Os tecidos britânicos eram considerados de qualidade inferior aos tecidos chineses e, consequentemente, eram pouco comprados. Aproveitando o forte consumo de ópio, os britânicos equilibravam a sua balança comercial com a China, ao mesmo tempo que os comerciantes beneficiavam duplamente com a conversão do valor pago pelos comerciantes chineses em prata. A corrupção de comerciantes e oficiais chineses facilitava o contrabando do ópio.

Em 1839, Lin Zexu foi enviado para Guangzhou com o objetivo de acabar com o tráfico de ópio. As suas medidas englobavam prisões, confisco e destruição dos estoques de ópio. Aos que não entregassem o ópio, a pena era a morte. Em carta à Rainha Vitória, Lin afirmava que, já que o ópio era proibido na Inglaterra, a Rainha deveria fazer de tudo para acabar com o  tráfico do ópio  para a China (ROBERTS, 2012, p. 240–241). Todavia, a carta nunca chegou à Rainha. Perante tal situação e após o envio de uma carta com exigências ao imperador chinês, o governo britânico decidiu enviar uma frota militar à China, fazendo com que os principais portos fossem bloqueados. Começou assim a guerra do ópio e ficou claro o que o historiador francês Alain Peyrefitte afirma: “Se a China continuasse fechada, as portas teriam que ser derrubadas.”(KISSINGER, 2011, p. 60)

Os conselheiros do Imperador acreditavam que conseguiriam fazer frente ao ataque britânico e que, tanto pela distância como pela dificuldade de abastecimento, a situação seria facilmente controlada e, sem apoio, as forças britânicas ver-se-iam obrigadas a voltar. Contudo, o que aconteceu foi exatamente o contrário. Em primeiro lugar, os chineses não tinham como competir com as armas britânicas, que incluíam canhões giratórios, que fizeram grandes estragos no território costeiro chinês. Em segundo, os navios britânicos estavam bem preparados e as previsões chinesas não se concretizaram, sendo que as ilhas do Norte começaram a ser tomadas com facilidade. Ao mesmo tempo, a frota aproximou-se perigosamente da capital do império, Beijing. Compreendendo o erro estratégico de Lin ao lidar com os “bárbaros”, o governo Qing aponta Qishan para negociar com os britânicos e acabar com o ataque. O objetivo era procrastinar o ataque britânico de modo a preparar as forças imperais para o combate. Assim, Qishan conseguiu convencer os britânicos a pararem com o ataque e a dirigirem-se para o sul para negociarem. A sua estratégia foi bem-sucedida e Qishan ganhou mais tempo para o governo imperial chinês com as negociações. Os ingleses, sob liderança de Charles Elliot, por outro lado, começaram a fazer pesadas exigências que incluam territórios chineses e o pagamento de indemnizações, e mostraram-se impacientes perante o adiamento da tomada de decisões concretas.

Elliot desembarcou em Guangzhou a 29 de maio de 1841 com as tropas britânicas. Uma vez que não tinha homens suficientes para tomar a cidade, subornou os oficiais locais para que não a protegessem, garantindo a sua vitória. Deste modo, as elites locais organizaram a sua própria milícia para expulsar as forças britânicas. Este episódio é fundamental para compreender o início da resistência chinesa à invasão estrangeira, que foi o estopim para algumas das revoltas que aconteceram na China no século XIX. O entendimento de que as forças imperais não conseguiam proteger os seus cidadãos fez com que, as elites e a população local, organizassem as suas próprias milícias, que mais tarde rebelar-se-iam contra o império e sobretudo contra a dominação estrangeira. Seguiu-se um ataque à costa chinesa e o bombardeamento de cidades costeiras.

Pottinger chegou com reforços, conquistando Shanghai e outras cidades costeiras em pouco tempo. Assustado com a expansão britânica, o Imperador autorizou o início das negociações, que resultaram no primeiro tratado desigual firmado pelo China, o Tratado de Nanquim, assinado a 29 de agosto de 1842. O tratado previu a concessão de Hong Kong aos ingleses, permitiu residência, consagrou a abertura dos portos comerciais, a abolição do kowtow, igualdade de tratamento, entre outros benefícios. O tratado beneficiou sobremaneira a coroa britânica, impondo apenas concessões e deveres à China. 

As razões pelo qual se iniciou a Guerra do Ópio divergem entre os historiadores. Para alguns, como é o caso de Fairbank, o choque civilizacional da cultura chinesa com a britânica despontou o conflito. Para Karl Marx, o motivo deveu-se a centralidade do comércio, sendo que, por mais que os “semibárbaros” (chineses) quisessem impedir o comércio de ópio, não conseguiam (MARX, 1858).
O infortúnio da dinastia Qing parecia não acabar. A partir de 1850, uma série de revoltas populares contra a dominação estrangeira e contra o império eclodiram. Ao mesmo tempo que a pressão pela “partilha da China” continuava. Em 1856, um incidente com o navio Arrow despontaria novamente o conflito com os britânicos, que desta vez, aliaram-se aos franceses contra o governo Qing. O incidente deu-se quando funcionários chineses subiram a bordo do Arrow, sob bandeira inglesa, e prenderam os seus tripulantes, acusando-os de pirataria. Certo de sua superioridade militar inglesa, Sir John Bowring, governador de Hong Kong, ordenou o ataque naval à Guangzhou (ROBERTS, 2012, p. 244–245).

A ascensão das revoltas: Taiping, Niam, Yunnan e Gansu
Apesar da revolta de Lótus Branco ter destruído o mito de invencibilidade das forças Qing, a dinastia não estava tão moribunda como na segunda metade do século XIX. Destruída tanto em força como em credibilidade interna e externa, a ascensão das revoltas quase acabou com o Mandato Celestial. Grande parte das revoltas aconteceram ao mesmo tempo, o que agravou ainda mais a situação.
A maior das revoltas dessa época foi a de Taiping, no sudeste e região central do território chinês, que durou cerca de quatorze anos (1850-1864), sob liderança de Hong Xiuquan (1814-1864). Hong acreditava ser o filho de Deus. Fairbank afirma que o líder Taiping tinha um problema mental, enquanto o historiador Kenneth Pletcher chama-o de fanático (PLETCHER, 2011, p. 237). De qualquer das formas, anunciando a sua visão e missão para os seus familiares e amigos, Hong cativou os seus primeiros seguidores à causa. Em um curto período, Hong conquistou muitos seguidores, sendo que em 1852 chegavam a cerca de um milhão (ROBERTS, 2012, p. 253). O movimento poderia ter ganhado mais impacto se tivesse unido-se as outras revoltas. Porém, “a razão pela qual o movimento Taiping não se uniu aos lideres revoltosos decorre da personalidade do seu fundador.” (FAIRBANK; GOLDMAN, 2007, p. 197) Deste modo, esse fator ajudou sobremaneira à contenção posterior das revoltas e à manutenção da Dinastia Celestial.

A medida em que os revoltosos iam conquistando as cidades pelas quais passavam, o movimento ganhou força. Em janeiro de 1851, Hong proclamou o ‘Reino Celeste da Grande Paz’, intitulando-se ‘Rei Celeste’. A conquista de Nanquim, que se tornou a capital da revolta, em 1853, foi responsável pela morte de mais de trinta mil manchus. Após um impasse de sete anos, a revolta voltou a ganhar força.  Procurando apoderar-se de novas cidades, quase conseguiu conquistar Shangai em 1862. Porém, as forças imperiais, agora apoiadas pelas milícias locais e pelos britânicos, conseguiram reconquistar Nanquim, e o líder Taiping suicidou-se, acabando com a rebelião.

Em 1853, no auge da revolução Taiping, os rebeldes Nian entusiasmaram-se pelos acontecimentos e insurgiram-se também contra a dinastia Qing. Os líderes da revolta de Nian eram cidadãos marginalizados, alguns mesmos criminosos, mas que foram apoiados pelos camponeses e líderes locais, que viviam em condições de pobreza extrema.

Os motivos que levaram o povo a rebelar-se contra o governo Qing deviam-se à marginalização crescente das condições de vida, com, por um lado, o aumento do desemprego através do desmembramento da estrutura feudal, e, por outro, da falta de alimento, dado o aumento populacional e a incapacidade de uma produção agrícola eficaz. Combinando estes dois fatores, aliados à falta de uma resposta eficaz pelo governo Qing, o movimento Nian ganhou expressão e passou a pilhar as províncias vizinhas à procura de alimento. Afirmavam que  sua missão era “para salvar os empobrecidos, eliminar a traição, punir os malfeitores e aplacar a indignação pública.”(ROBERTS, 2012, p. 256) Apesar de a revolta ter durado quinze anos, não teve tanta repercussão com a revolta de Taiping, que conquistou mais territórios, teve mais seguidores e tinha uma forma de ação mais violenta.

Entretanto, no sudeste e noroeste da China, duas revoltas mulçumanas começaram a ganhar expressão. O principal motivo da desordem adivinha do tratamento discriminatório dado à população muçulmana, que sofria abusos dos colonos de etnia Han. A primeira revolta começou em Yunnan (1855-1873) e a segunda foi em Gansu, em 1862, estendendo-se até 1875. Segundo os historiadores Roberts (ROBERTS, 2012) e Pletcher (PLETCHER, 2011), a revolta eclodiu depois da passagem das forças Taiping pela região, que acabou por incitá-los a criarem as suas próprias forças militares para se defenderem.

Estas revoltas, apesar de estarem ocorrendo em simultâneo, nunca se uniram em prol do fim da dinastia Qing. Isso deveu-se, sobretudo, ao fanatismo religioso do movimento Taiping, e pela falta de organização das revoltas. Não obstante, é assombroso o que foram capazes de fazer em tão pouco tempo, com os recursos que dispunham, ao mesmo tempo que resistiram a tantos anos de luta.
O cenário das décadas de 1850-65 era, na verdade, de guerra civil. Paralelamente, as mudanças na organização política e de liderança também tiveram impacto no fim das revoltas. “A guerra por fim enfraqueceu-se. As estimativas modernas revelam que a população da China era de cerca de 410 milhões em 1850 e, após as rebeliões Taiping, Nian, mulçumana e outros conflitos menores, chegou a 350 milhões em 1873.”(FAIRBANK; GOLDMAN, 2007, p. 204)

Inaugurou-se, assim, um período de restauração da legitimidade do poder Qing e de reformas políticas, econômicas e sociais. Em 1873, as revoltas tinham sido controladas. Apesar do território não ter sido todo recuperado, como era o caso do Turquestão Chinês (Xinjiang), seguiram-se uma série de reformas agrícolas. As revoltas tinham destruído as plantações, assim como dizimado grande parte da população. Apoios à emigração para as áreas afetas foram concedidos e os impostos foram suspensos. Reformas educacionais foram feitas e uma série de escolas foram abertas, aumentando o número de pessoas com acesso à educação formal. Para Berry Keenan, as reformas tiveram um impacto significativo na construção do movimento reformista que derrubaria a dinastia Qing no início do século XX (ROBERTS, 2012, p. 264).

A revolta dos Boxers
A despeito do esforço da dinastia Qing em reformar o sistema econômico e social, estas medidas não surtiram os efeitos esperados. Apesar de alguns historiadores ocidentais afirmarem que a presença estrangeira na China foi positiva na medida em que forçou a abertura da sua economia e a modernização, a verdade é que o país tendo sido derrotado militarmente por diversas vezes, “as potências imperiais impuseram o pagamento de indenizações que limitavam a ação do governo chinês, e extorquiam concessões que lhes permitiam asfixiar o desenvolvimento local da indústria pesada e das comunicações.”(ROBERTS, 2012, p. 276)

O sentimento de humilhação perante meio século de dominação, guerras e revoltas, e o crescente imperialismo das potências estrangeiras fizeram com que a Revolta dos Boxers tivesse, tanto o apoio da Imperatriz Cixi (Imagem 2), como também da elite, dos tribunais e do campesinato.

Imagem 1: Imperatriz Viúva Cíxǐ Tàihòu (1861-1908), que governou a China por 46 anos.
Fonte: Freer and Sackler Galleries

O tratado desigual de Tianjin permitiu que os missionários viajassem livremente pelo país e esses, por sua vez, tinham táticas de doutrinação agressivas que só podiam ser comparadas aos mercadores britânicos. Não tendo muito sucesso na conversão de seguidores, os missionários chegaram a dar incentivos monetários aos chineses para que se convertessem católicos. Por sua vez, os chineses viam com grande resistência a religião que tinha sido trazida pela força das armas, às custas do bombardeamento de cidades chinesas.  Para além disso, culpavam os estrangeiros pela revolta de Taiping, que assolou o país e foi responsável por milhares de mortes.

O nome “Boxers” surgiu do apelido dado pelos ocidentais para a sociedade secreta dos ‘Punhos Harmoniosos e Justos’, que combinavam o pugilismo com a possessão espiritual, e cujas raízes remontam ao movimento do Lótus Branco. Eles acreditavam que, quando o seu corpo era possuído, tornavam-se invulneráveis as espadas e as balas. Apesar de serem um movimento segmentado em grupos com objetivos distintos do norte da China, dividiam-se, sobretudo, entre um sentimento anti-qing e pro-qing, mas convergiam em um ponto: todos os estrangeiros e os que se relacionam com eles deveriam ser exterminados. Estes, eram colocados em três tipos: “os estrangeiros eram conhecidos como os “Primeiros Homens Peludos” (ta mao-t^ti), os chineses cristãos e engajados em “assuntos estrangeiros” eram os “Segundos Homens Peludos” (erh mao-t^u), e aqueles que usassem os produtos estrangeiros eram os “Terceiros Homens Peludo” {sanmao-t^ti). Todos os “Homens Peludos” deveriam ser exterminados.” (HSU, [s.d.], p. 138)

Os Boxers utilizaram propaganda para espalhar a sua mensagem. Panfletos informavam as atrocidades cometidas pelos estrangeiros, inclusive pela Igreja Católica, às mulheres e às crianças. Culpavam também a presença estrangeira pela má sorte em que o país se encontrava, com enchentes e más colheitas.

Contando com o apoio da população, em 1900, os Boxers marcharam para Beijing sob o lema “Apoiem os Qing, destruam os estrangeiros”. Em pouco tempo, cortaram as comunicações dos estrangeiros com o exterior, apoderaram-se das ferrovias, queimaram as igrejas e expulsaram os estrangeiros (GELBER, 2008, p. 282). Em seguida, estabeleceram um cerco em Beijing, onde iriam livrar os chineses dos bárbaros. Os métodos adotados eram bastante violentos e consistiam, sobretudo, na decapitação e em queimar os estrangeiros vivos.

Cixi, em 19 de junho de 1900, publica um decreto onde declara guerra aos estrangeiros e pede que estes deixem a cidade. “Toda o bairro onde se encontravam as legações estrangeiras, com 475 civis estrangeiros e 450 soldados de oito países, além de três mil cristãos chineses, ficou debaixo de fogo e os seus ocupantes tiveram que resistir e repelir os assaltos durante cerca de oito semanas, até receberem ajuda externa.” (GELBER, 2008, p. 282)

As potências europeias e japonesa, estavam preocupadas com as vidas dos seus concidadãos, mas, por outro lado, viram os acontecimentos como uma oportunidade para entrar em Beijing. Esta foi a primeira vez que uma aliança deste tipo, com tantos países envolvidos, foi criada. A Rússia rapidamente invadiu parte da Manchúria para impedir que os Boxers prejudicassem a construção da sua linha ferroviária, sob a bandeira de o fazer para proteger os seus cidadãos. O Japão disponibilizou-se logo para avançar com suas forças militares, o que assustou as potências ocidentais, que também queriam estar presentes. As forças aliadas, compostas por 8 mil japoneses, 4.800 russos, 3 mil ingleses, 2.100 estadunidenses, 800 franceses, mais alguns italianos e austríacos invadiram a capital chinesa (GELBER, 2008, p. 283). A revolta foi assim controlada e os seus membros foram executados. Os aliados aproveitaram que estavam na capital chinesa e saquearam-na, o que lembra o que aconteceu com o incidente do navio Arrow, quando o Palácio de Verão foi inteiramente saqueado e destruído.

Em 1901 foi assinado o Protocolo Boxer, que incluía o pagamento de pesadas indenizações por trinta e nove anos, a construção de áreas maiores e mais seguras para os estrangeiros, e a pena de morte para os Boxers. Para além dessas concessões e de um pedido formal de desculpas, as potências imperialistas ainda tentaram conseguir concessões em outras matérias.

Conclusões
O século XIX foi marcado por profundas rupturas culturais, econômicas e políticas. Para além das revoltas e problemas internos, o país foi assolado pela dominação estrangeira, cujo choque cultural, econômico e político teve impactos muito significativos em todo o país. A abertura da China ao jugo das potências imperialistas foi assinalada como o início da história moderna, na medida em que o declínio da dinastia se transformou em um declínio civilizacional.

A dominação estrangeira teve um papel fundamental no acentuar dos conflitos internos, impondo novas formas de organização, de produção e até mesmo uma nova religião. Os missionários cristãos tiveram um papel fundamental na disseminação da sua fé e costumes, o que, por sua vez, teve origens em revoltas e desembocou num nacionalismo acentuado contra os estrangeiros e a sua religião. A despeito dos esforços feitos pelo governo Qing em se modernizar e responder aos anseios da população, tais medidas revelaram-se insuficientes e o fim do regime foi inevitável.

Referências
Daniele Prozczinski, bolsista CAPES, doutoranda em História Global pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: danieleprozi@gmail.com

BODIN, L. E.; WARNER, C. The Boxer Rebellion. London: Osprey, 1979.
BUENO, A. 100 textos de história chinesa. União da Vitória: FAFIUV & Kaygangue, 2011.
D. NORTHROP, H. Chinese horrors and persecutions of the Christians. Philadelphia: National Pub. Co, 1900.
FAIRBANK, J. K.; GOLDMAN, M. China - uma nova história. Traducao Marisa Mota. 2a ed. Porto Alegre: L&PM, 2007.
FAY, P. W. The Opium War, 1840-1842: barbarians in the Celestial Empire in the early part of the nineteenth century and the war by which they forced her gates. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1997.
GELBER, H. G. O Dragão e os Diabos estrangeiros: A China e o mundo, de 1100 a.C.até à actualidade. Lisboa: Guerra e Paz, 2008.
HSU, I. C. Y. Late Ch’ing foreign relations 1866-1905. In: FAIRBANK, J. K. (Ed.). . Late Ch’ing, 1800 - 1911 ; Part 2. The Cambridge history of China. 1. publ ed. [s.l: s.n.].
KISSINGER, H. Sobre a China. Traducao Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
KUHN, P. A. Rebellion and its enemies in late imperial China: Militarization and social structure, 1796-1864. Cambridge, Mass.: Harvard Univ. Press, 1980.
MARX, K. Free Trade and Monopoly. New York Daily Tribute, n. Articles On China, 1853-1860, de setembro 1858.
PLETCHER, K. The History of China. Chicago: Britannica Educational Pub., 2011.
ROBERTS, J. A. G. História da China. Lisboa: Edições texto & grafia, 2012.
ZHANG, Q. An introduction to Chinese history and culture. [s.l: s.n.].


32 comentários:

  1. Excelente texto. Algo que fiquei curioso foi quando comenta que "O nome 'Boxers' surgiu do apelido dado pelos ocidentais para a sociedade secreta dos 'Punhos Harmoniosos e Justos', que combinavam o pugilismo com a possessão espiritual, cujas raízes remontam ao movimento do Lótus Branco."
    A critério de curiosidade gostaria de saber como funcionava a questão de combinar pugilismo com possessão espiritual, possui alguma leitura para indicar que trate um pouco mais profundamente sobre isso? Obrigado desde já.

    Wendell Presley Machado Cordovil.

    ResponderExcluir
  2. Muito obrigada pela pergunta e interesse na leitura no artigo. Respondendo a questão, eles acreditam que através de um ritual de possessão ficavam imunes às balas e aos ferimentos, tornando-se invencíveis. Para além disso, eles praticavam o pugilismo, que era a sua arma de ataque. Assim, tínhamos a suposta invencibilidade através da possessão espiritual aliada à força do pugilismo.
    Sobre os livros, apenas li em um sobre esse aspecto específico. Existem alguns livros sobre a Revolta dos Boxer. Ficam aqui algumas sugestões:
    BICKERS, Robert A.; TIEDEMANN, R. G. (Orgs.). The Boxers, China, and the world. Lanham: Rowman & Littlefield, 2007.
    SILBEY, David J. The Boxer Rebellion and the great game in China. [s.l.: s.n.], 2012.
    Boas leituras e obrigada.
    Daniele Prozczinski

    ResponderExcluir
  3. Professora Prozczinski,
    Seu texto é excelente e me suscita várias questões, a principal delas diz respeito a forma como as investidas imperialistas das potências europeias foram encaradas pelo governo Imperial, a estratégia por vezes condescendente, baseada no confucionismo e na visão da China como o grande 'Império do meio', fruto de séculos de primazia da civilização chinesa na Ásia, criaram uma certa lógica 'sinocêntrica' que parece ter 'cegado' as elites chinesas para a superioridade material européia,a elite chinesa caracterizou os europeus como 'bárbaros', assim como outros ao longo de suas fronteiras e parece tê-los subestimado, não se dando ao trabalho de modificar sua estratégia diplomática até as fragorosas derrotas das Guerras do Ópio; essa questão é muito bem trabalhada pelo citado autor Henrry Kissinger, em seu esclarecedor livro Sobre a China. Meu questionamento no entanto vai de encontro a essa explicação, pois parece muito reducionista considerar que toda a elite chinesa encarou o problema da invasão estrangeira da mesma forma, aplicando a mesma velha diplomacia com base confucionista, pergunto-me se não há espaço para o estudo de outras estratégias, talvez mais realistas, pragmáticas, que possam ter sido empregadas pelas elites chinesas, como feito no Japão.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa noite Pamella Holanda, muito obrigada pela leitura e pelos comentários.
      Em primeiro lugar, faço uma ressalva sobre a visão de Kissinger sobre a China, que segue a diplomacia estadunidense, e, por isso, é preciso algum cuidado na sua leitura.
      A elite chinesa não encarou as invasões imperialistas da mesma forma, tanto que muitas começaram a criar exércitos próprios para se defender. Também explica o apoio que começaram a dar há algumas revoltas que aconteceram na época. Creio que a visão do Kissinger é bastante limitadora neste aspecto e está alinhada com a persistente tentativa de afirmar a posição de superioridade europeia e dos EUA perante países como a China.
      Assim, existem sim livros que demonstram as diversas posições das elites, mas dentro de temas mais abrangentes. Considero que este pode ser um tema interessante de pesquisa no futuro, apesar da dificuldade no acesso as fontes.
      Daniele Prozczinski

      Excluir
  4. No ano 1839, na China, o objetivo era acabar com o tráfico de ópio. Assim o oficial Lin Zexu executou vários contrabandistas que recusaram-se a entregar o que tinham de ópio. Como resposta a isso, os britânicos fecharam os principais portos chineses. Me é estranho os britânicos quererem que a China abra os portos sendo que estes estão bloqueados por navios. Então me vem a pergunta: quais os objetivos dos britânicos ao enviar frotas navais, armadas e bem equipadas, para a China?
    Marcelo Eduardo Viotto Ignez

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa noite Marcelo, obrigada pela pergunta.
      Os objetivos britânicos:
      - Usar a força para intimidar e atingir os seus objetivos comerciais na China.
      - Mostrar a sua superioridade militar e que não iriam mudar a sua posição.
      - Não aceitar a posição chinesa sobre o comércio lucrativo (para os britânicos) do ópio;
      - Aumentar o número de portos onde podiam fazer comércio;
      - Passar a fazer comércio nos moldes britânicos e não na forma chinesa.
      - Conseguir concessões monetárias e territoriais.
      Destaquei assim os principais.

      Excluir
  5. Ótimo texto, porém fiquei com uma dúvida, mas só a nível de curiosidade mesmo:
    O contexto onde Mao Tse Tung surge é esse? O mesmo utiliza-se dessa "Xenofobia mercante" para subir ao poder?
    Davi Santos Rocha

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa noite Davi, obrigada pela pergunta.

      Não entendi bem o conceito de Xenofobia mercante, se quiser explicar melhor agradeço.

      O sentimento de humilhação chinesa faz sim parte do contexto no qual Mao Zedong ascende ao poder. Não é a toa que o século XIX ficou conhecido como o "século de humilhação". Mao retoma em seus discursos e ações a importância do combate as forças imperialistas.

      Excluir
  6. Bom dia Daniele, ótimo texto, gostaria de saber mais sobre o movimento da lótus branca e a importância dessas revoltas para o surgimento do comunismo chinês

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde Alberto, muito obrigada pela pergunta e pelo interesse na leitura. Tive que tirar a revolução da lótus branco pois já tinha passado do tamanho máximo do texto.
      O Lótus Branco era uma sociedade secreta religiosa existente na China desde o séc. XIV, que, apesar da perseguição durante a dinastia Ming (1368 – 1644) e Qing, conseguiu sobreviver, voltando, no final do século XVIII, a ter um papel ativo.
      A revolta iniciou-se em 1796, estimulada pelos impostos cobrados aos camponeses oprimidos, que passaram a ver legitimidade no movimento e resolveram rebelar-se contra o poder existente. A geografia da região privilegiou a revolta e serviu como barreira natural, localizada numa região montanhosa e separada pelo rio Amarelo e pelo rio Yangzi, circundada de pequenas cidades que eram favoráveis à causa rebelde.
      Esta revolta foi muito importante uma vez que, para solucionar a situação, o imperador fez cedências e pagou reparações aos comerciantes prejudicados, situação que se repetiria quando da assinatura dos tratados desiguais com as potências ocidentais.
      No que respeita a segunda parte da pergunta, considero que o século de humilhação fez com que se buscassem alternativas e por isso a ideologia comunista (mas não apenas por essa razão) acabou conquistando vários corações.
      Espero ter respondido.
      Daniele Prozczinski

      Excluir
  7. Olá, boa noite, excelente texto, e como futura professora de História, gostaria que me fosse apresentado meios didáticos, como por exemplos HQ's, filmes, que exemplificasse esse período.
    Mariane Martins de Sant' Anna

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde Mariane,
      Obrigada pela leitura do texto e pelo comentário.
      O grande problema é que os materiais disponíveis estão em inglês, então não seria viável para as salas de aula.
      No youtube, há documentários (em inglês) sobre a história da China.
      Falta, assim, um maior interesse em se querer aprender História da China, para que legendem esses documentários ou façam dublagens. Também faltam pesquisadores brasileiros interessados no período, mas acredito que isso mudará num futuro próximo.
      Alguns vídeos:
      https://www.youtube.com/watch?v=0l4C3vZudZI
      https://www.youtube.com/watch?v=U_QXW1VMPQ0
      https://www.youtube.com/watch?v=HETE0cIKM20

      Excluir
  8. Olá Daniele,
    parabéns pelo texto.
    Minha curiosidade é acerca da tentativa de inserção do cristianismo, por assim dizer, durante o período que você aborda.
    Você cita por mais de uma vez a Igreja Católica, mas eu esperaria uma atuação maior do cristianismo anglicano.
    Sendo a Inglaterra um dos países mais interessados na China (na minha visão leiga), quais foram suas ações no sentido de promover uma conversão ao anglicanismo.
    Com relação aos católicos, qual nação se "esforçou" mais em enviar missionários?
    Se me permite mais uma pergunta. Como ocorria esse processo de cristianização, de matizes diversas, na China durante o período?

    Agradeço desde já o retorno.

    Fábio Henrique Silva dos Santos
    e-mail usado para este seminário: fabhssantos@yahoo.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom dia Fábio,
      Obrigada pelas perguntas e pela leitura.
      Não tenho o número de todas, mas, por exemplo, depois do primeiro tratado desigual, o número de protestantes na China começou a aumentar exponencialmente de 50 para 2,500 (dados de 1900). Aproveitando que o tratado deixava os missionários entrarem no país, eles foram chegando nas grandes cidades que estavam abertas ao comércio e daí partiam também missões para o interior.
      Não sei precisar que país se esforçou mais para enviar missionários, mas posso dizer que assim como houve uma "guerra comercial", também houve uma "guerra religiosa" para ver quem mais convertia fieis.
      O processo de cristianização era bastante árduo, até porque as ideias centrais do cristianismo não faziam sentido para os chineses - como a ideia de Deus. Li relatos da época que afirmavam que as conversões eram feitas, muitas vezes, dando comida. Acredito que as enormes diferenças culturais e linguísticas faziam com que a mensagem fosse entendida de diferentes formas. Por exemplo, o líder da revolta Taiping interpretou o cristianismo como ele sendo o filho de Deus e que a sua missão era construir um reino celeste na terra.

      Excluir
  9. Bom dia! Parabéns. Um ótimo trabalho. Acerca da indenização a ser paga no decorrer de 39 anos. Como se deu? Foi concluída ou ocorreram renegociações posteriores?
    Sílvio Cesar Masquietto
    scmasquietto@hotmail.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom dia Silvio,
      Obrigada pela leitura e pela pergunta.
      A maior parte das indenizações foram pagas, mas houve sim negociações posteriores durante a Primeira República. As concessões territoriais foram mantidas, o que era o mais importante para as potências estrangeiras. Por ex, o Reino Unido apenas devolveu a administração de Hong Kong em 1997 e Portugal em 1999, Macau.

      Excluir
  10. Prezada Daniele Prozczinski,

    Li o seu texto, ótimo! Parabéns pela a análise que você faz sobre a resistência chinesa! Gostaria de saber como esses agentes, os populares, se constituíram em suas organizações, por meio de práticas de resistência, e se tornaram força determinante para o final das dinastias. Que elementos permitiram o povo a se organizar para uma luta contra a dinastia, além de seus interesses em comum?

    Rivaldo Amador de Sousa

    ResponderExcluir
  11. Olá Professora Daniele! De antemão gostaria de parabenizá-la pelo excelente texto, o qual serviu para tirar algumas dúvidas sobre o avanço do Imperialismo na China! Pude perceber através da leitura do texto, que com a entrada maciça de estrangeiros no território chinês, provocou várias mudanças na China, principalmente após a chamada Reforma dos Cem Dias, em 1898, inspirada nas medidas aplicadas pelo governo japonês (Revolução Meiji), o governo de Pequim (Beijing), onde foram reorganizadas as regras de comércio, a agricultura e a administração, tanto militar como civil por exemplo. Gostaria que você explicasse como essas mudanças digamos "Modernizantes", foram recebidas pelos chineses e se houve alguma resistência do governo e da população em relação há isso?

    Francisco Pinto Lopes

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde Francisco,
      Muito obrigada pela leitura e pelos comentários. Fico contente que tenha gostado do texto.

      Sobre a sua pergunta, temos que ter em conta o contexto. País assolado por conflitos e humilhação estrangeira. Quando as reformas anunciadas pelos Qing chegaram, foram bem recebidas, mas não eram suficientes perante as crescentes exigências. Por exemplo, em 1908 houve um aumento dos impostos para financiar as reformas, o que causou imensas insurreições contra o governo. A elite também não estava muito satisfeita, sobretudo com a tentativa de recentralização da autoridade política e militar e com a nomeação de manchus para altos cargos. O contexto internacional também é relevante, com o aumento de governos constitucionais, o que se começava a exigir também na China. Cixi até enviou chineses para fora para estudar o sistema constitucional visando acalmar as elites e conseguir manter-se no poder. Logo, existem uma série de fatores que devem ser considerados e a falta da credibilidade na dinastia Qing tornou o seu fim inevitável.
      Daniele Prozczinski

      Excluir
  12. Boa tarde! ótimo texto. Gostaria de saber mais sobre à Guerra do Ópio 1839-1842, poderia por gentileza elucidar esta questão?
    Priscila Fachini de Souza

    ResponderExcluir
  13. Boa tarde. Muito legal o seu trabalho. Os livros didáticos passam a imagem de uma China atrasada e que fora facilmente derrotada nas pelas potências estrangeiras no XIX. Em algum momento a China chegou oferecer perigo de possibilidade de resistência as potencias estrangeiras ou era inevitável a sua submissão como aconteceu? Grato Marlon Barcelos Ferreira

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde Marlon,
      Obrigada pela questão e pela leitura do texto, é bom ver que cada vez mais pessoas se interessam pela história da China.
      Acredito que a abordagem ao conflito com os estrangeiros não foi feita da melhor forma. No prelúdio da Guerra do Ópio, pensavam que a Inglaterra não iria ter condições de abastecer os seus navios de forma eficiente, sem falar que menosprezaram também o seu poder militar. Assim, julgavam que se conseguissem aguentar o conflito por algum tempo, os ingleses não iriam obter os recursos que precisavam e teriam que se retirar, o que não aconteceu.
      As forças chinesas não tinham o poderia militar da Inglaterra, estavam em grande desvantagem. Para além disso, alguns portos foram tomados com pouco resistência, através do suborno dado a oficiais. Desta forma, parece-me inevitável o desfecho.
      Boas leituras.
      Daniele Prozczinski

      Excluir
  14. Daniele Prozczinski,

    Bastante interessante a discussão, síntese e revisionismo dado a esta temática.

    Estou em um processo inicial de estudos sobre a História da China e me chamou a atenção a questão do contingente populacional dado à época, onde seu texto afirma que:

    "As estimativas modernas revelam que a população da China era de cerca de 410 milhões em 1850 e, após as rebeliões Taiping, Nian, mulçumana e outros conflitos menores, chegou a 350 milhões em 1873.”(FAIRBANK; GOLDMAN, 2007, p. 204).

    Portanto, mesmo este número de 410 milhões ser "pouco" em comparação ao nível de população que a China tem atualmente, é bastante considerável se compararmos as outras sociedades daquela época.

    Por isso, gostaria de saber quais historiadores, fora Fairbank, trabalham a formação populacional da China.

    No caso, quais peculiaridades mais específicas fizeram com que a China obtivesse tamanha massa de povos, ressaltando ainda, como na citação posta, as diversas mortes em revoltas/revoluções e pela fome.

    Grata.

    Ass: Gisely Capitulino da Fonseca.



    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde Gisely,

      Muito obrigada pela leitura e pela pergunta.

      Os censos foram algo instituído pelo Partido Comunista Chinês, ou seja, os dados que temos ainda são bastante recentes. Dá altura, há estimativas do número população, mas não há documentos que comprovem números x ou y. Assim, é difícil encontrar autores que trabalhem sobre esta questão no século XIX dado a falta de fontes. Quando estava pesquisando, não encontrei nenhum autor que trabalhe com isso especificamente nesta altura (mas pode haver).
      Lamento não ter uma resposta melhor, mas não tenho nenhum livro sobre esta questão específica.
      Se for depois da chegada dos comunistas ao poder, pode-se encontrar estudos sobre o tema. Qualquer coisa é só enviar-me um e-mail.
      Boas leituras!
      Daniele Prozczinski

      Excluir
  15. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  16. Olá professora Daniele Prozczinski,
    A análise feita no seu texto sobre a resistência ppopular contra o estrangeirismo e a própria dinastia chinesa é sensacional. Meus parabens!
    O meu questionamento sobre o texto é, como o sentimento anti-estrangeiro, taxados como "bárbaros do mar ocidental" ou "Diabos Estrangeiros", conciliou-se com a inconformidade contra a própria dinastia chinesa, que também vinha crescendo no seio dessas revoltas?

    Igor André Marques Monteiro

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa noite Igor,
      Muito obrigada, fico feliz com o interesse crescente na China.
      Em defesa dos chineses, os estrangeiros também os consideravam como bárbaros e não respeitavam os seus costumes, sendo esta uma das razões para os conflitos.
      Como podemos calcular, virem estrangeiros e começarem a ditar normais e não respeitar os nossos costumes gera grandes revoltas. Depois da assinatura do primeiro tratado desigual, esse sentimento só aumentou, dado as pesadas concessões que a China sofreu. Eram desiguais pois só um lado saia beneficiado.
      A população, assistindo a todos os acontecimentos, sentindo-se desprotegida e à mercê dos estrangeiros, começou a culpar a dinastia, que já não respondia aos anseios da população. Então a resposta à tua pergunta é sim, houve uma conciliação de sentimentos que fez com que as revoltas emergissem.
      Boas leituras!
      Daniele Prozczinski

      Excluir
  17. Primeiramente parabéns pelo texto, o texto está muito bom. É interessante perceber sobre todos os aspectos citados no texto, me chamou atenção a participação de camponeses e de outros sujeitos da sociedade chinesa nos diversos conflitos que foram mencionados no texto, seria interessante também observar a história do ponto de vista desses sujeitos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa noite Alessandro,

      Obrigada pelo comentário.

      Sim, concordo que seria interessante partir deste ponto de vista em um texto futuro. Excelente sugestão, obrigada!
      Daniele Prozczinski

      Excluir
  18. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  19. Boa noite! Primeiramente parabéns pelo seu trabalho, eu achei muito esclarecedor no que diz respeito às revoltas contra os estrangeiros, mais especificamente à dos mulçumanos. Você teria algum filme ou documentário para indicar, com o intuito de levar tal conteúdo para a sala de aula.
    Desde já, agradeço
    Milena Silvério Ferreira

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.